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SELO: “Os que não comem”: Mais do que um assunto da polícia, uma questão de governação no geral – Por Raúl Barata

Surgiu, nos últimos dias, na cidade de Nampula, um grupo de jovens malfeitores que se auto denomina “os que não comem”, que vem espalhando terror e luto em algumas famílias desta urbe. No entanto, informações actualizadas dão conta que foram capturados e estão as contas com as autoridades policiais.

Este acontecimento parece estar a ser visto como mais um caso que envolve delinquentes, que na calada da noite ataca as pessoas para se apoderar de bens materiais e na sequência acabam tirando a vida de inocentes.

Entretanto, vendo na sua profundidade dei-me conta que não se trata de malfeitores comuns. Por um lado, o “grupo dos que não comem” é composto por adolescentes e jovens com idades que variam entre os 16 e não mais do que 25 anos, salvo o erro. Por outro lado, o grupo teve a ousadia de baptizar-se com um nome peculiar e que chama a atenção.

E é partir do nome adoptado por estes jovens que prefiro olhar este acontecimento. No meu ponto de vista, “Os que não comem”, querem transmitir uma mensagem clara de insatisfação face as poucos ou quase inexistentes oportunidades ou mesmo a falta de actividades que possam ocupar a mente dos jovens nesta cidade. É do conhecimento dos moçambicanos que a província de Nampula é das mais corruptas do país, desde a base da sociedade afectando o pacato cidadão, até as instituições governamentais.

O clientelismo e o nepotismo tomaram conta do modo de vida dos cidadãos desta cidade e província, as oportunidades de emprego são escassas e só se fazem sentir num pequeno grupo de cidadãos com privilégios. Existe uma insatisfação generalizada por parte dos cidadãos com o governo central, e isto reflecte-se também nos períodos eleitorais.

“Os que não comem” não passam de jovens excluídos e marginalizados que colocam a culpa pelo seu sofrimento, pela falta de oportunidades de emprego no governo, e na elite política do país e da província, e não tendo uma forma racional de resolver os seus problemas optam por descontar nas pessoas praticando o crime, deixando assim uma mensagem que diz: “aqui estamos nós”, “olhem por nós”, “queremos a vossa atenção”, ou por outra “também queremos comer”.

A província de Nampula, em particular a cidade de Nampula já teve os seus momentos de orgulho e mérito quando brilhava nas áreas desportivas e culturais. Hoje o cenário é de desgosto. No quesito desporto, a prática tornou-se deficitária, hoje pouco desporto se pratica seja por competição ou lazer, sem mencionar a questão cultural que sequer ouve-se falar. Os espaços de recreação, de lazer e sobretudo de estímulo positivo da mente não existem.

A resolução do problema como os “dos que não comem” e outros semelhantes a este e que envolvam a juventude não parte somente por mantê-los encarcerados a cumprir penas nos calabouços, porque cenários destes tem ampla probabilidade de se repetir. Dêem aos jovens algo positivo com que ocupar a mente. As decisões e não decisões do governo têm de ter em conta a juventude para que estes possam se sentir incluídos e de certa forma ocupados com algo positivo nas suas vidas. O investimento em várias áreas de educação, competição escolar e académica, recreação, desporto, cultura, etc. é fundamental, prioritário e urgente.

Por Raúl Barata

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