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Usar o teatro para erradicar a discriminação de criança deficiente

O problema parece ser ainda invisível aos olhos da sociedade. Mas, na verdade, diariamente, dezenas de crianças deficientes são discriminadas nas escolas e, principalmente, no seio familiar. Por essa razão, os alunos da Escola Primária Parque Popular de Nampula uniram-se contra este mal, usando as artes cénicas para ajudarem a erradicá-lo.

Tudo partiu da necessidade de se erradicar a discriminação de crianças deficientes através da consciencialização das pessoas sobre o problema. Não se trata, praticamente, de informar os cidadãos de que ele existe, mas sim de educar e propor alternativas viáveis para mudar a situação a que os petizes em condições em referência estão sujeitos.

Os alunos da Escola Primária Parque Popular apresentaram uma peça teatral que aborda os malefícios da discriminação da criança com deficiência. Devido à falta de um mecanismo concreto para a sua protecção de modo que não sejam alvo desse tipo de atitude, tal facto faz com que os petizes com alguma anomalia física se sintam discriminadas e isoladas da sociedade onde vivem. A encenação ora em alusão retrata a vida de um menor de nome Champali – interpretado por Zito Júnior, de oito anos de idade – que, por alguma razão, nasceu com uma deficiência física.

Na referida história, o menino locomove-se com a ajuda de outros petizes, e os seus pais não tomam conta dele e nem sequer lhe dão a devida atenção. Por outro lado, ele é um rapazito que, como qualquer outro da sua faixa etária, tem o desejo de se sentar no banco duma escola, aprender o abecedário, formar-se e tornar-se alguém na vida. Mas não o pode fazer porque não se sente à vontade na escola. Tudo porque as crianças com quem divide a sala de aulas o discriminam. Em consequência disso, Champali sentiu-se obrigado a abandonar os estudos, tendo passado a viver isolado dos outros meninos da sua idade.

Porém, o que parecia ser uma solução viável para o seu problema, originou uma nova situação de discriminação perpetrada pelo seu progenitor. O pai não deixava o menor brincar ou tomar as refeições com os outros membros da família. Alguns dos seus irmãos aproveitavam-se da sua deficiência para subtraírem o pouco que ele tinha para a sua alimentação. A peça ainda chama a atenção das pessoas para o facto de que as crianças com deficiência são demasiadamente sensíveis a qualquer tipo de discriminação.

Essas situações penosas afectam psicologicamente os petizes, proporcionando uma vida mais propensa a frustrações, pois, além de terem os seus sonhos condicionados, as constantes provocações e desprezo podem afectar o sistema nervoso, fazendo com que o menor desenvolva um comportamento violento. No desenrolar daquela encenação, baseada em factos reais, Champali é, por várias vezes, humilhado pelos membros da sua família. Alguns deles chegam a tratar o rapaz de uma forma desumana.

“Parece exagero, mas algumas crianças passam por coisas piores, visto que outras, na maioria dos casos, vivem acorrentadas alegadamente porque os seus familiares devem sair para os seus afazeres diários”, alertam os petizes. A peça de teatro é composta por cenas dramáticas e sentimentais. Numa das passagens, os autores de palmo e meio alertam os pais e encarregados de educação para esta situação por estes terem um papel muito importante.

Além de educar, eles devem ensinar os seus filhos que, apesar das diferenças, todas as crianças são iguais e cada uma deve respeitar a outra. As direcções dos estabelecimentos de ensino, assim como os respectivos docentes, também são chamados a reflectir sobre o tema e a criarem debates nas salas de aula e não só, como forma de se juntarem a esta causa com o principal objectivo de promoverem um ambiente de paz e harmonia entre as crianças.

Há necessidade de mudar a consciência das pessoas”

Para Edna Pereira, professora e responsável do grupo teatral da Escola Primária Parque Popular, ainda existem pessoas que, devido à ignorância, não respeitam os deficientes, pensando que eles não são capazes de enfrentar os grandes desafios do dia-a-dia. “Há também vários meios para combater o estigma, mas devemos criar mecanismos para propagar as informações que poderão influenciar a mudança de comportamento”, sublinhou a professora.

A nossa interlocutora referiu que, com aquela peça teatral, se procura uma espécie de pedido de ajuda a quem de direito para agir o quanto antes, uma vez que a discriminação das pessoas deficientes, no caso das crianças, tende a aumentar a cada dia que passa. “Não se trata de isolar os petizes e nem proibir que os outros interajam com eles. Mas deve-se criar condições que possam gerar um ambiente de respeito”, disse. Basicamente, o que preocupa aos actores é que a informação chegue, seja apreendida e colocada em prática.

A mensagem deve ser difundida pelo cidadão”

Na óptica de Edna Pereira, a peça teatral serve apenas para fazer perceber aos espectadores que a problemática existe e deve ser combatida. Não só se chama a atenção das entidades responsáveis das escolas, mas também insta-se os cidadãos a juntarem-se na luta por esta causa. “A mensagem deve ser difundida pelo cidadão”, disse. Importa referir que o grupo da Escola Primária Parque Popular de Nampula foi criado em 2012. No entanto, a peça teatral em referência será apresentada na fase provincial do VIII Festival de Cultura, a ter lugar entre os dias 21 e 28 do mês de Junho, na chamada capital do norte.

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