Milhares de tunisinos protestaram contra o governo liderado por islâmicos nesta segunda-feira, exatamente dois anos após a derrubada do presidente Zine El Abidine Ben Ali numa revolta popular que inspirou outras em todo o mundo árabe.
Mais de 8.000 manifestantes seculares se reuniram em frente ao Ministério do Interior na Avenida Bourguiba, em Túnis, o mesmo local onde os protestos forçaram Ben Ali a aceitar que seu regime tinha acabado e o levaram a fugir do país em 14 de janeiro de 2011.
O partido islâmico moderado Ennahda venceu as eleições em outubro de 2011, mas tem encontrado dificuldades para restaurar a segurança e a estabilidade. Os manifestantes estão descontentes com o desemprego e os preços altos, bem como com a violência ligada a elementos religiosos. Eles encheram a avenida central da capital nesta segunda-feira carregando faixas que diziam “Sem medo, sem terror, o poder pertence ao povo” e “Não à ditadura emergente. Não à ditadura religiosa”. Acenando bandeiras vermelhas e brancas da Tunísia, eles gritavam: “Ennahda fora” e “Onde está a Constituição? Onde está a democracia?”.
Os tunisinos se levantaram contra Ben Ali depois de o vendedor ambulante Mohamed Bouazizi atear fogo a si mesmo na cidade de Sidi Bouzid. A agitação, então, tomou conta de grande parte do mundo árabe, expulsando ou desafiando os governantes no Egito, Líbia, Iémen, Bahrein e Síria, que ainda está mergulhada em uma guerra civil que a ONU diz que custou mais de 60.000 vidas.
“Eu estava aqui há dois anos no mesmo lugar. O ditador foi-se e nós conseguimos liberdade de expressão, mas ainda enfrentamos muitas dificuldades, como surtos de violência, falta de segurança, continuação do desemprego e alto custo de vida”, disse a líder do Partido Republicano, Maya Jribi, à Reuters.
Na mesma rua, cerca de 2.000 partidários do governo se reuniram para celebrar o segundo aniversário da revolução, mas não houve confrontos entre os dois lados. Centenas de policiais se posicionaram na ruas.
“A oposição está tentando frustrar o governo e recusa diálogo ou participação em qualquer governo”, disse à Reuters Ahmed Salhi, um partidário do governo de 45 anos. “O seu único objetivo é não ver os islâmicos governarem a Tunísia.”
A tensão vem crescendo entre islamistas e secularistas desde que o movimento Ennahda ganhou a eleição. No mês passado, centenas de partidários do governo e esquerdistas entraram em confronto na capital, alimentando temores sobre o sucesso da transição para a democracia.