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Um jardineiro com visão

Ao contrário dos que se deixam abater pelos duros combates da vida, Armando Manguele, de 25 anos de idade, é um visionário. De um vendedor ambulante de petróleo, graças ao seu esforço, hoje passou a ser um pequeno empreendedor que emprega e paga salário a quatro pessoas através da jardinagem, o seu trampolim para a prosperidade.

 

 

A vida, ao lado da sua mãe empregada doméstica e o pai alfaiate, sempre o perseguiu com uma série de misérias domésticas que nunca o deixaram frequentar uma escola formal.

Tentando desenrascar optou pela venda do petróleo de iluminação, nas ruas da Matola desde o final do dia até a noite ganhar corpo, actividade que rendia em média 100 meticais diários.

Algum tempo depois abraçou a arte de pedreiro, primeiro como ajudante e posteriormente como executor principal até o dia em que o avô solicitou uma ajuda da sua parte para cortar relva.

No fim ganhou 50 meticais. “Logo percebi que tinha vocação para jardineiro. Além do mais, o dinheiro que ganhei parecia muito mais que o trabalho feito. Assim decidi abraçar a actividade de cortar relva”, conta.

Arrastado pela avidez do lucro, Manguele procurou levar a peito a actividade e arranjou uma pequena chapa metálica de onde improvisou um instrumento corta-relvas, que foi usando em diversas casas da Matola. Com os seus próprios meios ia atrás dos clientes e dava-lhes a conhecer sobre os seus serviços. “Com os 100 meticais que ganhava, conseguia alimentar a minha família e os meus caprichos”, comenta.

Volvidos quatro anos a trabalhar com o corta-relvas improvisado, comprou outro instrumento que custou 50 meticais. Assim convidou o primo Constantino para trabalharem juntos e a renda diária subiu para 200 meticais, dos quais separava 100 para pagar ao ajudante e fazer poupanças com vista a adquirir mais ferramentas de trabalho.

“Com a remuneração diária, passei a guardar 50 meticais. Em 2009 adquiri uma máquina corta-relvas numa das lojas de Maputo por 15 mil meticais que paguei de uma só vez”, conta para depois acrescentar: “com a nova máquina chamei dois jovens para trabalharem comigo. Cada um tinha direito a 75 meticais por dia que eram pagos às sextasfeiras”

O jovem jardineiro sublinha que uma das coisas que o encorajou a seguir a jardinagem foi um convite para fazer um jardim na zona VIP do bairro Belo Horizonte. “O patrão gostou bastante do meu trabalho e deu-me dez mil meticais. Foi uma grande sorte para mim”, lembra.

Sem se deixar levar pelos caprichos deste mundo, Manguele pegou os dez mil meticais e depositou num banco, com o fito de alcançar os 18 mil meticais, preço de um corta-relvas movido a gasolina. Hoje conta com duas máquinas a gasolina, e reforçou a equipa com mais dois jovens. Com os trabalhadores gasta 2 mil meticais por semana incuindo o almoço diário.

Além de empreendedor, Manguele tem uma família. “Tenho uma mulher e um filho, sob minha responsabilidade. Apesar de vivermos em casa dos meus pais consigo sustentá- los e para o ano pretendo habitar na minha própria casa”.

Sempre optimista, diz que a compra dos instrumentos de trabalho não pára por aqui. “Agora estou a juntar dinheiro para comprar uma máquina que custa 30 mil meticais”.

Esta é, segundo ele, a mais potente em relação às outras. Tendo em conta que a pequena empresa está a crescer, uma das suas metas passa por formalizá-la, criar um escritório e garantir um espaço fixo para facilitar os clientes.

De sonho para sonho, o jovem diz que gostaria de comprar um carro para facilitar as suas deslocações. “Não é fácil andar de chapa ou a pé com máquinas pesadas e outros instrumentos de trabalho. Por isso, um carro é necessário”.

O que Deus não lhe deu

Diz-se que Deus não dá tudo aos seus filhos e no caso de Manguele, o ditado assentalhe que nem uma luva. É que, se por um lado o jovem se apresenta como um bom empreendedor e o exemplo de um gestor por lapidar, o seu sucesso escolar não passa de uma miragem.

Esforça-se por estudar, mas nunca consegue bons resultados, pelo que a vaga de fracassos, aliada à falta de meios já o levaram a desistir da escola e a ocupar-se em biscates com ganhos imediatos. Já esteve na vizinha África do Sul, mas logo voltou às raízes.

Porque a desistência é a alternativa dos fracos e a persistência a opção dos fortes, há poucos anos o jovem voltou aos bancos da escola. Hoje com 25 anos de idade frequenta a sétima classe no bairro Infulene. “Não estudo para ter um bom emprego, mas para aprender as boas maneiras com os meus clientes que são de classe alta”, disse.

No fim-de-semana quando as pessoas estão em casa, o trabalho fi ca mais puxado. Os clientes querem ver os seus jardins caprichados. Graças ao seu empenho, já foi contactado para prestar serviços em várias instituições. Neste momento trabalha para duas bombas de combustível da Matola, onde ganha 1000 meticais numa delas e 1500 noutra, por mês.

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