Os locais de votação abriram as portas nesta quarta-feira na África do Sul para as quartas eleições gerais desde o fim do apartheid, que devem dar mais uma vez a vitória ao Congresso Nacional Africano (ANC), com o líder do partido, Jacob Zuma, na presidência do país.
Milhares de pessoas formavam longas filas diante dos quase 20.000 centros de votação da África do Sul. Mais de 23 milhões de eleitores estão registrados para eleger uma nova Assembleia Geral e os parlamentos provinciais. Amplamente majoritário desde a instauração da democracia multirracial em 1994, o ANC volta a aparecer como o grande favorito. De acordo com as pesquisas, o partido deve obter mais de 60% dos votos.
Zuma, 67 anos, que teve a imagem prejudicada por acusações de corrupção que foram arquivadas no início de abril, deve ser designado chefe de Estado pelos deputados eleitos nesta quarta-feira. Zuma é apresentado como o arquétipo do dirigente africano polígamo e corrupto, os brancos o veem como um potencial ditador, mas a grande maioria dos sul-africanos acha que Jacob Zuma é um futuro presidente que se parece muito com eles.
O chefe do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido que domina a vida política do país desde as primeiras eleições multirraciais em 1994, deve ser designado presidente pelo parlamento eleito nas eleições gerais desta quarta-feira. O quarto presidente da democracia sul-africana também, sem dúvida, é o mais controvertido. Em parte porque não hesita em viver plenamente a cultura que representa, sem se preocupar em parecer um político ocidentalizado.
Zuma aparece nas cerimônias vestido com a tradicional roupa zulu, com peles de leopardo, e assegura que ama todas as mulheres – entre elas as quatro com quem se casou – e seus 18 filhos. Nas reuniões do ANC, dança e canta hinos da luta contra o apartheid, como o famoso “Umshini Wami” (Traga minha metralhadora).
Para carimbar definitivamente sua imagem controvertida, existe uma interminável guerra judicial em torno de acusações de corrupção, que acaba de ser arquivada devido a interferências políticas. Para chegar ao poder, Zuma, que quando criança cuidava das vacas em sua aldeia zulu de Nkandla, teve não apenas de sobreviver a dez anos de prisão durante o apartheid, como também enfrentar um poderoso adversário, o ex-chefe de Estado Thabo Mbeki (1999-2008), que o tirou da vice-presidência em 2005 depois que o conselheiro financeiro do polêmico líder foi condenado por corrupção.
Apoiando-se nas massas ignoradas durante a era Mbeki e na esquerda do ANC, Zuma finalmente conseguiu, em dezembro de 2007, a chefatura do partido no poder. Nove meses deois, a nova direção d ANC obrigou Mbeki a renunciar à presidência.
Para Jeremy Gordin, autor de uma biografia de Zuma, parte do ANC estava cansado das posturas elitistas de Mbeki, formado em uma universidade britânica. “O zulu autodidata não é do agrado dos intelectuais entrincheirados em preconceitos modernistas”, afirma o analista político Xolela Mangcu. “Zuma causa temor, sobretudo aos brancos, porque coloca a África do Sul diante de uma imagem de si mesma que ela preferia ignorar”, afirma.
Uma pesquisa do instituto IPSOS mostra que o líder do ANC é apreciado pelos negros, que dão a ele nota 7,7, enquanto os brancos não o aceitam e atribuem a nota média 1,9. As imagens simplistas o fazem aparecer como o inimigo jurado dos antigos líderes segregacionistas brancos, os afrikaaners, mas Zuma cita com êxito os esquecidos da reconciliação racial, que caiu no esquecimento após a aposentadoria política de Nelson Mandela, en 1999.
Se Zuma encarna as esperanças dos decepcionados é porque parece dotado de uma rara capacidade de empatia. “Ele tem muito carisma e respeita profundamente os outros”, resume Gordin. Uma qualidade que também tem seu lado ruim. “Como escuta todo mundo, isto acaba por confundir o julgamento dele”, afirma uma fonte da ANC. De fato, este sexagenário de boa saúde – não fuma nem bebe álcool – acumula declarações contraditórias, que mudam de acordo com a plateia.
O bom humor dele esconde uma paciência inesgotável, adquirida, segundo Gordin, nos 10 anos que passou nas prisões do apartheid e, depois, quando foi diretor dos serviço de inteligência do ANC no exílio.
Zuma também é considerdo um hábil negociador, que teve um papel chave durante a difícil transição para a democracia ou no processo de paz no Burundi. “É tudo exceto o iletrado que pretende ser quando isto lhe convém”, conclui um analista político, que pediu anonimato.