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Shafee Sidat: “2013 foi um ano negativo para o atletismo”

Shafee Sidat: “2013 foi um ano negativo para o atletismo”

Shafee Sidat tomou posse como presidente da Federação Moçambicana de Atletismo em Março do ano transacto. Chegou a uma “casa” onde simplesmente tinha de cumprir o plano de actividades elaborado pelo elenco anterior. Ainda assim, não resistiu ao convite do @Verdade para fazer o balanço dos seus primeiros nove meses de mandato, ou seja, de 2013.

@V – Qual é o balanço que faz dos primeiros nove meses de mandato do actual elenco?

SS – De uma forma geral posso afirmar que cumprimos 80% do plano feito pelo elenco anterior. Quando chegámos tudo estava traçado, orçado e nada mais podíamos fazer senão gerir o que já existia. Mesmo assim soubemos movimentar o atletismo no país, mas não como desejávamos. O ano de 2013, apesar de algumas conquistas regionais e continentais, foi negativo porque não conseguimos pôr em prática tudo aquilo que nós traçámos no manifesto eleitoral pelos motivos invocados acima. Por exemplo, nós não organizámos nenhuma prova nacional de corta-mato, conforme havíamos agendando, embora a tensão político-militar que se vive no país tenha também contribuído para a não realização desse tipo de campeonatos.

@V – E quando é que vai começar a “era Shafee Sidat” na Federação Moçambicana de Atletismo (FMA)?

SS – A “era Shafee Sidat” na FMA arranca neste mês de Janeiro de 2014 com a execução de um programa traçado por nós, ao contrário daquilo que aconteceu no ano passado.

@V – Quais são as actividades que exigiram muito sacrifício de Shafee Sidat em 2013?

SS – Eu penso que o trabalho não pode ser apenas de uma pessoa. Portanto, tudo o que foi feito e que exigiu um esforço enorme da federação é obra do seu elenco directivo, enquanto órgão colegial. As pessoas devem perceber que sem os membros da direcção eu não faria nada. E como federação estamos orgulhosos de termos dado um novo rumo a uma modalidade que nos últimos anos andava à deriva, sobretudo as associações provinciais que estavam esquecidas.

Nós viemos revitalizar o associativismo em prol do atletismo. No que diz respeito às provas, nós demos liberdade à imprensa para fazer a sua avaliação. Por uma questão de humildade, não posso estar aqui a dizer que elas foram bem organizadas. Mas andámos envaidecidos porque alavancámos algo que tinha caído no precipício depois da saída de Lurdes Mutola das pistas.

Hoje voltou-se a falar de Moçambique a nível internacional e internamente temos organizado competições regularmente. Repare que fizemos tudo isto no âmbito do cumprimento do plano elaborado pelo elenco anterior. Em 2013, a FMA realizou o primeiro Campeonato Nacional de Atletismo que não teve nenhum patrocínio. Tudo foi possível graças aos nossos cofres e à rica contribuição das associações provinciais, o que uma vez mais prova que andamos de mãos dadas em prol do desenvolvimento do atletismo.

@V – Porque é que não conseguiu cumprir na íntegra o plano de actividades relativo ao ano de 2013?

SS – O que nos tirou o sono foi unicamente o orçamento. No “papel” tínhamos um valor suficiente para fazer tudo, mas nos cofres a situação era outra, ou seja, havia uma distância entre o plano esboçado e o que existia. Desde o passado mês de Junho que o Governo, por motivos que nós entendemos perfeitamente, não consegue cumprir com o contrato-programa existente.

@V – Em termos competitivos, qual é a avaliação que faz do atletismo moçambicano, terminado o ano de 2013?

SS – Penso que a avaliação é negativa. Não conseguimos formar atletas a partir da base e não conseguimos motivar os clubes e as respectivas associações a investirem cada vez mais nos novos talentos. No que diz respeito aos resultados, nós conquistámos algumas medalhas a nível internacional, o que motivou a subida de Moçambique no ranking da Zona VI, da 11ª à sexta posição. Mas isso não quer dizer que estamos num bom caminho. Pelo contrário, a nossa pirâmide continua invertida e as pessoas precisam de perceber que não é tarefa da federação formar atletas. Os clubes devem ser sérios e trazer projectos e ideias que precisam de incentivos.

“Em 2014 haverá mais provas nacionais”

@V – Disse que a “era Shafee Sidat” arranca em Janeiro de 2014. O que podemos esperar de si e da instituição que dirige?

SS – Esperem por mais provas nacionais. Vamos movimentar o atletismo a nível interno, o principal objectivo que traçámos quando tomámos o poder. Certamente vamos abster-nos da participação em algumas competições internacionais, desde que não sejam compromissos assumidos pelo nosso Governo. Queremos ter o maior número de provas possíveis, desde o topo até à base. Neste mês de Janeiro vamos enviar uma quantia significativa para todas as associações províncias no âmbito do apoio às competições locais, bem como na componente da formação.

@V – Quantas provas a federação vai organizar neste ano?

SS – Se em 2013 organizámos oito provas, em 2014 agendámos entre 11 e 15 competições de atletismo. Esse número não abrange aquelas que serão organizadas pelas associações provinciais.

@V – Disse que é particularidade do elenco por si liderado trabalhar de mãos dadas com as associações provinciais. Em termos concretos, para além do fundo que vai alocar neste mês de Janeiro, o que mais as províncias devem aguardar neste ano?

SS – Temos muitas promessas eleitorais por cumprir. Queremos que cada associação tenha uma sede própria. Recentemente distribuímos material informático, embora algumas províncias não tenham sido beneficiadas devido à tensão político-militar que se vive no centro do país. Mas até Fevereiro não haverá mais dificuldades em estabelecer contacto entre a federação em Maputo e todas as associações.

“A boa gestão não é segredo para ninguém”

@V – Quando decidiu candidatar-se à presidência da FMA, muitos disseram que Shafee Sidat era a solução de todos os problemas do atletismo moçambicano, sobretudo na componente financeira. Os cofres da federação continuam vazios?

SS – A FMA deixou de ter problemas financeiros. Transitámos para este novo ano com um saldo positivo, mesmo depois de termos organizado um Campeonato Nacional sem nenhum patrocínio e sem cobrar nenhum valor às associações.

@V – Há algum segredo que queira partilhar para explicar este aparente “sucesso”?

SS – Não há segredo nenhum. A boa gestão é dever de qualquer indivíduo que esteja a gerir uma organização séria. No desporto as pessoas têm de saber que devem servir unicamente a actividade. Não devem usá-lo para tirar dividendos. O pouco dinheiro que os patrocinadores investem deve ser utilizado com alguma responsabilidade. É isto que nós temos levado a cabo na FMA. Mas também não queremos servir de exemplo para ninguém, porque achamos que estamos simplesmente a cumprir com uma obrigação. O nosso compromisso é com o atletismo. “Lurdes Mutola é que se distanciou de Moçambique”

@V – Todos concordamos que a imagem da Lurdes Mutola, a nossa “menina de ouro” e “heroína pelo trabalho” anda muito apagada, mesmo depois de ter dado muitas glórias ao país. Qual é o pensamento da federação a respeito deste assunto?

SS – Serei sincero sobre este assunto, talvez seja a primeira vez desde que me tornei presidente da FMA. As pessoas sempre me colocam esta questão e acho que está na hora de dar uma resposta directa. Depois de ser eleito, eu procurei-a (Lurdes Mutola) e não a encontrei. Usei canais próprios e pessoas próximas dela para convidá-la a dar o seu contributo em prol do atletismo moçambicano. Mas até hoje não obtive nenhuma resposta.

Certo dia, a Federação Internacional de Atletismo questionou-me sobre o “desaparecimento” da Lurdes Mutola, por ela estar manifestamente distante, quer da FMA, quer daquela instituição. A única informação que tenho é de que ela está radicada na África do Sul onde, para além de jogar futebol, se dedica à formação de novos talentos do atletismo sul-africano numa academia dela. E não tenho mais detalhes.

@V – Então assume que Lurdes Mutola é que anda distante do atletismo moçambicano?

SS – Estou a querer dizer que a nossa “menina de ouro” faz parte do desporto moçambicano, sobretudo do atletismo. É parte da nossa história de sucesso e precisamos dos seus ensinamentos para, quem sabe, podermos desenvolver. As portas da FMA continuam abertas para ela, caso queira ajudar. A Lurdes Mutola é símbolo do atletismo nacional, porém temos de respeitar se o sumiço dela é uma decisão tomada por ela.

 

“Os Jogos Olímpicos não são um lugar para passeio”

@V – Kurt Couto foi o porta-bandeira de Moçambique na última edição dos Jogos Olímpicos que tiveram lugar em Londres. Onde anda este atleta, sabido que é beneficiário de uma bolsa olímpica oferecida pela FMA?

SS – Ele continua atleta da FMA. Sucede que nos últimos anos tem sido fustigado por uma onda de lesões que o afastaram por um longo período das pistas. Por contusão não conseguiu representar Moçambique no Campeonato Mundial de Atletismo que teve lugar em Moscovo. Mas continua beneficiário da bolsa olímpica. Brevemente, ele vai participar nos Jogos da Lusofonia que vão decorrer em Goa, capital da Índia, onde esperamos que represente condignamente o país e que Creve Machava, Alberto Mamba e Sílvia Panguana, outros atletas moçambicanos que estarão nessa competição o vejam como fonte de inspiração.

@V – Espera medalhas nestas provas de Goa?

SS – Esperamos que eles tragam excelentes resultados, até porque temos a certeza de que todos eles estarão bem preparados. Os nacionais tiveram várias competições internas que serviram para melhorar os seus rendimentos. Toda a delegação moçambicana terá igualmente direito a um estágio pré-competitivo na vizinha África do Sul, tudo para que possam conquistar medalhas para o país e que façam valer o nome de Moçambique e as cinco cores da nossa bandeira.

@V – Há meses disse que Moçambique não devia ir aos Jogos Olímpicos, se for por passeio. Mantém essa posição?

SS – Continuo a dizer que nós não devemos ir a competições internacionais se não for para ganhar. O que pretendo dizer é que os atletas devem dar provas a nível nacional, regional e continental antes de participarem, por exemplo, nos Jogos Olímpicos. Não faz sentido um atleta que nunca ganhou nada ir competir nos Jogos Olímpicos, só porque somos obrigados a participar. O dinheiro que se pode gastar só para deslocar um representante do país para esse certame, nas condições a que me referi acima, pode servir para construir quatro pistas em igual número de províncias.

@V – Quer dizer que não estaremos representados nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, Brasil?

SS – Os atletas moçambicanos estão a preparar-se para isso. O Comité Olímpico disse que tinha um programa específico para levar moçambicanos para as olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Todavia, a nossa federação não foi consultada e nem foi ouvida nesse processo, e nem é nosso objectivo ir a essa competição.

 

“Desafio o Ministério da Juventude e Desportos a dizer se sou, ou não, ilegal”

@V – A imprensa pública tem abordado a suposta ilegalidade de Shafee Sidat na presidência da FMA. Alega-se o facto de estar a exercer, cumulativamente, a função de Agente-FIFA. O que tem a dizer sobre este assunto?

SS – Nos últimos meses a FMA tem sido apetitosa para algumas pessoas. Há aqueles que pensam que recebemos muito dinheiro da IAAF e que dá para distribuir pelos nossos bolsos e pagar passagens aéreas para viagens de lazer. Porém, para desagrado dessas pessoas, nós só temos direito a 12 mil dólares anuais daquele organismo internacional e a três milhões de meticais do governo moçambicano, o que representa metade das nossas reais necessidades.

@V – A quem se refere, exactamente?

SS – Não quero alimentar mais polémicas em torno deste assunto. Apenas quero esclarecer que a minha candidatura foi analisada e aprovada pelo Ministério da Juventude e Desportos que é, agora, a única instituição que deve vir a público alertar-me sobre alguma anormalidade, e não algumas pessoas descontentes que acham que a minha retirada da FMA será por via da imprensa para alegrar os seus umbigos. Enquanto não for oficialmente informado sobre alguma irregularidade, eu continuarei a servir o atletismo e o meu país.

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