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SELO: Sobre o Debate no Music Box, por Cremildo Bahule

Saudações amigos. Na terça-feira, 29 de Abril, à tarde, quando voltava da rua cheguei à casa e encontrei a minha irmã (Marta Bahule) a ver o programa Music Box na STV.

Sentei para partilhar (ver televisão) aquele momento que ela chama “mágico”, embora nesta fase da minha vida não goste de ver televisão (por razões que a maioria de nós conhece e, sobretudo, pela falta de “bons” conteúdos). Dei-me ao luxo de ver e partilhar aquele momento bonito. O programa Music Box tinha como tema de discussão “a internacionalização da música moçambicana”.

Para discutir o tema estavam quatro convidados, nomeadamente Ildo Ferreira, Wazimbo, Dinho e um produtor musical. Desculpem por não colocar o seu nome porque não ouvi durante o programa.

Como de costume, cada interveniente queria exibir o seu vocabulário artístico-musical. Uns de forma mais humilde enquanto outros com mais agressividade e gritaria. Tenho de admitir que o debate estava furtivo até o momento em que Ildo Ferreira não concordou com as opiniões de Dinho.

Ildo levantou-se no meio do programa, deixou o microfone na cadeira e saiu enquanto o evento decorria. Depois do intervalo, regressou mais calmo, presumo.

No fecho do programa, altura em que o apresentador queria ouvir as soluções, o incêndio voltou a instalar-se porque Dinho fez um comentário similar ao seguinte: “Eu não venho mais a este programa para discutir com pessoas como estas. Este senhor (acredito que seja Ildo Ferreira) não tem respeito em relação ao trabalho dos meus colegas. Já insultou muitos músicos, aqui neste programa, que trabalham honestamente. Eu estava à espera de um momento como este”.

Ildo Ferreira, em jeito de resposta, disse o seguinte: “Eu não falo mal de ninguém, apenas digo a verdade. Não sei porque é que as pessoas me odeiam. Se a música moçambicana está estagnada devemos trabalhar. Eu apenas digo a verdade”.

Perante esta situação, duas situações devem ser analisadas: (i) porque é que nos debates televisivos, as pessoas discutem as suas diferenças (até étnicas, tribalistas e linguísticas) e não o importante (a internacionalização da música moçambicana, naquele caso específico); (ii) ficou a impressão de que os discursos incendiários não estão só na boca de alguns políticos. Certos artistas fazem análises incendiárias ou, no mínimo, aproximam-se disso.

Agora, atenção: se continuarmos a ter, nas nossas televisões, este tipo de comportamento, é sensato não promovermos os debates. A experiência mostra que o nosso debate público é frágil e está fragilizado.

Um conselho aos produtores do programa Music Box: por favor, se quiserem construir a música moçambicana não chamem, para o vosso programa, pessoas que só sabem proferir insultos. Concordo que se deve criticar e repudiar o que é mau para melhorarmos, da mesma forma que se deve enaltecer o que é bom para nos tornarmos perfeitos.

Mas, sinceramente, ver defeitos em tudo é ser cego. Este país, apesar das adversidades que os fazedores da cultura têm, nunca baixou os braços para fazer boa música, escrever bons livros, fazer bons filmes, exibir boas peças de teatro e bonitas coreografias.

Para terminar deixo uma mensagem clara para o Émerson Miranda: reconheço que estás a desempenhar o teu papel para melhorar a visibilidade da música moçambicana. Tens feito o teu melhor para difundir o lado estético e bonito da mesma.

Contudo, sê mais selectivo nos teus comentaristas porque, neste país, há muita gente (académicos, etnomusicólogos e artistas experientes com carreira sedimentada) com capacidade para discutir ideias e trazer soluções exequíveis, sem usar um discurso incendiário. Avante música moçambicana. Paz!

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