Empreendedores satisfeitos com a situação
De Munhinga à sede do distrito de Sussundenga, na província de Manica, são cerca de 12 kms que a população tinha que percorrer, em alternativa à cidade de Chimoio, a capital provincial, distante mais de 60 kms, para comprar produtos de primeira necessidade. Quando souberam do fundo dos sete milhões nas mãos do governo distrital, proprietários de barracas pensaram em fechar a lacuna de estabelecimentos comerciais naquela localidade. O projecto foi aprovado e financiado e a população tem agora menos maçada.
“Desenhamos e submetemos o projecto, aprovado em Agosto de 2007; beneficiamos do empréstimo de 300.000 MT, que gastamos na aquisição de mercadoria, uma vez que já possuíamos instalações” contou Luís Fazenda Manhangadze, presidente da Associação dos Comerciantes de Munhinga.
Ilídio Paulo Saia, secretário da mesma agremiação, disse que antes dos sete milhões os membros daquela pediam emprestado dinheiro ao banco existente na sede do distrito, mas pouco se ganhava devido aos juros cobrados, que eram altos. “Contudo, para não cruzar os braços era lá onde todos recorríamos”.
Os comerciantes contactados são unânimes na ideia de pedir mais dinheiro emprestado do fundo do Governo para potenciar os seus negócios logo que terminaram o reembolso do primeiro empréstimo, o que, esperam, poderá ocorrer até Agosto próximo, sabendo-se que para todos o prazo estipulado termina em Outubro.
Animados com o “banco” de juros baixos (5%), eles revelaram que uma das ambições do seu projecto, que neste momento emprega ao todo 40 trabalhadores, é a instalar o negócio de compra e venda de insumos agrícolas, porque nenhum comerciante local faz esse negócio nem uma feira alguma vez foi promovida em Munhinga.
Mas nem tudo são rosas para os comerciantes de Munhinga. Um dos constrangimentos que enfrentam é a falta do transporte de mercadorias dos armazéns da cidade de Chimoio, onde fazem as compras para a sua localidade. A electrificação do posto administrativo começa a ser outra preocupação, pois a corrente eléctrica possibilitar-lhes-ia entrar na comercialização de produtos frescos.
O fraco poder de compra da população local é também um obstáculo para o bom curso do negócio dos comerciantes. Na ausência de um grande empregador formal, a única fonte de rendimento para os moradores de Munhinga é a comercialização de animais e produtos agrícolas, sobretudo o milho.
O projecto da Associação dos Comerciantes de Munhinga é apenas um dos 77 projectos submetidos pelos interessados e aprovados e financiados pelo Governo de Sussundenga, e que, além do comércio, cobrem, entre outras, as áreas agrária, turística e de pequena indústria. É, todavia, no sector agrário que recai a maior parte dos projectos em curso.
Com efeito, 20 projectos são de agricultura propriamente dita, 16 de actividade agro-pecuária e cinco de avicultura. Os primeiros criaram 119 postos de trabalho, beneficiam 960 pessoas e absorveram 1.979.735 MT. Os projectos agro-pecuários beneficiam 1.650 pessoas beneficiaram de créditos no valor de 1.280.800 MT. Os projectos de avicultura tiveram um financiamento de 319.095 MT, empregam 11 pessoas e beneficiam 57.
Um dos projectos de avicultura é da OMM local e dedica-se à criação de frangos desde Agosto de 2007 após a recepção de 136.000 MT, dinheiro gasto na construção de duas capoeiras com capacidade para albergar mais de 500 frangos cada. Segundo Manade Adelina Lucas, a responsável, foi o primeiro projecto do género no distrito.
“No início tivemos prejuízos por termos arrancado com o projecto sem experiência: por exemplo, o modelo dos pavilhões não obedece ao padrão para a criação de galinhas, pois as ventilações pareciam grades de uma cadeia, também não tínhamos noção sobre os cuidados de higiene e demais cuidados elementares com as aves” – explicou.
Antes do arranque deste projecto, os frangos eram comprados na cidade de Chimoio e transportados de chapa para serem revendidos em Sussundenga. Alguns chegavam mortos, para além de serem vendidos a um preço alto. Manade Lucas deplora que depois da iniciativa da sua associação tenham começado a surgir muitos concorrentes, próximos uns dos outros, o que, em caso do surto de doença, pode pôr em risco toda a produção.
Confiante no avanço do projecto, as promotoras da criação de frangos em Sussundenga adquiriram três hectares para o cultivo do milho com vista à produção da alimentação das suas aves como forma de minimizar os custos, mas essa ambição, segundo a presidente da associação, só poderá ser concretizada após a conclusão do reembolso do valor emprestado, o que poderá ser em Março de 2009. Na altura da nossa estada em Sussundenga, em Maio último, a associação esperava pagar a primeira prestação do empréstimo em Junho do presente ano, no valor de 14.280 MT, o dobro do que já devia ter sido pago conforme o compromisso com o financiador.
O Governo do distrito de Sussundenga não está arrependido nem decepcionado com a concessão de empréstimos do fundo dos sete milhões MT às comunidades locais para o financiamento de projectos de geração de rendimentos, pois é surpreendente a ramificação de negócios partir de alguns projectos-base. Para Washington Moisés, responsável da Repartição de Planificação e Desenvolvimento Local, os resultados da aplicação dos “sete milhões” são plausíveis, atendendo a que começa a verificar-se a multiplicação de pequenas unidades de produção a partir de alguns projectos-base, para além de que há beneficiários que já estão a reembolsar o valor dos empréstimos, de acordo com os compromissos assumidos perante o Governo distrital, embora ainda ninguém tenha pago na totalidade, o que é compreensível porque o dinheiro chegou tarde ao distrito.
Sobre o impacto dos projectos na segurança alimentar, Washington Moisés assegurou que “verificamos que os beneficiários ampliaram as suas actividades e sobretudo aumentaram os níveis de produção, sendo óbvio dizer que o fundo está a ser bem aproveitado ao nível deste distrito, que não possui nenhuma instituição financeira para emprestar dinheiro à população”.
Questionado se alguns projectos não terão sido rejeitados por não satisfazer os requisitos exigidos, o responsável da Repartição de Planificação e Desenvolvimento Local disse que “naturalmente que houve. Não foram elegíveis os projectos que não correspondiam às exigências deste fundo. A titulo de exemplo, compra de viatura e construção de casa”.
A uma pergunta sobre a existência de mais dinheiro para empréstimos, ele avançou que “infelizmente, o fundo relativo a 2007 se esgotou todo, mas com o dinheiro dos primeiros reembolsos está-se a financiar os projectos aprovados o ano passado mas que ainda aguardam a atribuição de empréstimos”.
Com efeito, o nosso interlocutor explicou-nos que já nove associações beneficiaram este ano do dinheiro de retorno dos primeiros empréstimos de 2007, e ainda resta algum valor para atender outros pedidos que vierem. “Em função do ritmo dos reembolsos, o Governo do distrito está confiante que os beneficiários vão restituir o dinheiro emprestado até finais de Outubro próximo, fim do prazo de devolução, pese embora a recepção tardia do fundo ao distrito”.
Até Maio último, quando estivemos em Sussundenga, o Governo já havia desembolsado 7.970.000 MT dos 8.095.000 MT solicitados pelos proponentes de projectos. O valor concedido permitiu a criação de 253 postos de trabalho, beneficiando 13.862 pessoas.
Contudo, o Chefe de Planificação de Desenvolvimento Local ressalvou que a avaliação do impacto dos investimentos na área da agricultura só poderá ser feita após a colheita de produção agrícola, mas receia-se que a intensa queda de chuvas venha a comprometer os resultados. Aliás, os titulares de projectos agrícolas dizem ainda não estar em condições de reembolsar o dinheiro emprestado e pede algum compasso de espera.