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Um mundo sem armas nucleares: utopia, ameaça ou realidade?

A pretensão do presidente americano, Barack Obama, de um mundo sem armas nucleares rendeu-lhe o Prêmio Nobel da Paz. Mas seus adversários rejeitam este projeto controverso, considerando-o um utopismo ingênuo e até mesmo uma ameaça.

Ao revelar esta ambiciosa meta, um ano atrás, em Praga, Obama foi cuidadoso ao reconhecer que provavelmente não viveria para vê-la tornar-se realidade. O vice-primeiro-ministro russo, Sergei Ivanov, repetiu os comentários do presidente americano recentemente. Falando a especialistas reunidos em Munique, Ivanov disse que sua geração não viverá para ver o fim da bomba atômica. Mas se nenhum esforço neste sentido for feito agora, as crianças de hoje tampouco viverão para ver um mundo livre de armas nucleares.

Segundo a visão da maior potência atômica da atualidade, há três etapas para o desarmamento nuclear: reduzir a dependência estratégica militar em armas nucleares, suspender a proliferação e, finalmente, eliminar estas armas de destruição em massa. O caminho rumo a um mundo sem armas nucleares é lento e gradual. “Implementações nas relações de segurança entre estados-chave facilitarão o controle de armas e os passos para o desarmamento, que por sua vez geram futuras implementações nas relaçoes de segurança, e assim por diante”, explicou George Perkovich, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional (Carnegie Endowment for International Peace), um dos mais importantes centros de estudos internacionais dos EUA, sediado em Washington.

É certo que são muitas os passos e cheios de armadilhas que seus detratores seriam rápidos em explorar. E com a lembrança da Guerra Fria apagando-se da memória, a ameaça da guerra nuclear não ocupa, necessariamente, o topo da lista das preocupações internacionais. “Não vivemos mais com o medo constante de uma guerra nuclear global”, disse na sexta-feira a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Mas apenas um dia depois, ela alertava para a maior ameaça que agora assombra o mundo: a possibilidade de que as armas nucleares caiam nas mãos de grupos extremistas com a Al-Qaeda.

Se o desarmamento nuclear voltou à agenda agora, 42 anos depois de o Tratado de Não proliferação Nuclear ter sido assinado e duas décadas depois da queda da Cortina de Ferro, também é devido a que países como a Coreia do Norte e o Irã ameaçam relançar a corrida atômica. Isoladas, estas nações, consideradas perigosas por grande parte do mundo Ocidental, perseguem suas ambições nucleares, esnobando as demandas e obrigações internacionais.

O risco maior também é apontado por oponentes do desarmamento nuclear que criticam a política de Obama, inclusive o novo tratado START, que reduz os estoques de armas nucleares de Rússia e EUA, e a revisão da doutrina nuclear americana, que limita o uso de armas nucleares. Se as maiores potências nucleares baixarem a guarda – argumentam os críticos da não proliferação – qual elemento dissuasório usarão para evitar que outros países usem a bomba atômica?

“É como deixar um grupo de crianças prontas para brigar sozinhas no parque”, comparou a conservadora Sarah Palin, ao zombar, esta semana, das ambições de desarmamento nuclear de Obama. “Enquanto isso, uma das crianças diz, ‘vá em frente, me acerte no rosto que eu não vou retaliar. Vá em frente e faça o que quiser comigo'”, acrescentou. Rob Leonard, do Fundo Ploughshares, embora reconheça a dissuasão nuclear, a considera menos importante do que a ameaça de as armas nucleares proliferarem em um número crescente de países.

Durante a Guerra Fria, erros humanos e malentendidos levaram o mundo, não uma vez, mas muitas vezes, à beira da guerra nuclear. “É razoável imaginar que acidentes e erros de cálculo possam ocorrer em cada país dotado de armas (nucleares) e isto é inquietante. Se você começa a multiplicar o número de países, isto só faz aumentar o risco”, disse Leonard à AFP. “Você não vai querer reviver a Guerra Fria, porque não sabe ao certo se acabaria da mesma forma”, concluiu.

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