Abandonada à sua própria sorte, a localidade de Tchaiane, na província de Nampula, debate-se com diversos problemas, desde as vias de acesso degradadas, passando pelo sistema de Educação e Saúde deficitário, até a escassez de água potável e alimentos. Apesar de desamparada, a população luta para sobreviver às dificuldades impostas pela pobreza.
A localidade de Tchaiane localiza-se no posto administrativo de Rapale-sede, distrito com o mesmo nome, na província de Nampula. No que diz respeito ao desenvolvimento, a região não mostra qualquer indício de prosperidade em quase todas as áreas de actividade, sobretudo, o crescimento socioeconómico e infra-estruturas. O único sector que se revela promissor é o da agricultura.
Para garantir o sustento diário, a população dedica-se ao cultivo de diversas culturas, nomeadamente o milho, a mandioca, o gergelim, a mapira, entre outras. Os níveis de produção deveriam gerar riqueza para as famílias, mas as péssimas condições em que se apresentam as vias de acesso fazem com que os produtores não tenham acesso ao mercado.
Os comerciantes ambulantes que procuram os produtos nas zonas mais recônditas para a sua posterior revenda não têm a ousadia de colocar as suas viaturas na estrada que dá acesso a Tchaiane por temer a danificação das mesmas. “É bastante arriscado ir comprar produtos agrícolas em Tchaiane porque as condições da estrada não são boas”, disse Agostinho Miler, revendedor de produtos na cidade de Nampula e noutras regiões da província nos momentos de crise.
Os pequenos rios que atravessam a estrada não têm pontes para facilitar a circulação no tempo chuvoso, situação que dificulta a sua transitabilidade. Além da dificuldade que os produtores enfrentam no seu quotidiano, relacionadas com a falta de mercado para a venda dos seus excedentes, eles queixam-se, igualmente, dos animais bravios que invadem as suas machambas.
Em Tchaiane, não existe nenhum transporte de pessoas e bens. O único meio que circula naquela região é o tractor pertencente à Associação das Mulheres Rurais de Nampula.
Acesso aos cuidados sanitários
A população de Tchaiane, estimada em cerca de 10.521 habitantes, não pode ter acesso a cuidados médicos uma vez que não existe uma unidade sanitária sequer para o tratamento de doenças.
O chefe da localidade, Rafael Martinho disse ao @ Verdade que naquela região são frequentes casos de malária, diarreias, HIV/SIDA, entre outras doenças mas, devido à falta de unidades sanitárias, os doentes permanecem pelo menos cinco dias nas suas casas antes de se dirigirem ao posto de saúde, que é muito distante.
“Não temos um hospital sequer, apenas um posto de primeiros socorros, mas o mesmo não satisfaz o nível de procura, situação aliada à falta de medicamentos por causa da ruptura de stock”, acrescentou Rafael Martinho, tendo referido ainda que os residentes percorrem mais de 20 quilómetros para chegar à sede do distrito de Rapale ou à localidade de Khavula, em Muecate, onde existem hospitais distritais.
As mulheres grávidas são as mais prejudicadas no que diz respeito aos serviços de saúde. Elas não têm a oportunidade de receber aconselhamentos relacionados com os cuidados a ter durante os períodos de gravidez e pós-parto no sentido de evitar a mortalidade materno-infantil. Os partos institucionais continuam a ser uma miragem, à semelhança de outras regiões da província.
As políticas de introdução da casa “mãe-espera” estão a mostrar fragilidades no concernente à sua implementação e os resultados da inoperância dessas acções reflectem-se no aumento das taxas de mortalidade materno-infantil porque as mulheres grávidas realizam os partos nas suas residências com o apoio das anciãs.
“Não posso precisar os números de mortes originados pelos partos complicados e não assistidos por técnicos de medicina porque esses casos ficam no silêncio dos familiares e não são apresentados às autoridades comunitárias locais”, afirmou o chefe da localidade.
Educação sem futuro
O desenvolvimento do sector da educação está a caminhar a um ritmo não satisfatório no que diz respeito ao melhoramento do processo de ensino e aprendizagem das crianças em idade escolar. Os alunos recebem aulas debaixo das árvores.
A situação não só preocupa as autoridades comunitárias, mas também a comunidade escolar, principalmente no período chuvoso. As direcções de algumas escolas daquela localidade funcionam em pequenos compartimentos com as paredes construídas com base em material precário.
Para tentar minimizar estes problemas, as autoridades comunitárias promovem, anualmente, actividades visando a construção de salas de aulas com recurso a material de fraco nível, que não oferece segurança.
O régulo Mukuna referiu que os esforços da população na edificação de salas de aulas tendem a reduzir porque o Governo não presta nenhum apoio, como, por exemplo, disponibilizar material convencional para melhorar a qualidade das obras.
A localidade de Tchaiane tem apenas nove escolas que leccionam o nível primário, sendo sete da EP1 e duas da EPC. Após a conclusão dos estudos, os que transitam para as classes subsequentes são obrigados a deslocar-se para os distritos de Mecuburi, Murrupula, cidade de Nampula, incluindo a própria sede distrital de Rapale, para frequentar o nível secundário.
Essas deslocações exigem dos pais e encarregados de educação redobrados esforços no tocante a despesas para matrículas e material escolar. Grande parte deles não dispõe de condições financeiras, razão pela qual muitos alunos acabam por desistir.
Já as raparigas casam- -se muito cedo por falta de ocupação. Os rapazes deixam de ir à escola para ajudar nos trabalhos da machamba.
A população consome água imprópria
Devido à falta de furos, a população de Tchaiane consome água imprópria obtida em fontes tradicionais, localizadas a mais de nove quilómetros. Na época seca, criam-se charcos, cuja água é esverdeada, mas os habitantes usam-na para beber, lavar a roupa, tomar banho e cozinhar, apesar dos riscos para a saúde que isso representa.
O Governo já prometeu abrir fontes de água mas até hoje nada foi feito. Em cada comício popular que é realizado pelos dirigentes, os residentes alertam sempre para a necessidade de se construir fontanários.


