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Sexo? Só (se for) com preservativo

Sexo? Só (se for) com preservativo

As representações melódicas contra actos que fustigam as muthiana orera – mulheres bonitas – estão a dominar a inspiração dos músicos da cidade de Nampula. Por exemplo, Mussa Matano, para lutar contra os casamentos e gravidezes precoces, compôs a música “Kosiveliwa” que significa gosto de ti. O jovem, com 12 anos de carreira, lançará brevemente o seu primeiro álbum que vai contar com igual número de temas.

Era de se esperar que os artistas reagissem contra o problema das gravidezes precoces, dos casamentos prematuros bem como as relações sexuais desprevenidas, já que os mesmos formam o misto de condições para a vulnerabilidade da mulher e um terreno fértil para a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. Num piscar de olhos, dezenas de raparigas contraem o VIH/SIDA, enquanto outras engravidam sem terem, ao menos,  atingido os 18 anos de idade.

Tendo em conta que a realidade da província, e cidade de Nampula em particular, há sonhos e planos que são interrompidos devido ao insensato e irresponsável comportamento sexual dos adolescentes.

Numa cidade onde as condições da rapariga são deploráveis, os fazedores da cultura procuram transmitir mensagens de apelo a partir das suas produções artísticas, desde a música, passando pela dança até o teatro. Porém, para o efeito, é necessário que o próprio artista tenha conhecimentos adequados.

Na área da música, na cidade de Nampula, a transmissão de mensagens apelativas tem sido garantida por Mussa Matano, carinhosamente chamado Raça Viva. Ele inicia a sua carreira artística com a composição musical “Kosiveliwa”, com a qual tem conquistado a praça na terra das muthiana orera.

A referida música, produzida por um jovem da Ilha de Moçambique, é uma ilustração sonora das ilusões amorosas que, na sua maioria, desencaminham as raparigas atraindo-as para os ínvios casamentos prematuros que geram as gravidezes indesejadas, sem excluir os abortos inseguros.

Natural de uma zona com profundas influências do Islão, o músico viu-se obrigado pela tradição que domina a sua jurisdição, a gravar a composição com uma melodia tipicamente árabe. A obra, elaborada a pensar na sua esposa, está a ser muito absorvida pelos ouvintes e pelos locutores das rádios locais de Nampula.

“Graças a Deus, a minha música é uma das bem-sucedidas na província de Nampula. Primeiramente, esta composição foi dedicada à minha esposa na altura em que éramos namorados. Eu pretendia demostrar o enorme amor que sinto por ela. Acabei por problematizar a situação da rapariga”, refere Mutano.

Segundo a fonte, em quase todo o canto, ouve-se tocar a sua música. O vocalista da banda Watana ilustra várias peripécias ligadas aos maus-tratos que os idosos sofrem por parte dos seus familiares. “Desde o início da minha carreira, sempre fiz a fusão entre a cultura do tufo e as melodias indianas, devido à forte influência da cultura árabe que possuo”, afirma. Entretanto, para além do “Kosiveliwa”, Raça Viva dispõe de mais um sucesso, “A Pwapo”, que na língua portuguesa significa Avô, a quem dedica a música.

Uma história em curso

Raça Viva era um jovem que nunca havia encarado a música como uma profissão. Porém, é mais um artista que se envolveu na cultura desde a infância. Inicialmente, influenciado por questões religiosas, imitava as músicas indianas.
Em 2003 decidiu abraçar a arte de forma profissional, produzindo músicas tropicais, mas sempre preocupado com a valorização e preservação do património sociocultural da Ilha de Moçambique.
Nos meados de 2003, Raça Viva lança a sua primeira composição musical que foi um sucesso quase total. Todas as estações de rádio na cidade de Nampula disseminaram-na bastante. Na altura, o artista também era estudante.
Formado em cultura islâmica, Raça Viva está, a passos largos, para o lançamento do seu álbum. Consolidou o abc da música durante o percurso na banda Watana, uma colectividade composta por artistas de referência na cidade de Nampula. “Sou um dos poucos artistas da cidade de Nampula bem-sucedido. Tenho músicas de que, mesmo desvalorizadas nalguns lugares, a população da minha terra se orgulha por serem interpretadas por um macua de sangue e cultura tufo”, explica.

Muita inspiração

Cada artista possui um jeito único e particular que o caracteriza não só a nível da personalidade, mas também na dimensão das suas obras. Mussa Matano possui de mais de 20 músicas. Porém, a sua maior particularidade é o facto de as suas criações serem dedicadas, invariavelmente, a alguém.
“Sempre produzi músicas dedicadas a alguém. Por exemplo, a ‘Kosiveliwa’ é uma homenagem à minha esposa. A ‘Pwapo’ é uma obra ofertada ao meu avô…. Não existe nenhum mistério ligado a essa prática. O que acontece é que me inspiro nas pessoas para produzir músicas com temas abrangentes”, sustenta.

Um problema duradouro

Tornou-se um acto normal ver diversas obras discográficas, colecções de músicas e livros contrafeitos a serem comercializados nas principais avenidas e ruas da cidade de Nampula. A prática multiplica-se sob o olhar impávido das autoridades competentes. Aquele ponto do país é considerado um dos principais focos da pirataria, que representa o impacto imediato da proliferação de pequenos estúdios destinados à reprodução de músicas e filmes para a venda. Infelizmente, os trabalhos de Raça Viva também são contrafeitos.

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