Tanques sírios posicionaram-se nas entradas da cidade de Hamah, disseram ativistas e moradores este domingo, dois dias após a região assistir ao maior protesto contra o presidente Bashar al-Assad desde que os levantes começaram, há três meses.
“Dezenas de pessoas estão a ser presas nas vizinhanças de Hamah. Parece que as autoridades optaram por uma solução militar para conquistar a cidade”, afirmou à Reuters Rami Abdel-Rahman, presidente do Observatório Sírio de Direitos Humanos. Hamah, que fica a 210 quilômetros ao norte de Damasco, foi palco do episódio mais sangrento da história moderna da Síria, quando tropas formadas principalmente pela etnia minoritária Alawite mataram até 30 mil pessoas num ataque em 1982 para minar protestos liderados por mulçumanos contra o rigoroso pai de Assad, o último presidente Hafez al-Assad.
Um morador de Hamah disse que a comunicação na cidade foi interrompida, tática que tem sido usada pelos militares antes de ataques nas cidades e vilas, e forças de segurança e homens armados leais a Assad foram vistos em vários bairros. “Eles dispararam os seus rifles aleatoriamente nesta manhã no distrito de Mashaa. As prisões se concentraram em áreas em torno do estádio de futebol e do distrito de Sabounia”, afirmou à Reuters por telefone um morador identificado como Kamel, que estava numa região fora da cidade, onde a comunicação não havia sido cortada.
Assad, membro da Alawite, facção do islamismo xiita, governa o país desde 2000. Ele destituiu o governador da província de Hamah, Ahmad Khaled, no sábado. A presença de forças de segurança vinha diminuindo em Hamah desde que os militares mataram pelo menos 60 manifestantes na cidade um mês atrás, num dos dias mais sangrentos do recente levante contra Assad. Moradores disseram que as forças de segurança e franco atiradores abriram fogo contra a multidão de manifestantes.
Os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções a Assad e às principais autoridades do país, em resposta à brutal repressão, na qual menos 1.300 civis já foram mortos, de acordo com grupos de direitos humanos. A vizinha Turquia alertou Assad contra a repetição de “outra Hamah”, referindo-se ao massacre de 1982.