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Um leilão com vendas recorde e polémica política pelo meio

Um leilão com vendas recorde e polémica política pelo meio

Chegaram aos 373,5 milhões de euros as receitas do leilão da colecção de arte de Yves Saint Laurent-Pierre Bergé, que terminou quarta-feira à noite em Paris, após três dias em que a capital francesa concentrou as atenções do mercado da arte de todo mundo. A soma final superou as expectativas mais recentes (200 a 300 milhões) para este que foi designado “o leilão do século”, e que muitos viam como uma oportunidade para relançar o mercado da arte no contexto de crise que assola o mundo.

“Estou muito feliz, esta noite. Tenho a certeza de que todos os que adquiriram estas obras de arte vão amá-las”, disse no final Pierre Bergé, de 78 anos, e que durante meio século reunira uma colecção invulgar de mais de sete centenas de peças com o seu amigo e ex-companheiro YSL (1936-2008), desaparecido no passado dia 1 de Julho.

Foi logo no fim da primeira jornada, dedicada à arte impressionista e moderna, que os responsáveis pelo leilão – a Christie’s e a própria empresa de Pierre Bergé – viram que o mercado da arte iria sair a ganhar. Com uma receita de 206,15 milhões de euros nesse dia, o leilão de Paris batia o recorde mundial de venda de uma colecção privada de arte – o anterior remontava a 1997, em Nova Iorque, quando o espólio de Victor e Sally Ganz rendera 163 milhões de euros.

Nessa jornada, os 1500 privilegiados que conseguiram lugar num Grand Palais especialmente encenado para o efeito tinham assistido à queda de sete outros recordes, na arte moderna e impressionista. À cabeça, o quadro de Matisse ‘Les couscous’, ‘Tapis bleu et rose’ (1911), que era a peça preferida de YSL, tinha chegado aos 35,9 milhões; a escultura de Brancusi, Madame L.R. (1914-17), rendera 29,1 milhões; um Mondrian, ‘Composition avec bleu, rogue, jaune et noir’ (1922), 21,5 milhões, e também na casa dos milhões estiveram obras de Marcel Duchamp, Giorgio de Chirico, James Ensor e Paul Klee.

Picasso ficou em casa

Nesta constelação de arte moderna, ficou para trás um Picasso, ‘Instruments de musique sur um guéridon’ (1914), que acabou por não encontrar quem chegasse aos 25 milhões estimados. “Estou feliz, porque vou guardá-lo”, comentou Pierre Bergé, que assim manterá esta obra na sua (agora) reduzida colecção pessoal, ao lado do retrato de YSL feito por Andy Warhol.

Ao terceiro e último dia, a política intrometeu-se no leilão. Mas, pelo menos no imediato, foi ainda o mercado da arte que levou a melhor: os dois bronzes chineses que o Governo de Pequim reivindicava como propriedade do país acabaram por ir à praça no Grand Palais, apesar das tentativas das autoridades chinesas para o evitar. Em causa estavam duas cabeças de animal, um rato e um coelho do Zodíaco chinês, alegadamente trazidas por tropas francesas e inglesas, em meados do século XIX, do palácio de Verão do imperador Qianlong, na sequência da 2ª Guerra do Ópio.

China Perde em Tribunal

Pequim tentou impedir a venda das peças por via judicial, mas viu a sua pretensão rejeitada por um tribunal de Paris, na terça-feira da semana passada. No dia seguinte, as duas peças foram vendidas também por uma soma acima da avaliação mais optimista: 15,7 milhões de euros cada.

Não se sabe quem foi o comprador, que licitou por telefone – “Nós somos obrigados à mesma confidencialidade dos médicos”, disse François de Ricqles, o vice-presidente da Christie’s e o responsável pela organização do leilão. Mas as réplicas políticas não se fizeram esperar. O jornal ‘Global Times’, citado pela AFP e normalmente lido como porta-voz do regime, acusou a França de fazer “chantagem política” e de “ferir, uma vez mais, os sentimentos do povo chinês”.

“Na história moderna, as potências imperialistas ocidentais pilharam inúmeros artefactos artísticos chineses no Palácio de Verão, e eles devem ser devolvidos à China”, dissera, na terça-feira (dia 24) um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Contudo, o Governo de Paris comunicou não ter recebido nenhuma diligência de Pequim sobre o caso.

Entretanto, num comunicado distribuído em Pequim, o organismo estatal responsável pelo património da China criticou directamente a Christie’s por ter avançado com a venda, e ameaçou mesmo a leiloeira londrina de que ela passará a ser alvo de “um controlo sobre todas as operações” que venha a fazer no território chinês.

À margem desta diversão política, o leilão continuava a sua boa performance de resultados. E ultrapassou também as estimativas nos lotes das artes decorativas – que no conjunto renderia 59,1 milhões de euros e mais de uma dezena de recordes -, onde a surpresa da noite de terça-feira partiria de mais uma peça afectiva: o sofá preferido de YSL – ‘Fauteuil aux dragons’, uma criação de Eileen Gray de 1917-19 -, uma peça que estava avaliada em dois milhões de euros acabaria por ser vendida por… 21,9 milhões! “É o preço do desejo”, comentou a galerista parisiense Cheska Vallois sobre esta venda, sem, no entanto, divulgar o nome do seu cliente.

373,5 milhões de euros foi o resultado final do leilão de Paris, que bateu o recorde mundial de venda de uma colecção privada – fora em 1997, em Nova Iorque, com a colecção de Victor e Sally Ganz a render 163 milhões de euros.

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