Por estas alturas do ano, os que não vivem casualmente fazem contas à vida em diferentes âmbitos. Desenham o seu Estado da Nação em função dos fracassos e sucessos.
O Sistema Nacional de Educação está prenhe dos mesmos vícios e vicissitudes do passado. Sem falar da tal passagem automática que continua sem efeitos notáveis pela positiva, em 2012, o ano lectivo iniciou com um défice de 40 mil salas de aula para o ensino primário. Não é um problema recente, arrasta-se desde 2010. Por via disso, mais de 200 mil crianças, em idade escolar, estão fora do sistema. São estimativas oficiais do Ministério da Educação.
Em relação ao ensino secundário, o diagnóstico é igualmente desalentador. Nas zonas rurais e urbanas, anualmente faltam 200 salas de aula. Em 2012 foi a mesma coisa.
Uma e outra coisa é considerada como boa na Educação, porém, as adversidades imperam: a qualidade de ensino é ainda um problema recorrente, existe um grande número de professores primários sem formação adequada para leccionar, a “estória” de três turnos por dia – para fazer face à insuficiência de salas de aulas e professores – é também amplamente criticada porque não garante a permanência dos alunos nas escolas para que possam aprender mais… O rácio médio de professor- aluno é de 01 para 74.
Sobre as reprovações no ensino secundário, todos já sabem o que se passa: acabaram de ver in loco há pouco tempo, aquando da divulgação dos resultados dos exames da primeira época.
Uma vez mais, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) veio a público, este ano, colocar a nu alguns reveses da nossa Educação: a taxa de conclusão, tida como indicador chave para medir a qualidade de ensino, continua baixa. Isto porque quase metade das crianças em idade escolar no ensino primário abandona a escola antes de concluir a 5ª classe. Há muitas escolas sem infra-estruturas adequadas, tais como água e saneamento. Faltam carteiras, cadeiras e material escolar.
No ensino técnico-profissional, as escolas técnicas, os institutos de formação de professores, as universidades e institutos superiores padecem de enfermidades similares, variando a gravidade de cada problema de caso para caso.
No ensino superior acontecem coisas que relançam, à consciência, a ideia de que se aprende mal. Aliás, Arlindo Chilundo, vice-ministro da Educação, disse, a partir de algures em Chimoio numa dessas suas visitas, que a qualidade do ensino superior está aquém do almejado. Embora não seja novidade este pronunciamento, pelo mesmo é bom ouvir alguém que lida com estes problemas a assumi-los, de forma veemente, que não são benignos. Como corrigi-los? O tempo dirá porque promessas já foram tantas…
Os professores “turbos” continuam a infestar o ensino superior. A sua qualificação não é de todo recomendável. E onde ensinam esses pedagogos? Em salas improvisadas e arrendadas. Algumas instituições, não poucas, não têm laboratórios para aulas práticas. De quem é a culpa? É de um Governo que passou o tempo a autorizar a abertura de estabelecimentos de ensino superior sem sequer exigir o mínimo de condições. Um ensino viciado
A voz do povo
“Se o profissional da Educação não possui as mínimas condições para trabalhar significa que não terá amor para ensinar os alunos. Se estes tiverem problemas elementares no que respeita à sua subsistência, significa que não terão moral suficiente para transmitir ensinamentos às crianças e garantir a sua formação como homens. Em resultado disso o país fica enfermo de problemas como a má qualidade de ensino. Num mesmo ano, os professores passam vários meses sem salário. Eles vivem à base de dívidas. Então, como é que tais professores serão capazes de “abrir” as mentes dos seus educandos?”, João da Silva, ex-militar
“A Educação está pior do que no tempo colonial: as crianças não sabem o que vão fazer à escola, os pais não ensinam, os professores não ensinam, e assim chegam ao ensino superior: formatados e sem foco”, Lu
Na Educação foram recentemente realizados exames que trouxeram um alto índice de reprovações que só ilustram que, afinal, a qualidade de ensino neste país ainda está muito longe de se ter como uma realidade, consequentemente, vamos continuar a importar tudo quanto é tecnologia porque a nível interno nada se faz para mudar tal cenário”, Hélder “Esta péssimo, má qualidade de ensino, professores mal pagos, turmas superlotadas. Há muito que se fazer na Educação”, Francisca Bucar
“Falando da Educação na minha zona, falo da tua também porque Moçambique é um só, e a política que reina nos ministérios é a mesma. A Educação está cada vez pior. Professores mal formados, excesso de carga e a frequente mudança de currículo é a chave de todos resultados negativos. Antes de alterarem, primeiro é consultar. Mas nunca vão consultar, eles já conhecem os seus objectivos. O plano da Educação em Moçambique precisa duma revisão cuidadosa e não precipitada, já disse”, Simões Anela Jr.
“Eu, sinceramente, digo que o Ministério da Educação tem de melhorar a qualidade de ensino, os miúdos da escola primária não têm saído maduros para o ensino secundário. O meu sobrinho não sabe ler mas passou para a oitava classe. Não só ele, mas muitos miúdos do meu bairro. O ministério tem de rever a qualidade de formação dos professores, desde o ano que introduziram a passagem automática e o novo curriculum. Sinto muito, meus caros”, Arsénio Pinto Velho.
“No que concerne à Educação qualquer um sabe a quantas anda e em que condições decorre o PEA nas nossas escolas (claro em péssimas). Actualmente as crianças transitam de classe sem que saibam ler e muito menos escrever, mas tudo isso devido às novas políticas aplicadas na Educação.”, Diovaldo Cuamba
“Acho que devia entrar numa gestão privada porque, enquanto a responsabilidade estadual depender de parcerias e burocracias, só podemos sair desta para o péssimo porque pior já estamos”, Egildo Uazanga
“A Educação em Moçambique está péssima. Alunos sem carteiras a estudarem debaixo das mangueiras. Com tanta madeira a ser exportada para A China em benefício dos Deuses deste País. Professores mal pagos, e sem qualidade, venda de notas etc. etc. Por isso o Estado desta Nação vai de mal a pior”, Benjamim José
“Duma forma clara e directa, a Educação no país está numa fase péssima, não existem professores preparados para tal”, Osvaldo Francisco
“Está claro que o Estado da Nação é deplorável, se tomarmos em conta as assimetrias que se verificam nesse pesadelo do país, mas ele vai dizer que é bom ou não vai dizer nada, só vai ler a monografia dele para este ano e pronto. Não guardem expectativas para não se decepcionarem”, Belares Soares.
“Bom, no meu distrito a Educação está num estado regressivo! Isto porque a cada ano que passa pessoas passam de classe sem ter a noção dos conteúdos da classe anterior”, Clay Wizzy Classic “Piorou, professores já não são formados, mas sim capacitados, aluno da 10ª classe com graves erros ortográficos”, Milton Armindo Nhachale.
“A situação melhorou, só que faltam ainda salas de aulas e mobiliário escolar e há falta de afectação de professores.”, Timóteo José Paulino Muatica
“A partir do momento em que existem turmas com 100 alunos, repito 100 alunos, o ensino não existe. É impossível os alunos aprenderem, e é impossível o professor ensinar”, Juvenal Santos.
“É de reconhecer que a Educação tende a melhorar, mas também temos que admitir que a política desenhada tende para a massificação, em que todos os moçambicanos com idade escolar estejam inseridos no Sistema de Educação, isso é bom mas temos que olhar também para a qualidade de ensino que é hoje um tanto esquecida”, Natacha Karina
“Na minha zona, Quelimane, como irão melhor com gente a estudar sentada no chão?”, Silva Sisal
“Pobre e em condições deploráveis, com o ensino muito mal que só se passa de classe com média 10 que talvez tenha ido à mesa de votação porque os docentes já não leccionam porque o sistema já não obriga”, João Carlos José Nhambir “Piorou muito. Muita gente com 12ª classe sem vagas para o ensino superior público, só nas privadas que pertencem à Frelimo. Uma lástima”, Filipe Simango
“Parece cada dia bem pior. Cada vez mais, aparecem professores que subornam alunos, fraca qualidade no ensino, professores faltosos, etc.”, Cristino Paulino Dinis.
“Bem, falando de um desenvolvimento cognitivo, diria eu que está de mal a PIOR! Estamos num estágio em que meninas de 11 anos escrevem a jornais dizendo que querem fazer SEXO!!! Onde isto vai parar”, Arsénio Flávio…