Moçambique é rico em diversidade cultural, mas, com o aparecimento de novos estilos musicais, os jovens da província de Nampula estão a abandonar a música tradicional, colocando-se em causa, assim, a identidade cultural. Nesse sentido, para manter a tradição e preservar a cultura, um conjunto de artistas – amantes e praticantes da Rumba – uniram-se recentemente a fim de desencadear acções para a sua manutenção. O grande contra-senso é que se no passado a Rumba animava as massas, presentemente isso não acontece. Em resultado disso, os cantores refugiam-se noutros géneros musicais.
Em 1992 um grupo de jovens constituído por 10 elementos, todos residentes do Bairro de Carrupeia, no Posto Administrativo de Namicopo, na província de Nampula, associaram-se e criaram os Vitoriosos. O objectivo dessa colectividade artística era resgatar e popularizar a Rumba – um género musical à beira de desaparecer em Nampula.
Porque já a praticavam, ainda que de forma isolada e individual, todos os elementos do grupo Valiosos tinham alguma experiência em relação à Rumba. Além do mais Roberto António, um dos membros fundadores da colectividade, herdou grande parte dos instrumentos musicais utilizados na produção daquele ritmo do seu falecido pai. Por isso, a formação não enfrentou dificuldades relacionadas com a escassez de material.
Com as referidas ferramentas, feitas a partir de material local (como, por exemplo, sacos, baldes e tambores), a colectividade começou a trabalhar. Enquanto esta formação artístico-musical se consolidava, ela criou condições para adquirir instrumentos electrónicos. O problema é que não tinham espaço para realizar as actividades de preparação. De uma ou de outra forma, o conjunto concluiu que – dentro dos obstáculos que enfrentava – a solução podia ser ensaiar na casa do fundador da banda, Roberto António.
Durante o seu treinamento, a colec tividade estudou estratégias para dominar o mercado, focalizando as suas acções nos concertos realizados nas casas de pasto. Na época em que o grupo foi criado, possuía muitos admiradores. Por isso, realizava ‘shows’ em todos os bairros da cidade e nos 21 distritos da província de Nampula.
A Rumba é, na verdade, um estilo de música tradicional que era praticado no interior da província de Nampula em jeito de protesto contra a marginalização social dos moçambicanos – no tempo colonial – muitas vezes, tratados como cidadãos de segunda categoria. Presentemente, por causa da pobreza extrema enfrentada pelos membros do grupo Valiosos, eles decidiram utilizar certos instrumentos de uso doméstico como, por exemplo, os tambores e o ‘cajón’ que é uma ferramenta usada na percussão, para fazer a sua música.
De acordo com a vocalista da banda, Rozney, os Valiosos surgiram com o objectivo de perpetuar a Rumba e infundir mensagens educativas na sociedade a fim de que a sua tradição e identidade culturais, além de se preservarem, perdurassem no tempo. Inspirado nessa filosofia, nas suas músicas, o agrupamento Vitoriosos de Carrupeia canta sobre temas relacionados com os acontecimentos do dia-a-dia como a violência doméstica, os casamentos e gravidezes precoces, a marginalização social da juventude, os desentendimentos no seio da família, entre outros.
Actualmente, a colectividade possui 21 faixas músicas registadas. Por isso, também tem o plano de gravar dois videoclipes até o final do ano 2013. “Receamos a pirataria, por essa razão há vários temas musicais que não editamos. Assim que tivermos a oportunidade de publicar o nosso primeiro trabalho discográfico, iremos gravar as referidas composições para incluí-las no álbum”, refere Nwetha, o líder da banda.
“As pessoas gostam de Rumba, porque esse estilo de música identifica a tradição macua, a mensagem é sobre os seus ensaios, fraquezas, vitórias do povo macua, e o ritmo é tipicamente tradicional. Por isso, não há quem se alheie perante o que ouve e assiste saindo do nosso grupo”, salienta Nwentha.
Diversidade musical
Desde 1992 até o ano de 2000, a banda Valiosos somente explorava a Rumba. A medida tinha o objectivo de preservar esse estilo de música tradicional. Entretanto, devido à concorrência do mercado, o grupo viu-se obrigado a explorar outros estilos musicais como, por exemplo, a Marrabenta, o Pandza e o Insiripithi.
O grupo afirma que desde que abraçou este género musical, começou a ganhar uma grande concorrência no mercado e, ultimamente, tem recebido jovens que querem cantar o mesmo género musical. “Nós cantamos por amor à camisola, não temos tirado proveito do nosso trabalho. O importante é transmitir a mensagem à população para a preservação da música que nos identifica como um povo”.
Por outro lado, Nwetha afirma que o mercado da música, em Nampula, é muito pequeno e fechado não sendo, por isso, possível que os artistas se dediquem com alguma exclusividade à música. Ela não é uma fonte segura de sobrevivência. “O que piora a situação é que o Governo não apoia os agrupamentos musicais – mesmo que solicitem amparo”.
Neste sentido, para manter a colectividade, os artistas realizam concertos continuamente nos fins-de-semana cujos ingressos custam 50 meticais. Um aspecto marcante é que os idosos, saudosistas, é que aderem os eventos.
Uma das alternativas de sobrevivência encontrada pelo grupo é realizar concertos nos lugares mais recônditos de Nampula – os distritos. Geralmente, os governos distritais é que têm convidado os Valiosos para o efeito. Esse trabalho também serve de base para a colecta dos recursos financeiros que serão investidos na compra de novos instrumentos musicais.