Uma escola algures em Gurúè não sabe o que são carteiras e num ponto distante da cidade de Maputo os medicamentos escasseiam. No entanto, um ex-Presidente da Assembleia da República desfruta de privacidade graças a cortinas caríssimas, que custam mais do que várias moradias de construção precária de bloco cru que abundam um pouco por toda a periferia de Maputo.
Cortinas mais valiosas do que medicamentos que poderiam, se estivessem no lugar certo, impedir que a malária e a cólera dizimassem vidas. Poderíamos, na esteira da indignação, arrolar um contentor de medidas prioritárias para o bem colectivo de todos nós. Contudo, seria hipocrisia comparar com um gasto mínimo do rol de extravagâncias dos altos dirigentes do Estado.
Cortinas de 600 mil meticais é muito pouco para garantir o conforto de quem tanto serviu os moçambicanos. Mulémbwè foi Presidente da Assembleia da República e é, de todo, desrespeitoso julgar que é um luxo colocá-lo numa casa de 29 milhões de meticais. Quem dirigiu um casa que sempre pensou no povo e que nunca quis regalias, cujos membros (deputados) sempre viveram com o salário mínimo e se serviram de meios de transporte públicos para falar com os seus leitores é muita maldade. O senhor que vive numa residência com um sistema de segurança caríssimo lutou por todos nós.
Quando o preço do “chapa” subiu o homem deu a cara pelo povo; quando o pão passou a custar os olhos da cara o homem foi visto ao lado de Hélio Rute Muianga. O miúdo tombou ao seu lado para provar o seu compromisso com a causa das classes oprimidas. Trata-se de um senhor que anda de “my love” e come o pão que o diabo amassou devido à sua verticalidade. De um senhor que enquanto responsável máximo da Procuradoria decidiu combater o crime organizado. Não há, portanto, dúvidas de que estamos diante de um ser merecedor do mais alto conforto.
Seria, contudo, bom se isso fosse verdade e se o compromisso dessa gente não fosse com o dinheiro. Vinte e nove milhões de meticais é muito dinheiro para custear o conforto de seja quem for num país com um défice de medicamentos na ordem de 30 porcento. Um país do terceiro mundo não se pode dar ao luxo de sustentar esbanjadores do erário. É, de facto, abraçar de forma eloquente a hipocrisia, a burla e a farsa, garantindo conforto desmedido aos donos do país.
O que é feito da política de habitação? Será mais importante dar casa aos Mulémbwès da vida aos jovens que lutam sol a sol por uma vida digna? O pior é que Mulémbwè tem e sempre teve casa. E a lei é clara nesse aspecto: quem deve ter casa disponível e não para si é o ex-dirigente que não tem onde cair morto. O que não é, definitivamente, o caso de Mulémbwè. Realmente, de gastos desnecessários se faz um país