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SELO: Os pecados dos ministros da educação – Por Wilson Nicaquela

Não vou aprofundar o raciocínio, se bem que faço… Os mais velhos lembram-se dos projectos que desfilaram em cada mandato democrático no Ministério de Educação? Um cheirinho para vós, a partir de nós chamados sangue novo (isentos).

Arnaldo Nhavoto (1995-1999)

Ele descobriu que a guerra havia condicionado as assimetrias regionais na distribuição do livro gratuito para o ensino básico, ao ponto de, em 1990, toda região norte, com 60% dos alunos matriculados no país, receber 11% do livro da caixa escolar e a cidade de Maputo 33% do total (GGOLIAS, 1993).

Também, Arnaldo Nhavoto pensou que a fraca qualidade de ensino tinha relação com o nome das instituições que formam os professores. Ele extinguiu os Institutos Médio Pedagógicos (IMPs) e criou Institutos de Magistério Primários (IMAPs) e instituiu os famosos Decretos 38 e 39 (Alunos e professores namorados ou consumidores de álcool).

O tempo? A dinâmica? A vontade? Que motivos? Duvido bastante pois, a minha mente ainda era talvez pouco capaz de perceber isso. Mas a realidade justificou a queda do então ministro, em Janeiro de 2000.

Alcido Ngoenha (2000-2004)

Nasceu o Novo Currículo do ensino básico, sem necessariamente ter-se feito uma pré-avaliação de base ou pré-consulta aos professores. Só os professores deste nível de ensino sabem o que significou isso.

O mentor do novo currículo não teve pernas para aprofundar e cansado de voar, caiu sobre a terra e o currículo teve as suas  repercussões. Cada um entendeu como quis que entendesse. Os alunos formaram-se como se formaram com ou sem exceções cognitivas….

Aires Ali (2005-2009)

Ele deveria ficar sem projectos? É possível? No seu mandato teve a sorte até de acumular a Educação e a Cultura, com o ensino superior lá dentro omisso.

Este ministro adentrou a casa onde não era hóspede, ordenou a mudança do famoso regulamento do ensino básico, mudou os IMAPs para simplesmente Institutos de Formação de Professores  (IFP’s) e encurtou o tempo de formação dos professores para apenas um ano.

Aires Ali criou muitas universidades e delegações, anuiu as alterações curriculares dos ensinos secundário-geral, técnico profissional e superior e o nosso modelo de BOLONHA, ainda gradua doutores em três anos.

Aluno do ensino secundário-geral aprende agropecuária e empreendedorismo.

Sem dar explicações profundas aos próprios colaboradores (professores), Aires Ali simplesmente sumiu e foi para onde devia ir.

Zeferino Martins (2010-2012)

Eu não tenho registos da sua acção, pelo que prefiro ignorá-lo. Mas lembro que ele era contra a mobilidade desnecessária e prejudicial de professores. Um professor primário, independentemente das suas qualidades, bastava fazer licenciatura era transferido para o ensino secundário-geral. A educação perdia um bom professor no ensino básico e ganhava um pior no ensino secundário-geral. Ele era pela progressão da carreira.

A mentalidade menos adúltera que existia no tempo desse ministro mudou radicalmente e ele tornou-se um governante ausente. Naquele andar – do ministério a que estava afecto – ele tropeçou e caiu sozinho.

Augusto Jone (2012-2014)

Este ministro traria novidade ao sector que dirigia? Não sei. Augusto Jone apenas deu naquilo que deu. Ele veio para subjugar o seu antecessor e ergueu-se com discursos triunfalistas.  Devia renovar? Porquê e para quê? Ele escorregou e deixou a rampa livre.

O ministro reitor – Jorge  Ferrão (2015-20016)

Este ministro eu apelidava-o de retro-escavador ou, simplesmente BULDOIZER. Um projecto longo e exequível.

Ele teve uma governação marcada pela auscultação dos seus antecessores para aferir os sucessos e fracassos. Teve reuniões com pais e ou encarregados de educação para colher seus palpites. Houve mega e micro reuniões com os professores mais antigos e experientes.

E as medidas propostas nesses encontros não tardaram, a cada momento emergiam novas…. E onde o ministro reitor buscava aquelas medidas ou experiências? Se ele próprio, apesar de ter o doutoramento, era supostamente extra do MINED?

Um dos maiores pecados que marcou os professores na era de Jorge Ferrão foi aquele discurso: “Em nenhuma parte do mundo o professor é milionário”. O governante mentiu. Pessoalmente, achei que o tom da sua voz foi mais alto em relação a mensagem que pretendia transmitir.

A outra indignação da classe, que suponho ser uma das que precipitou o seu retorno à reitoria, podem ter sido as improváveis férias para 2016, desorganização do processo de exames no ensino geral, que vai durar quase 26 dias e sem subsídio para os professores. Acham pouco?

E como geriu as mini e max saias? E como geriu os desmaios? Como ele interpretou a lei sobre o esfaqueamento do aluno perante os pais e encarregados de educação? E como ficará o projecto de proibição do uso de celulares?

Contudo, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) não se aliviou daquele MINISTRO-REITOR. Antes irá eternamente clamar pelos seus préstimos.

Diga-se de passagem, os projectos deste ministro são, dos poucos governante que caíram, injustamente pela falta de noção de trabalho para o bem. Nesta geração de isentos, da qual faço parte, conheci cinco dirigentes do seu calibre: Lina Portugal, Filipe Paunde, Felício Zacarias e Paulo Ivo Garido.

O MINEDH perde um grande homem, a Universidade Pedagógica ganha um dirigente mais pujante e a opinião pública vai contradizendo-se.

Se eu fosse filósofo, diria já temos mais uma série de utopias e chamaria de “FERRAUIANAS”. Ler e aprender mais.

Por Wilson Nicaquela

Psicólogo Escolar e Mestrando em Educação em Ciências de Saúde pela Universidade Lúrio (UniLúrio), Campus de Marrere, Nampula-Moçambique

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