Fui assolado nestes dias por um pensamento, no seguimento do que se passou em Cabinda. Parece sempre que a África tem uma oportunidade, consegue estragá-la. Em Angola, essa oportunidade aconteceu vezes sem conta, tendo sido destruída uma vez mais da mesma forma. Ao tiro. Desta vez, a diferença fundamental é que as vítimas inocentes de uma guerra que já ninguém percebe, não foram civis ou crianças angolanas.
Desta vez as balas atravessaram o corpo dos atletas de Togo e cravaram fundo na alma da nação angolana, bem no coração do continente africano. Chega a parecer irreal a leveza com que se carrega num gatilho que dizima várias famílias inocentes, e se segue para uma conferência de imprensa onde a FLEC nos informa da tristeza que sente pela desgraça que se abateu sobre o povo irmão de Togo.
Porque apenas queriam atingir os militares angolanos. Que curiosamente estavam fora do autocarro metralhado. É como querer matar mosquitos com granadas, dentro de um machimbombo, cheio até ao tecto. E chega a parecer impensável que se aceite que a coisa possa ser conduzida desta forma.
Chega a parecer inconcebível a forma despropositada como a organização angolana desprezou a segurança da selecção de Togo. Chega a parecer irreal que se tenha alguma vez pensado em jogos em Cabinda. Com que pretexto? Aparentemente com a ideia de que desta forma se contribuía para a resolução do problema. Pois fez-se exactamente o contrário. Este corte para canto ou chuto para a frente em relação àquela região foi totalmente despropositado. Todos tentamos conceber uma razão. Uma apenas para que organização, Governo, FIFA e CAF, tenham arriscado tanto.
Todas as que cheguei não partilháveis. Resulta disto que a culpa, do meu ponto de vista não poderá morrer solteira. Há muitas explicações a serem dadas e a maior de todas terá de nos ser dada pela FIFA, responsável maior de toda esta batalha e que ficará eternamente relacionada com o sangue derramado. Escrevi há uns tempos que África teria os olhos postos nela, por dois eventos transcontinentais. A Taça das Nações Africanas e o Campeonato do Mundo de Futebol.
Esperemos que uma não estrague a outra. Porque a influência de um acontecimento deste género desencadeia sentimentos e reacções não apenas em relação aos países em questão mas em relação a todo o continente. Será imperioso que este campeonato decorra sobre o signo da paz e bom espírito, e que África do Sul se torne num sucesso ainda maior do que se espera. Para bem de todos os Africanos. Para bem do futuro desse continente.
Para que de uma vez por todas o mundo perceba, que vale a pena acreditar e investir, naquela que para muito é a terra dos sonhos. Que África não torne e adormecer e tornar- se num enorme pesadelo para ela própria.