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Universitária adverte de consequências de projectos de urbanização em África

Os projectos de requalificação das cidades em África que se inspiram de Dubai e Singapura ameaçam agravar desigualdades sociais e poderão revelar-se custosas, quer para investidores quer para autoridades municipais, segundo Vanessa Watson da Universidade da Cidade de Cabo, na África do Sul.

Num artigo divulgado, terça-feira, e transmitido à PANA em Dar es Salaam pelo Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento (IIED), Vanessa Watson passa em revista os projectos de requalificação, extensão e substituição de cidades em Angola, na República Democrática do Congo (RDC), no Gana, no Quénia, na Nigéria, no Ruanda e na Tanzânia. Sublinhou que os arranha-céus modernos e as autoestradas não são concebidos em África, mas nos escritórios de arquitectos e engenheiros internacionais.

“Parecem ignorar o facto de que a maioria das pessoas nas cidades africanas têm rendimentos fracos, vivem em alojamentos precários e não têm acesso à propriedade de terrenos. Nada fazem igualmente para superar os enormes défices da prestação dos serviços básicos”, alertou.

Watson advertiu igualmente que as modificações urbanas previstas poderão levar à expulsão ou ao deslocamento de algumas partes importantes de uma população pobre, privando-a de um acesso a serviços e meios de subsistência essenciais.

A seu ver, uma das razões da recente onda de novos “programas” de urbanização é a crise económica de 2008 que empurrou sociedades de investimento imobiliário, gabinetes de arquitectura e sociedades de construção a procurarem novos mercados em África.

Estes programas partilham uma visão comum de cidades mundialmente conectadas e avançadas no plano tecnológico oferecendo oportunidades de empregos e de alojamentos a uma classe média africana em pleno crescimento.

No entanto, sublinhou Watson, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) define a classe média como as pessoas que gastam entre dois e três dólares por dia e a classe média superior como os que gastam entre 10 e 20 dólares por dia.

“É difícil imaginar como famílias com um poder de compra tão fraco poderão pagar apartamentos luxuosos descritos nestes projectos fantasiosos. Parece que os promotores imobiliários se enganam realmente em relação ao mercado africano”, acrescentou.

A universitária concluiu que as populações urbanas pobres de África, confrontadas com novas alianças do capital internacional e com a emergência de uma classe média urbana que aspiram a possuir terras e valorizá-las, poderão perder não apenas as suas terras como também os seus direitos políticos.

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