Pelo menos um manifestante iraniano morreu baleado nesta segunda-feira e outros ficaram feridos ao final de um ato que reuniu em Teerão milhares de pessoas que protestavam contra a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad, informou um fotógrafo iraniano que não quis ser identificado.
Ele chegou a tirar fotos do homem sem vida, com o rosto ensanguentado e carregado por outros manifestantes, declarando à AFP ter visto várias pessoas baleadas. Mir Hossein Mussavi, que contesta a vitória do dirigente ultraconservador e denuncia fraude na votação, também participou dos atos, proibidos pelo ministério do Interior, o mesmo acontecendo com o candidato reformista Mehdi Karubi.
Os enfrentamentos explodiram no início da noite, quando vários disparos foram ouvidos. Os tiros começaram no momento em que os manifestantes ateavam fogo a pneus e latas de lixo nos arredores da praça onde transcorriam os protestos. N
o telhado de um dos prédios, pelo menos três homens vestidos de camisa brança, com capacetes, miravam as pessoas, um deles com um fuzil de assalto Kalachnikov. Vieram daí os tiros que mataram o homem e feriram outros, segundo o fotógrafo iraniano. Um correspondente da AFP presente ouviu vários tiros.
Manifestantes contaram que, no final, homens com roupas civis atiravam nas pessoas, ferindo várias. Domingo um jornalista da AFP havia visto homens de motos, à paisana, atirarem para o ar para assustar a multidão. Segundo o correspondente da AFP, na noite desta segunda-feira um confronto explodiu entre policiais e militantes na periferia da praça Azadi, no centro da cidade, ao final do percurso feito pela multidão, e que dezenas de pessoas fugiam do local. Forças da ordem também recorreram a granadas de gás lacrimogêneo.
Milhares de partidários do candidato presidencial iraniano derrotado Mir Hossein Mussavi tinha ido para as ruas para protestar contra a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad, apesar da proibição oficial imposta à manifestação. Alguns manifestantes marcharam da praça Enqelab à praça Azadi, a alguns quilômetros de distância, gritando “morte ao ditador” e “os iranianos preferem a morte à humilhação”, e expressando apoio a Mussavi.
Em Washington, o presidente Barack Obama se disse nesta segunda-feira “profundamente preocupado” com a violência no Irã, mas declarou que cabe aos iranianos eleger o próprio presidente e que os Estados Unidos respeitam sua soberania. “Quero dizer muito claramente que são os iranianos que devem decidir quem dirigirá o Irã”, disse Obama.
Em Paris, a França pediu ao Irão, através de seus diplomatas, que proteja sua embaixada em Teerã, “alvo de uma manifestaçção hostil” nesta segunda-feira, anunciou o ministério francês das Relações Exteriores. A embaixada do Irã censurou em comunicado “as declarações precipitadas, irresponsáveis e intervencionistas de alguns dirigentes do governo francês”, sem dar mais detalles.
Segundo uma fonte francesa, manifestantes se aproximaram à tarde do prédio onde funciona a embaixada em Teerã gritando slogans hostis à França, sem serem perturbados pela polícia iraniana. A França também lembrou ao Irã sua “condenação a várias prisões, principalmente de personalidades políticas, registradas desde sábado e pediu a libertação imediata de pessoas detidas”, segundo o porta-voz. “Nós também transmitimos nossa preocupação de querer ver a liberdade de expressão e de manifestação respeitada”, citando “em particular, o caso de vários jornalistas franceses que foram objeto de medidas repressivas nos últimos dias”. “As últimas informações provenientes de Teerão não fazem senão reforçar nossa grande inquietação”, concluiu o porta-voz.
Em comunicado divulgado pouco antes, o presidente francês Nicolas Sarkozy se declarou “profundamente preocupado” com a situação política no Irã, condenando a “violência contra manifestantes” e pedindo para que sejam dados todos os esclarecimentos sobre os resultados do pleito presidencial.