Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

 
ADVERTISEMENT

Sequelas de um fim do ano em transe…

Sequelas de um fim do ano em transe...

No frenesim da transição do ano, muito fogo, luz, fartura e bebedeira acompanharam os munícipes de Maputo e Matola. Se o contrário tivesse acontecido, faltariam argumentos para justificar tamanho cansaço, sono e ressaca que açoitaram alguns cidadãos no Dia do Ano Novo. Bem vindos aos novos 366 dias de 2012!

Cerca de 20 minutos depois da projecção dos fogos de artifício, uma onda de queima de pneus se apoderou de alguns bairros da Cidade da Matola, por onde o @Verdade passou.

Este acto – pouco comum até há alguns anos – vem sendo perpetrado pela juventude local como forma de dar continuidade à adrenalina da recepção do novo ano.

Aliás, nos primeiros minutos do novo ano, enquanto certas pessoas projectavam o fogo no meio das ruas, outras acendiam objectos pirotécnicos, outras ainda se embebedavam até à exaustão.

Esta é uma das partes de cidadãos matolenses que reuniram algumas condições para celebrar (?) com alguma dignidade. De qualquer modo, ao que tudo indica, mesmo as famílias carenciadas – as que não detêm as mínimas condições para viver – não fizeram vista grossa à ocasião festiva.

“Em todas as festas da passagem de ano, nós tirámos as nossas mesas e celebramos em comunidade. Não obrigamos a ninguém, há quem prefira estar no seu quintal. Já há cinco anos que os moradores deste bairro convivem neste moldes.

Já é uma tradição. Isto acontece durante a transição do ano”, diz Ana Teresa, residente no bairro de T.3, algures na Cidade de Matola, quando convidada a explicar a presença de muitas mesas e fogões numa das ruas daquele bairro.

Muita azáfama à mistura

Barulho ensurdecedor – a lembrar a primeira copa mundial a ser disputada no nosso continente, África – só que desta vez não se tratou das famosas vuvuzelas. O barulho era produzido por gramafones (aparelhos sonoros) e provinha de todos os cantos do Bairro da Zona Verde.

Músicas moçambicanas, angolanas, sul-africanas, brasileiras e, porque não , norte-americanas misturavam- se, originando uma cacofonia incrível. Um encontro desproporcional se apoderava do espaço, de tal maneira que ninguém ouvia a ninguém. Tudo isto foi uma das formas encontradas para festejar.

“Não nos preparamos devidamente. A minha vontade era que tivesse conseguido comprar um pouco de tudo para garantir a festa. Não reuni condições a tempo para o efeito, mas mesmo assim, passámos condignamente”, conta Joana Coutinho, de 34 anos, e mão de quatro filhos.

Num outro desenvolvimento, Joana – visivelmente emocionada – referiu que a situação da sua família agrava-se pelo facto de o seu marido não estar a trabalhar, o que faz com que, ainda que faça alguns biscates, associados aos trabalhos informais que faz (lavagem de roupa, entre outros) não consiga dar os devidos golpes à pobreza.

O cabaz do fim do ano da

Joana Miraculosamente, diz Joana, “para este final do ano conseguimos comprar cinco litros de óleo alimentar, 25 quilogramas de arroz, 4 quilos de feijão-manteiga, 3 kg de farinha de trigo e dois quilos da farinha de milho”.

Os vizinhos contam que a luta diária da Joana é no sentido de garantir o pão de cada dia. “Há dias em que esta família passa fome a tal ponto de não ter nada para jantar, o que lhes obriga a trocar os seus serviços de limpeza pela comida”, dizem.

Quem teve sorte diferente foi a família de Sónia Machatine, uma anciã viúva, do bairro Chamanculo C, que passou a festa do final do ano com apenas uma refeição composta por caril de peixe (carapau), xima, arroz, e alguns litros de sumo.

“Podia ter sido pior. Há dias que nem isso temos”, afirma um membro da família em jeito de desabafo, ao mesmo tempo que Sónia Machatine diz que “não é o ideal, mas dá para, juntamente com os meus netos, satisfazer os nossos estômagos”.

O álcool e o volante

Enquanto o país testemunhava a passagem dos últimos minutos de 2011, nalgumas rodovias, condutores sob efeito do álcool e faziam manobras perigosas, o que, de certa maneira, contribuiu para a ocorrência de acidentes.

Como consequência, cinco automobilistas ficaram inibidos de conduzir em virtude de terem acusado positivo nos testes de alcoolémia. Segundo o porta-voz do Comando da Cidade, Orlando Mudumane, tais condutores fazem parte de 47 cujas viaturas foram fiscalizadas pelos agentes da Polícia de Trânsito no dia 31 de Dezembro.

Na província de Maputo, cerca de 50 automobilistas viram as suas cartas apreendidas pela Polícia de Trânsito depois de terem sido surpreendidos a conduzir com níveis de álcool superiores aos permitidos por lei.

No geral, a polícia diz que o comportamento dos condutores continua preocupante. Basta referir que, segundo as estatísticas, a condução sob efeito do álcool continua a ser a principal causa dos acidentes de viação que ocorrem nas nossas estradas.

EDM e os cortes

Entretanto, em Ndlavela, no município da Matola, um transformador incendiou-se na manhã do dia 1 de Janeiro, justamente na altura em que as pessoas se preparavam para dar continuidade à festa. Foi graças à pronta intervenção do Serviço Nacional de Salvação Pública que o pior não aconteceu.

Para além deste incidente, a festa de fim de não foi marcada por cortes, quase que frequentes, de energia eléctrica, situação que deixou os citadinos apreensivos.

O problema foi resolvido por volta das 22 horas do dia 31, evitando que as pessoas entrassem para o ano novo na escuridão. Tal como sempre, estas empresa não deu satisfações aos seus clientes e nem os números disponibilizados para a participação de ocorrências em nada ajudaram porque ninguém atendia às chamadas.

Ocorrências

Informações prestadas pelo Serviço de Urgências do Hospital Geral José Macamo dão conta de que nos dias 31 de Dezembro e 1 de Janeiro foram atendidas 315 pessoas, contra 305 de igual período do ano passado. Deste número, 210 sofriam de doenças gerais, ao passo que 105 de diversos tipos de traumas, 52 resultantes de acidentes de viação.

Facto preocupante é que, no mesmo período, deram entrada naquela unidade sanitária duas pessoas feridas à bala, não se sabendo até ao momento em que circunstâncias em que tal aconteceu. Já no Hospital Central de Maputo, o maior do país, foram registados 33 casos de traumas resultantes de acidentes de viação, 14 de agressões físicas, o que, se comparado com o mesmo período do ano passado, representa uma redução de 14 e 12 casos, respectivamente.

Igualmente, foram registados 12 casos resultantes do uso indevido de objectos pirotécnicos (paixões). Alguns pacientes viram os seus dedos amputados devido à gravidade dos ferimentos.

Por seu turno, o porta-voz do Serviço Nacional de Salvação Pública, David Cumbane, considera que, com a excepção do incêndio registado num transformador, em Ndlavela, não foi registado outro incidente, o que o leva dizer que a passagem da quadra festiva foi tranquila.

Roubos

Ainda na cidade de Maputo, a Brigada Operativa da PRM recuperou, em frente ao Banco de Moçambique, 20 calças, 24 camisetas, fatos, dentre outros bens roubados de uma das lojas de venda de vestuário da cidade de Maputo.

A polícia conta que os bens foram abandonados pelos meliantes que, entretanto, ainda se encontram à monte. “Eles puseram-se em fuga quando se aperceberam da nossa presença. Os bens já foram entregues aos proprietários”.

Não houve crise de bebidas

Algo raro no nosso país, desta vez não se registaram as habituais filas nos armazéns revendedores de bebidas e refrigerantes, facto que já tinha sido prometido pelos fornecedores. Há armazéns que não conseguiram vender todo o stock de produtos que tinham encomendado para a quadra festiva.

Duas razões concorreram para que tal acontecesse. Primeiro: as fábricas preparara-se a tempo para abastecer o mercado e, segundo, o cidadão moçambicano já não possui um poder de compra que o permita levar uma vida digna, o que quer dizer que alguns (cidadãos) optaram pelo sumo em detrimento dos refrescos.

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

error: Content is protected !!