Há sensivelmente duas semanas, dois caçadores ilegais de elefantes foram detidos no distrito de Marrupa, na província do Niassa, próximo à Reserva Nacional do Niassa, na posse de cinco armas de fogo. Poucos dias antes, outras seis pessoas tinham sido presas no mesmo local e acusadas do mesmo tipo de crime. Estas, com certeza, não são as primeiras nem as últimas situações.
As detenções têm sido recorrentes. A prontidão combativa das autoridades está à prova e é reflexo claro da nossa incapacidade na protecção do meio ambiente, da fauna e flora. A fragilidade de vigilância por pate das comunidades é clara e elas parecem ser parte do problema; por isso, está a ser difícil combater o mal. Um Estado não pode admitir que práticas violentas, intoleráveis e completamente supérfluas sejam perpetradas contra animais protegidos por lei.
Falamos demasiadamente da biodiversidade e necessidade de promovermos a gestão sustentável dos recursos faunísticos, mas as nossas práticas denunciam a falta de compromisso em relação a estes assuntos. Nós não nos podemos resignar perante aqueles que delapidam a nossa economia! Será que percebemos a dimensão dos danos sobre a fauna sempre que um elefante ou rinoceronte é abatido, ou falamos disso para inglês ver e não sermos considerados uma Nação menos comprometida com a causa ambiental?
Os caçadores não podem ser mais fortes do que nós a ponto de protagonizarem chacinas destes animais nos mesmos lugares e de forma sistemática. Todos temos o dever de promover o respeito pela vida e integridade física dos elefantes, rinocerontes e outros animais preservados. Pata tal é preciso não nos mantermos calados e urge fazermos pressão para mudar o curso da história destes animais.
Dados das organizações que actuam na defesa do meio ambiente indicam que “em África são mortos quatro elefantes, por hora, e um rinoceronte em cada nove horas.” Em Moçambique, particularmente, a situação é dramática. A notícia de que já não temos registos de rinoceronte, nas suas subespécies de branco e preto, devia causar-nos calafrios e estimular-nos com vista a tomarmos medidas drásticas contra os caçadores furtivos.
A Reserva Nacional do Niassa, duas vezes o tamanho do admirável Kruger Park, viu a sua população de elefantes decrescer de 20.374, em 2009, para menos de 13.000, em 2013. No Parque Nacional das Quirimbas, o seu abate desenfreado causou a redução de cerca de 2000, em 2009, para 517, em 2011.
Cenas chocantes tais como o facto de os caçadores furtivos torturam elefantes e rinocerontes, cortando-lhes ou serrando-lhes as presas ou os chifres quando estes estão ainda vivos, deviam sensibilizar todos nós de modo a unirmos esforços e lutarmos para travar a extinção destas espécies, cujo futuro está nas mossas mãos.
Não podemos resignar-nos perante a barbaridade daqueles que multiplicam esforços para despovoar os nossos parques e as nossas reservas. Não podemos consentir que sejamos um Estado cuja fauna esteja desprovida desses animais. Ainda resta tempo para salvarmos os poucos animais que povoam as nossas áreas de conservação.