Fazendo fila desde o amanhecer com mochilas e sacolas plásticas cheias de dinheiro, os venezuelanos correram para os bancos do país nesta terça-feira para deixar notas de cem bolívares depois da medida surpreendente do presidente Nicolás Maduro de tirá-las de circulação.
Soldados observavam enquanto as pessoas se aglomeravam nas filas com a maior cédula de dinheiro da Venezuela, que vale no momento apenas três centavos de dólar nas ruas e que precisa ser depositada antes de se tornar oficialmente sem valor.
Maduro anunciou a medida no domingo, para a consternação de venezuelanos que se acostumaram a guardar grandes quantidades de dinheiro vivo em casa uma vez que o valor do bolívar tem desabado no país em crise. Muitos comerciantes pararam de receber o dinheiro imediatamente.
Acusado pelos críticos de tomar medidas sem sentido e apressadas, Maduro, 54 anos, justificou a decisão como uma tentativa de combater as máfias internacionais, especialmente na fronteira colombiana, acumulando bolívares para contrabando.
“Para o povo da Venezuela, especialmente aposentados, motoristas, pessoas de negócios, donas de casa e trabalhadores, eu digo a vocês que não precisam se preocupar”, disse Maduro num comunicado nesta terça.
“As medidas são do seu interesse.” A Venezuela fechou a sua fronteira com a Colômbia na segunda-feira, onde o governo disse que 117 pessoas foram presas e 104 milhões de bolívares foram confiscados.
O país, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), atravessa uma grande crise: a inflação prevista por economistas para este ano é maior de 500 por cento e o câmbio em um ano já caiu mais de 75 por cento em relação ao dólar, fazendo com que milhões comam menos.
As notas vão ser oficialmente retiradas na quinta-feira, e depois disso os venezuelanos terão dez dias para levar as restantes ao banco central.
Muitos questionam como o país pode coletar mais de seis biliões de notas num período tão curto. “Este país está caótico e a cada dia fica pior. Qual o sentido?”, disse Walter Castagnoli, 43 anos, motorista desempregado numa fila em Caracas para depositar as notas.