Cizonenko foi o mais alto basquetista do mundo. Nem O´Neal nem Ming atingiram os seus 2.43 metros de altura. Pois Belmiro Simango, comparativamente um “txote”, com o seu 1.90 teve que o marcar. Resultado: num duelo desigual, “tio Simas” contentava-se em saltar, só para roçar os sovacos do ucraniano. Foi uma das noites mais marcantes da vida de um dos maiores e mais efi cazes basquetebolistas nacionais. Chamavam-lhe o Sr. Manápula, por dois motivos: ter uma mão grande, mas também por ser um “muana-huampula”, isto é, natural de Nampula.
Foram muitas as noites em que a sua manápula ditou leis. Jogava a poste ou a extremo, numa equipa de ouro, onde pontifi cavam estrelas que ainda estarão na retina de muitos: Claudino Dias, Aníbal Manave, João Chirindza ou Ernesto Júnior.
O seu estilo era invulgar. Andava curvado para a frente, o que escondia a sua real altura, mas na hora dos ressaltos, a impulsão era a arma principal, que se juntava à anormal manápula. Entrou no então Sporting como um cordeiro, ido do Indo-Português, onde era guarda-redes e terminou a prestação nos campos como um verdadeiro leão.
Este é Belmiro Jofrisse Simango, antes atleta, hoje um dos melhores treinadores da praça.
Em 1970, tinha apenas 18 anos quando foi lançado às feras. Ao lado de Nelson Serra, Mário Albuquerque e Terry Johnson, foi enquadrado nas reservas do Sporting de Lourenço Marques, no primeiro ano. Daí à equipa principal foi um piscar de olhos.
De imediato, os troféus: Campeão de Moçambique e Campeão Ultramarino, frente a Angola. Depois veio a debandada das estrelas do basquetebol que então pontifi cavam, naquela que era uma modalidade virada para a elite colonial. Havia que refazer tudo a partir do zero.
Houve no Maxaquene, algum tempo de incerteza e redução da aposta na modalidade. Passou para o Beira-Mar, colectividade que se iniciava no basquetebol. Foi o tempo da tempestade, ao qual se seguiu a bonança!
Simango recorda: A integração nas LAM trouxe boas novidades para o clube. Regressei e encontrei Aníbal Manave, Hélder Nhandamo, irmãos Moiane e outros. Seguiu-se um peródo dourado. Ganhámos o Nacional, e o direito de representarmos o país na Taça dos Campeões Africanos. Não fomos felizes, perdemos por 28 pontos com o Zamalek no Egipto e ganhámos por 25 pontos em Maputo.
Capitão da selecção
Em 1981 é chamado a representar a selecção num Africano na Somália. Foi o capitão de uma equipa que se classificou na 6ª posição. – Anossa marca fi cou, ao vencermos o Senegal, que não perdia em África há sete anos. Nessa altura, os angolanos temiam-nos e até se gerou uma confusão nos horários, o que ditou a nossa falta de comparência contra os “kotas” no jogo de atribuição dos 5º e 6º classifi cados. Dois anos depois, no Africano do Egipto, conquistámos a 5ª posição, que foi a melhor de sempre da selecção.
Chuck fez-nos tocar o céu
Após as promissoras prestações da equipa de basquetebol do Maxaquene, as LAM tomaram duas decisões importantes: acolher o Africano de Clubes no país e contratar um técnico norte-americano. Chuck Sckarshug, um autêntico meteoro, mestre no capítulo mental, chegou viu e venceu.
Decorria o mês de Abril de 1985. Uma história que permanece na retina e na ponta da língua de Simango: – Na primeira semana, apenas assistia aos treinos a partir da bancada e ia tirando notas. Foi integrado na orientação da equipa quatro dias antes de a prova começar. A língua não foi problema, pois falava espanhol. Mas porque havia pouco tempo, dedicou-se ao trabalho psicológico. Desde logo exigiu que ganhássemos o jogo de abertura, diante do campeão africano, o AS Police do Senegal, para começarmos a sonhar.
Isso aconteceu, por uma margem de sete pontos. Porém, no dia seguinte, veio uma derrota frente aos “lagatões” do Kano Pillars da Nigéria, por 19 pontos… – É verdade. Ele fez-nos ver que não estava tudo perdido. Na última ronda, o Kano Pillars perdeu com o AS Police, por sete pontos e nós vencemos o ASFO do Senegal. Fomos campeões de África, pela única vez até hoje.
Epopeia Mundial
Veio no ano seguinte a epopeia da participação no Mundial de Clubes em representação de África, em Barcelona. A dimensão era outra. Jogadores como San Epifânio, De La Cruz ou Cibílio, estavam fora dos nossos horizontes competitivos.
O Maxaquene, reforçado por Amade Mogne, não resistiu ao vendaval. Chuck, como americano que é, ainda pressionou os jogadores a sonharem mas a fasquia, na realidade era muito alta.