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Temores de contágio da crise grega empurram Europa às reformas

Os temores de contágio da crise grega para outros países da zona do euro que também enfrentam grandes déficits como Portugal e Espanha empurram a Europa a acelerar as reformas econômicas e a preparar o reforço de suas regras de vigilância orçamentária. As inquietações acentuaram-se esta terça-feira à tarde, quando a agência de classificação de risco Standard and Poor’s rebaixou a nota da dívida soberana de longo prazo de Portugal em dois níveis (de A+ para A-) e a da Grécia em três (de BBB+ para BB+).

A classificação da dívida de curto prazo de ambos os países também foi reduzida. Portugal deve “responder” ao “ataque dos mercados”, reagiu o ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos. “É um momento decisivo. O país deve responder a isto”, declarou, em comunicado. “Devemos manter a calma e levar os mercados à serenidade”, acrescentou. “Como no passado, faremos o necessário para reduzir o déficit e promover a competitividade da economia portuguesa”.

Pela manhã, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o grego Lucas Papademos, demonstrou preocupação ao afirmar que alguns países da zona do euro enfrentam “problemas similares” aos de Atenas, mas “em graus diferentes”. Paralelamente, os juros que Portugal e Irlanda devem pagar para tomar dinheiro emprestado nos mercados no longo prazo mantinham-se acima da média europeia nesta terça-feira, acima dos 5%, enquanto a taxa superava 4% na Espanha.

Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, batizados pelos operadores anglo-saxões com o acrônimo de PIGS (“porco” em português), enfrentam profundos déficits públicos de 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB), 14,3%, 13,6% e 11,2%, respectivamente, em 2009. As bolsas desses países fecharam com fortes quedas nesta terça-feira, por conta do temor de que a crise da dívida grega se estenda. Madri caiu 4,19% e Lisboa, 5,36%.

A Bolsa de Atenas fechou com queda de 6%, a maior desde outubro do ano passado. Os economistas, no entanto, diferenciam claramente a situação de cada um desses países da zona do euro. “Há efeitos de contágio, mas a situação grega é realmente de uma natureza diferente”, explica Jean Pisani-Ferri, do Instituto Bruegel de estudos europeus. Além disso, “o problema central da Grécia é orçamentário”, enquanto o da Espanha, por exemplo, “afeta principalmente a competitividade” de sua economia e procede diretamente à explosão da bolha imobiliária.

Portugal, por outro lado, enfrenta problemas tanto orçamentários como de competitividade, enquanto a Irlanda “correu riscos importantes ao desenvolver sua esfera financeira” antes da crise econômica mundial. No entanto, esses países também estão vinculados de certa forma: as decisões “para gerir a crise grega terá efeito nos outros países”, segundo esse especialista.

Para Jesus Castillo, economista do banco francês Natixis, os “mercados questionam atualmente a reestruturação da dívida grega”, ou seja, a possibilidade de modificação de seus vencimentos, suscitando “questões sobre os países que poderão vir depois”. Contudo, a deflagração grega tem também efeitos virtuosos sobre os países mais afetados pela crise econômica da zona do euro, ao empurrá-los – assim como Atenas – a tomar medidas para reduzir seus déficits e realizar reformas para resolver problemas estruturais de sua economia.

“Até agora, desde o lançamento do euro, não se tinha feito uma diferenciação significativa no mercado entre bons e maus alunos (na zona do euro). Mas a partir do momento em que se estabelece” uma primeira comparação, cada país “se vê forçado a empreender esforços”, observa Pisani-Ferry.

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