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Tripas de fora

– As autoridades sanitárias garantem tratar-se de colostomia

Na cidade da Beira, um jovem de 20 anos, incrivelmente, vive há aproximadamente dois anos com o intestino grosso fora da barriga, ou seja, abdómen. Ele é polidor de carros na zona do Chaimite, na capital provincial de Sofala, mesmo defronte do chamado Prédio do Governo.

Para além de estar a padecer de uma doença que, de acordo com as autoridades sanitárias, é denominada colostomia, o jovem, que responde pelo nome de Raimundo João, leva uma vida miserável, pois não tem uma morada fixa, alimentação condigna e vestuário decente.

Colostomia é uma abertura da parede cólica e exteriorizada, através da parede abdominal, donde são eliminados os gases e as fezes. Embora as colostomias sejam de procedimentos cirúrgicos relativamente simples, apresentam várias complicações, desde irritações cutâneas até problemas potencialmente letais.

A Casa dos Bicos, ora transformada em covil de marginais, é o local onde Raimundo João vive, praticamente. Prepara as suas refeições diárias e passa as noites, dormindo em cima de cartolinas e uma manta suja, constatou o nosso Jornal.

Raimundo João não sabe ao certo como é que ficou com a sua barriga naquele estado. Aliás, disse recordar que numa noite de 2007, na cidade de Maputo, após beber vinho tinto, tendo ficado embriagado, na manhã seguinte encontrava-se estatelado num passeio com gente curiosa pretendendo saber o que teria acontecido com ele, pois estava com dois buracos enormes no abdomém.

Contou ter sido levado para o Hospital Central de Maputo, onde foi operado na barriga, tendo ficado na altura sem umbigo. “Mas a operação não ficou completa, pois a outra parte da intervenção médica não foi feita, como vocês podem ver” – apontou.

Explicou que depois da primeira cirurgia, foi transferido para a cidade da Beira, sua terra natal, onde foi internado no Hospital Central da Beira, para tratamentos posteriores.

Disse ter ficado no hospital alguns dias, depois teve alta sob a alegação de que deveria voltar depois de quatro meses para ser operado de novo. “Com o andar do tempo, perdi todos os documentos de transferência e preferi permanecer assim como estou” – referiu o entrevistado.

Raimundo João conta ainda que só voltou ao hospital há dias, após ter sido interpelado pela Polícia, que o confundiu com um marginal, na Casa dos Bicos.

“A Polícia levou-me para o comando e daquele local para o HCB, onde depois de algumas observações médicas mandaram-me voltar para casa. Acho que não me querem tratar mais” – sustentou.

Raimundo João reconheceu que o seu dia-a-dia tem sido difícil, pois, para além de ter dificuldades para se deitar durante à noite, faz necessidades maiores por meio do intestino grosso, que se situa junto da barriga.

Quando acorda, ele procura tomar banho, e desloca-se à Praia Nova para comer algo, se tiver dinheiro.

O seu ganha-pão tem sido o trabalho de lavagem de carros defronte do Prédio do Governo provincial de Sofala.

Disse possuir pais, sendo a mãe Aida, que vive na zona de Passagem-de-Nível, e o pai Fernando João, que mora no bairro de Matacuane.

Vamos estudar o caso

O director do banco de socorros do Hospital Central da Beira, Pedro Machava, disse que “não sabemos o que aconteceu concretamente com Raimundo João, porque a primeira intervenção cirúrgica não foi feita na Beira. Mas vamos fazer um estudo do caso para sabermos o que se fez e o que se deve fazer para posteriormente intervirmos cirurgicamente”.

Explicou que a colostomia, doença de que padece Raimundo João, é um intestino grosso artificial, através do qual as fezes são expulsas na impossibilidade de estas serem feitas pelo ânus.

Aquando da chegada daquele jovem no HCB, uma equipa médica verificou a funcionabilidade da colostomia, tendo constado que, de facto, está em exercício, tendo sido marcados encontros para a realização de outros exames.

Machava explicou que a enfermidade de que Raimundo João padece é normal, existindo uma permanente e outra temporal, que depois de seis meses cura-se, voltando o intestino grosso ao respectivo lugar, depois de uma intervenção cirúrgica.

“A colostomia não é uma coisa rara, como as pessoas pensam. Ela é feita para permitir a evacuação de algo que não funciona bem no organismo, casos de falta de respiração, dificuldade de a pessoa se alimentar e outras causas” – disse a fonte, acrescentando que a referida doença pode ser de origem tumoral, dificuldade intestinal ou por perfuração na barriga por armas brancas ou de fogo.

Raimundo João não corre perigo de vida, segundo Machava, o qual garantiu que a enfermidade tem tratamento.

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