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Sem adubos não há “revolução verde”

Um estudo apresentado em Agosto de 2007, em Maputo, pelo académico António Francisco, do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (EISA), durante a Conferência sobre o Desenvolvimento Agrário em Moçambique, indica que, em 2002, o índice de utilização de fertilizantes no país era de apenas 5,9 quilos por hectare.

Na altura, o Malawi usava em média 43 quilos de fertilizantes por hectare e integrava um grupo de 10 países africanos com os maiores índices de utilização destes produtos na Agricultura. Enquanto isso, ocupando a terceira posição ao nível do continente e com 65,4 quilogramas de fertilizantes por hectare, a Africa do Sul é o país da região com o maior índice de utilização de fertilizantes na Agricultura.

Contudo, de um modo geral, a média de utilização de fertilizantes no continente africano é muito reduzido. Para reverter esta situação, a Cimeira de Abuja sobre Fertilizantes, realizada em Junho de 2006, no âmbito da Revolução Verde Africana, recomendou que, os países africanos deviam aumentar o nível de utilização de fertilizantes de oito para pelo menos 50 quilos por hectare.

Outra das recomendações da referida cimeira exortava os países a garantir a redução dos custos dos fertilizantes ate meados de 2007, através da harmonização das políticas regulamentais que facilitem a sua circulação, incluindo a isenção de impostos e taxas.

Os países africanos comprometeram-se ainda a melhorar o acesso dos agricultores aos fertilizantes, através da concessão, subvenções destes produtos, com particular atenção para os agricultores pobres. Provavelmente, este compromisso ajudou o Malawi a intensificar o seu programa de atribuição de subsídios de fertilizantes e sementes, iniciado em 2005.

As 3,4 milhões de toneladas de milho projectadas para a presente campanha agrícola superam em 200 mil toneladas a quantidade colhida na última campanha (2007/2008). Esse sucesso fez o Malawi sair da condição de importador para exportador líquido deste cereal, pois o seu consumo nacional está estimado em 2,2 milhões de toneladas anuais. “Não se faz Revolução Verde sem adubos”, disse Fato, salientando que “o adubo joga um papel muito importante na produtividade.

Na sua maioria, os solos malawianos são pobres, mas desenvolveram devido a utilização de adubos”. “Você pode ter uma boa semente, mas se não utilizar adubos a planta não vai exprimir todo o seu potencial genético”, referiu a fonte, explicando as razões por detrás do sucesso do vizinho Malawi. Fato lamentou a falta de tradição no uso de adubos em Moçambique. Segundo ele, os solos moçambicanos são mais ricos comparativamente aos de Malawi, razão pela qual seria de esperar rendimentos mais elevados no país. Aliás, não é por mero acaso que na sua tese de doutoramento (ainda em elaboração), Fato ilustra a gravidade desta realidade no país.

Em Mocambique, muitos agricultores rejeitam o uso de fertilizantes sob o argumento de que os mesmos são nocivos aos solos. Outros reconhecem a importância dos adubos, mas queixam-se dos custos envolvidos na sua aquisição. Estes factos podem ser constatados nos distritos de Manhiça (província sulista de Maputo), Chókwè (Gaza, também no Sul do país) e Angónia, na província central de Tete.

Segundo Fato, um saco de 50 quilogramas de adubos custa entre 1.800 (cerca de 68 dólares americanos) a dois mil meticais na capital do país, cidade de Maputo. No Centro e Norte do país, os custos são mais elevados. Refira-se que a Cimeira de Abuja recomenda o uso de pelo menos 50 quilos de fertilizantes por hectare.

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