Que Oscar Tabárez merece um capítulo próprio na história do futebol uruguaio não há dúvidas. Uma boa parte do enredo, no entanto, ainda está para ser escrita e dependerá do desenrolar das ações dentro de campo no Mundial da FIFA África do Sul 2010. As razões para tamanho prestígio saltam aos olhos.
No seu primeiro ciclo à frente da seleção, o técnico levou a Celeste até os oitavos de final do Mundial de 1990, sendo eliminado apenas pela anfitriã Itália. Agora, na segunda passagem, já colocou o Uruguai entre os oito melhores do mundo, algo que o país não conseguia havia 40 anos.
Em caso de vitória, o selecionado disputará a sua primeira semifinal desde 1954, quando foi eliminado pela Hungria e terminou na quarta posição. “É claro que seria maravilhoso continuar avançando no torneio”, disse Tabárez . “É impossível não pensar a respeito. No meu caso, porém, procuro não perder o foco, e aconselho todos os jogadores a fazerem o mesmo. Porque, no final, o que importa é aquilo que acontece dentro de campo. E devemos pensar sempre em um jogo de cada vez.”
Tabárez está ciente da euforia provocada no Uruguai pelo desempenho dos seus comandados na África do Sul e não se furtou a comentar o fenômeno. “No meu país, ainda há pessoas que acham que só se pode comemorar os títulos, e isso, no futebol tão competitivo de hoje, é perverso. Por isso, acho ótimo que os adeptos saiam às ruas e festejem o que conquistamos até agora. Mas nós da seleção não podemos nos deixar contagiar.”
O comandante tampouco se amedronta quando o assunto são as comparações com os selecionados uruguaios campeões mundiais. “A verdade é que sempre espera-se muito do Uruguai. Após as expectativas não terem sido correspondidas nas competições anteriores, uma campanha como esta ganha outra relevância. É melhor não fazer comparações com as seleções de 1930 e 1950, mas, se ganharmos ao Gana, continuaremos com chances de igualá-las. Portanto, entendo que o jogo seja encarado lá como o mais importante em décadas. Porém, não acredito que isso seja uma pressão extra.”
Um adversário perigoso
Para analisar o rival das quartas de final, o técnico usou a partida contra a África do Sul como ponto de partida. “Todos os países africanos têm algo em comum: jogadores rápidos e fortes. Neste caso, creio que Gana possui jogadores os melhores e mais fortes fisicamente do que a África do Sul, mas tem menos velocidade. Faremos então os ajustes necessários. Além disso, há o fator motivação: eles não só querem chegar aonde nenhuma seleção ganesa chegou antes, como terão a favor a torcida de toda a África. Estou certo de que teremos muitas dificuldades.”
Um dos aspectos que chamaram a atenção nos últimos jogos do Uruguai foi o pouco tempo de posse de bola em relação aos adversários. Embora tenha reconhecido que a sua seleção poderia exercer um domínio maior, Tabárez disse estar tranquilo. “Isso não me preocupa, porque, se você pegar outro item das estatísticas, verá que rematamos mais vezes a baliza do que o oponente. É claro que gostaria de ter mais posse de bola para pressionar mais na frente e aliviar a defesa. O mais importante, porém, é cobrir bem as zonas de maior perigo.”
A linha entre a consagração e o fracasso é tênue, mas o Maestro já sabe disso. “É óbvio que o Uruguai jogará para vencer, porque a derrota contra Gana significará o adeus à Copa do Mundo. Enfrentamos essa situação diante da Coreia, e a seleção respondeu bem, mas ninguém sabe o que vai acontecer na próxima partida. Temos uma nova oportunidade de escrever a história e faremos de tudo para aproveitá-la.”