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Verdade Cor de Rosa: Quanto mais me bates… mais gosto de ti

Já passavam das duas da manhã quando ela me ligou a pedir para levá-la ao hospital. Pela segunda vez, em uma semana, tinha sido espancada e humilhada pelo namorado. Estavam a viver juntos há quase um ano e contou-me que já tinha “acontecido algumas vezes.” “Mas ele amame. Pediu-me desculpa na terça-feira. Desta vez não vou perdoar”.

O discurso tornava-se uma hipérbole enquanto caminhávamos para a esquadra… Ia ouvindo o seu choro convulsivo e com promessas de “que esta era última vez”. Chegámos à bendita esquadra e eu corria mais do que a minha amiga, pois a dor e revolta que sentia no peito ultrapassava a boca esmurrada e o olho – quase negro – dela. A custo preenchemos uma ficha de identificação.

Sentámo-nos e enquanto isso as duas mulheres polícias – em pleno esquadra, sussurravam no seu ouvido: “Tens que tratar bem o teu marido, minha filha. Ele é homem. Tem razão.” Mas o que é isto? Perguntei-me… O que supostamente devia ser uma ‘união’, um serviço de denúncia e apoio tornou- se um discurso non sense de duas funcionárias de uma instituição que – aparentemente – concordavam com a agressão e lamentavam apenas o facto de ela não ter tido paciência.

A estória ainda não tinha sido contada e já ela ‘devia’ ser paciente? Conto um episódio que acontece quase todos os dias, bem ao nosso lado e, quiçá, nas nossas casas, bairro, local de trabalho. Às vezes é por causa do cabelo, outras porque o jantar não está bom, há os agressores que alegam que chega muito tarde a casa e por isso merece “apanhar”.

Em que Mundo vivemos? Somos Mulheres e pronto. Temos dois dias para nós – e pronto. Somos a “outra” e ainda cantamos orgulhosas… Mesmo assim hoje já me posso sentir ‘descansada’ porque, esta terça-feira, foi FINALMENTE aprovada a Lei sobre a Violência Doméstica contra a Mulher e Criança. Essa mesma Lei que – depois de ter sido adiada três vezes – “criminaliza as várias formas de violência manifestada desde a física e psicológica à violência sexual”.

Em todos os sites leio que “é o culminar de uma caminhada que teve início há cerca de dez anos, quando começou o movimento rumo à lei agora aprovada”. Estou de acordo com a aprovação da Lei, mas será que os casos de agressão vão ser julgados ‘atempadamente’ ou vamos caminhar mais dez anos para sentir os efeitos da mesma?

De qualquer das formas PARABÉNS a toda a Sociedade Civil que lutou para este marco acontecer. Um bem-haja.

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