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Um areeiro no lugar errado

Um areeiro no lugar errado

A crescente procura pelos materiais de construção que caracteriza a cidade de Maputo, associada à ganância de muitos cidadãos, tem sido um motivo de preocupação para os moradores de Cumbeza, um bairro localizado no distrito de Marracuene e que cresce a olhos vistos.

É que o solo daquela zona é constituído por areia branca e vermelha, material usado para a construção, o que despertou o interesse dos camionistas a ponto de abrirem naquele local uma enorme cova donde extraem a areia para posterior comercialização. Devido à procura, o local acabou por se transformar num areeiro.

Para além de a exploração não estar a ser feita de forma regrada, o mesmo está localizado numa zona residencial, o que coloca, de certo modo, em risco a vida dos moradores e as suas residências. Ademais, o areeiro é tido como o principal esconderijo de malfeitores e principal foco de prostituição.

Segundo Ananias Cuambe, chefe do quarteirão quatro do bairro Cumbeza, os moradores já manifestaram a pretensão de ver os exploradores de areia longe daquele local pois aquela actividade constitui um perigo às suas residências. “Já fomos reclamar junto ao responsável do arreeiro, mas depois de um tempo retomaram a actividade. Aquela cova não traz nenhuma vantagem à comunidade, só aos seus exploradores”, disse.

Recentemente, uma equipa do Ministério dos Recursos Minerais visitou o local e manteve um diálogo com os moradores do quarteirão quatro e o concessionário do areeiro, tendo este garantido que a exploração teria o seu fim antes do primeiro semestre deste ano. Já decorreram sete meses, e a exploração não parou representando um perigo iminente às casas construídas à sua volta. Algumas casas estão a menos de 30 metros do areeiro.

Júlio Lázaro, residente naquele bairro há mais de oito anos, disse à nossa reportagem que “passar por aquele local e não ser assaltado é uma excepção. Eu já fui assaltado mais de uma vez. Sempre que nos assaltam correm para o areeiro”.

Gestores recusam-se a falar Entretanto, quando abordados pela nossa equipa de reportagem, os gestores do empreendimento recusaram-se a prestar declarações alegadamente porque o seu superior hierárquico não estava e eles não tinham autorização para tal.

Uma fonte ligada ao areeiro confidenciou-nos que o empreendimento estava a funcionar ilegalmente porque, por um lado, o recurso (areia) há muito que se esgotou e, por outro, a actividade representa uma ameaça ao meio ambiente. Questionado sobre a razão de se continuar com a exploração, a fonte disse que o mesmo se deve ao facto de “o patronato estar à procura de um novo local para explorar”.

A qualidade da areia

Alguns camionistas interpelados pela nossa equipa de reportagem afirmam que a qualidade da areia naquele areeiro não é das melhores. Questionados sobre o porquê de continuarem a comprar areia naquele local, mesmo reconhecendo a sua falta de qualidade, estes alegaram a falta de alternativas, devido ao enceramento do areeiro de Mumemo, também localizado em Marracuene.

Uma desilusão total Há quem acreditava que viver em Cumbeza seria um alívio, mas devido ao areeiro, tudo se transformou num pesadelo. Osvaldo Jacinto, que vive naquele bairro há cinco meses, saiu do bairro Polana Caniço à busca do sonho de ter casa própria, o que não encontrou em Cumbeza. A sua residência está a menos de cinquenta metros do empreendimento e a qualquer momento pode cair.

Mesmo com o perigo a vista, Jacinto não pensa em mudar-se para outro sítio porque ele acha que ainda é possível resolver o problema. “Não penso em voltar para trás porque o município pode resolver esta situação”. Osvaldo é da opinião de que o Conselho Municipal deve agir de modo que se transforme o perigo em benefício das próprias comunidades, mas não avança nenhuma sugestão.

Outros perigos

Para além de representar um perigo para as comunidades, o areeiro constitui um foco de mosquitos pois quando chove aparecem pequenos charcos no interior da cova, ambiente fértil para a multiplicação daqueles insectos, os principais causadores da malária.

Ademais, duas crianças morreram soterradas no local quando se encontravam a brincar à volta da cova.

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