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SELO: Caso da Escola Secundária Josina Machel, uma gota no oceano! – Por Dércio Tsandzana

Muito já se escreveu sobre o assunto que a seguir pretendo desenrolar sobre o mesmo. Por vários dias li comentários nas redes sociais, nos jornais, recebi mensagens e vídeos sobre o caso do esfaqueamento de um aluno na Escola Secundária Josina Machel.

Das várias intervenções que li havia de tudo, uns advogavam que o aluno que esfaqueou o colega devia ser preso ou expulso, que o aluno é mal criado, mas esqueceram de ver que aquele episódio se tratou de uma briga entre dois e não apenas uma agressão singular. Essas pessoas esqueceram-se de ver que ambos estavam a sangrar e não apenas quem apareceu (mais) ferido nas imagens.

Pior ainda é saber que o aluno de 17 anos, ou seja, menor de idade continua detido pela nossa polícia que baseou-se (pelo que me parece) no que viu nas redes sociais, preferindo prender para depois investigar.

Lendo uma entrevista recente feita ao jovem que mais golpes deu ao colega pode-se concluir que afinal de contas a discussão de ambos começou um dia antes, e pelo que parece o outro aluno (ferido com alguma gravidade) é que teria ameaçado bater o colega no dia anterior e este apenas portou a faca para a sua protecção.

Condeno todo tipo de violência, não tenho a verdade absoluta sobre o assunto, mas é preciso analisar este caso despindo de alguns preconceitos e pré-conclusões ou condenações precipitadas.

Poderemos estar aqui a falar de bullying (um assunto que não cabe neste artigo pela sua complexidade), mas o termo com esta definição foi proposto após o Massacre de Columbine, ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1999, pelo pesquisador Sueco Dan Olweus, a partir do gerúndio do verbo Inglês ”to bully” (que tem acepção de “tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar”) para definir os ‘’valentões’’ que, nas escolas, procuram intimidar os colegas que trata como inferiores.

O que se pode tirar como ilação aqui?

Vivemos numa sociedade em que a violência passou a ser o prato do dia-a-dia dos moçambicanos, uma violência institucionalizada que começa na nossa Assembleia da República (AR), nos nossos Partidos Políticos e no próprio Estado.

Estamos numa sociedade onde a nossa AR é um campo de violência no lugar de debate pelo povo. Elegemos ou apoiamos (partidos) políticos que usam a violência para conseguir seus intentos. Temos um Estado que abusa do facto ser o detentor legítimo do uso da força e tem na polícia o elo que no lugar de proteger amedronta o cidadão (tenho sérias dúvidas se os cidadãos ao ver um policia sentem seguros ou não).

Outrossim, é minha opinião que este episódio não tem nada a ver com o que as pessoas dizem no sentido de que ‘’nos tempos deles as coisas eram melhores e não havia indisciplina’’, pura inocência.

O que sucede quanto a mim é a melhoria ou sofisticação dos meios de divulgação desse casos, com referência para o WhatsApp e Facebook que hoje ajudam a mostrar a podridão que se passa nas nossas escolas.

Alguns de vocês devem ter estudado na ”Josina Machel” ou na ”Francisco Manyanga” antes dos Facebook(s) e WhtasApp(s), mas sabem que naquela tempo já existiam drogas nas escolas, violência e sexo, só não chegava ao público devido aos meios de propaganda.

Este caso é a demonstração do quão inoperante anda a nossa segurança nas Escolas públicas e quão vulneráveis estão os alunos dessas Escolas, bem como os professores e todo corpo técnico administrativo, pois, no lugar de se confiar nessa segurança cada um defende-se com o que pode.

O problema aqui exposto é mais bicudo do que nós imaginamos, assim como mostrou-se agora com o surgimento de novos vídeos e revelações sobre a mesma Escola. Ademais, a Escola Secundária Josina Machel é só uma amostra menor do que precisamos mudar como sociedade e isso não é só papel do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, mas acima de tudo é papel dos pais, professores, alunos, comunidade e por fim a própria escola.

Por Dércio Tsandzana

Mestrando em Ciência Política – Universidade Sciences Po Bordeaux, França

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