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Sentar mata!

Estar sentado mais de seis horas por dia diminui a esperança de vida e aumenta o risco de cancro. “Não fostes criados para viver como animais”, escrevia Dante na sua Divina Comédia. Nem para permanecer sentados, poderíamos acrescentar, à luz das últimas descobertas científicas.

Quando apareceu, há 200 mil anos, o Homo sapiens já estava perto da perfeição: era um primata bípede, de pelo curto, adaptado à vida na terra e com hábitos alimentares de caçador-recolector. Tinha um cérebro muito desenvolvido, adaptado ao raciocínio abstracto, ao uso da linguagem e à capacidade de introspecção. Era mais desenvolvido e mais inteligente do que os representantes das outras espécies.

Por muito extraordinários que fossem, este corpo e esta mente não foram projectados para a vida sedentária que, a pouco e pouco, lhes foi imposta, sobretudo pelo mundo industrializado, a partir do século passado. Um estilo de vida que se tornou quase norma na era da Internet.

Quando não está a dormir ou a andar, o homem (ou a mulher) do século XXI está quase sempre sentado: no escritório, à mesa, em frente a um ecrã de computador ou da televisão. Novos estudos relembram-nos que permanecer sentado o dia todo, durante muitos anos, pode ter consequências desastrosas, por vezes irreversíveis.

A actividade eléctrica dos músculos decai: “Os músculos tornam-se tão reactivos como os de um cavalo morto”, avisa o professor Marc Hamilton, do centro de investigação biomédica de Pennington, nos EUA. Isto pode arrastar o nosso metabolismo para uma espiral descendente.

Basta levantar da cadeira

Quando estamos sentados, o consumo calórico resume-se a uma caloria por minuto, ou seja, três vezes menos do que se estivéssemos a andar. Isto aumenta os riscos de diabetes e de obesidade. As enzimas responsáveis pela decomposição dos lípidos e dos triglicéridos, que regulam a taxa de algumas gorduras no sangue, funcionam pior, provocando uma queda nos níveis do colesterol “bom”.

Ao fim de alguns anos, os efeitos podem ser ainda mais graves. Um estudo da Sociedade Americana de Oncologia feito em 123 mil pessoas demonstrou que a taxa de mortalidade entre os homens que permaneciam sentados mais de seis horas por dia era superior em 20% à dos que passavam menos de três horas por dia numa cadeira.

Nas mulheres, esta taxa chegava aos 40%. Na Austrália, um outro estudo, publicado no Jornal de Epidemiologia, afirma que as pessoas com trabalho sedentário durante mais de dez anos são duas vezes mais susceptíveis de vir a padecer de cancro colorrectal do que as outras.

O pior, afirmam especialistas como o Dr. James Levine da clínica Mayo, nos EUA, é que estes danos podem ser irreversíveis. Passar nove horas por dia atrás de um guiché arruína a saúde, e pouco importa se a seguir vamos para o ginásio ou sentar-nos em frente à televisão. A inactividade afecta todos, sejam obesos sejam maratonistas.

“Ficar muito tempo sentado é prejudicial”, resume James Levine, que refuta a ideia de que basta seguir uma dieta e fazer exercício três ou quatro vezes por semana para anular os efeitos de um trabalho sedentário.

Em vez de voltarmos a viver como há 200 mil anos, a solução apresenta-se-nos com quatro letras: NEAT (Non-Exercise Activity Thermogenesis, produção de energia sem actividade desportiva).

Para limitar os danos provocados pelo estilo de vida de cadeira basta, por exemplo, baixar-se para atar os sapatos ou praticar uma qualquer actividade, desde que não esteja sentado. É necessário “seguir o caminho da virtude e do conhecimento”, como preconizava Dante, mas é preciso fazê-lo de pé.

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