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SELO: Os nomes das nossas selecções nacionais: uma discussão oportuna? – opinião de Pedro Júnior

O desporto arrasta multidões. Sem distinção de cor, raça, estrato social, um jogo de futebol, basquetebol, uma prova de atletismo, ou qualquer outro, reacende ânimos, convoca emoções e desperta paixões de todo o tipo.

Quando se trata de selecções nacionais em provas desportivas, quebram- se barreiras e as mais abismais diferenças, e nações inteiras unem-se para celebrarem uma auto-estima às vezes até em crise ou inexistente. Todos e mais um manifestam total e incondicional apoio à selecção, sentem- se convocados, vestem a camisola do país e também estão lá no campo, suando, chorando e/ou gritando de alegria até ao fim do jogo.

Ainda assim, é normal às selecções nacionais ser atribuído um apelido, um cognome, que facilmente as distingue das demais, ou, com base nalgum elemento identitário nacional comum, produz um efeito motivador extra, tanto para os jogadores como para os adeptos.

Uma mascote, uma marca, um nome, uma história marcante, algo popular e que caracteriza e identifica uma nação são usados com frequência para baptizar o nome das selecções nacionais.

O futebol é a cara mais visível desse fenómeno, é o desporto-rei, e com ele os apelidos das selecções são usados para vender o país através dessa marca. Qual é a história que está por trás dos nomes das nossas selecções? Que critérios foram usados para atribuir os apelidos às selecções moçambicanas? Não será oportuno discutir sobre os critérios para atribuir nomes às nossas selecções?

Pretendemos propor essa discussão, para atribuir nomes as nossas selecções nas várias modalidades, clarificar ou até mesmo para trocar o nome dos nossos “Mambas” visando buscar uma nova motivação, moral e fazer-nos acreditar que as próximas campanhas podem ser melhores.

As experiências que nos chegam do mundo: os nomes de algumas selecções

Pelo mundo todo, aos clubes e as selecções nacionais, nas mais variadas modalidades, se atribuem apelidos, adoptam-se cores específicas dos seus equipamentos e símbolos ou mascotes para se identificarem entre si e perante os outros, e principalmente para arrastar apoios à sua volta e galvanizá-los ainda mais durante as competições.

Em 2006, a Federação de Futebol do Japão procurou oficialmente e publicamente um apelido para apoiar a selecção do seu país no Campeonato Mundial que nesse ano se disputaria na Alemanha. Assim, apresentou cinco opções de nomes para votação popular. Samurais Azuis foi o nome mais votado, que remete aos guerreiros que governaram o Japão por 700 anos no período feudal. E até hoje, a selecção japonesa é apelidada Samurais Azuis, ou simplesmente Samurais.

A selecção brasileira de futebol, uma referência mundial, é apelidada de “Canarinha” graças às camisetas amarelas do seu equipamento. Porém, esta cor só foi adoptada depois do “Mundial” de 1950. O Brasil vestia-se de branco até então, até sofrer uma humilhante derrota no “mundial’’ dessa data com o Uruguai, numa final em que bastava o empate para se sagrar campeão, ainda por cima no estádio de Maracanã acabado de ser inaugurado. E como forma de se refazer dessa pesada derrota, decidiu trocar a cor das camisetas para amarelo, adoptando-se, assim, o nome de “Canarinha”.

O México, adoptou o apelido de “El tricolor” ou “El tri” para a sua selecção de futebol resultante das três cores da sua bandeira, o verde, o branco e o vermelho. Aliás, por isso mesmo, o verde acaba por ser a cor predominante nas suas camisetas. No entanto, o mesmo verde tem sido usado para apelidar a equipa de “Ratones Verdes” (Ratos Verdes) quando a sua equipa joga mal ou atravessa uma crise de resultados.

A selecção da Nigéria é conhecida por “Super Eagles” (Super-Águias) desde 1994, ano em que ganhou pela segunda vez o Campeonato Africano das Nações (CAN). Na década de 1950 era chamada “Diabos Vermelhos”. Em 1960, após a independência passou a chamar-se “Águias Verdes”, nome que durou até a década 90 quando mudou para o actual nome. Refira-se que, quando os resultados não têm sido satisfatórios para os adeptos, esta selecção é apelidada pejorativamente de “Super Shickens” (Superfrangos).

A Espanha buscou o vermelho para apelidar a sua selecção. “La Furia Roja” (Fúria Vermelha) ou simplesmente “La Roja” (apelido também usado pela selecção do Chile), tem suporte no vermelho predominante no equipamento da selecção espanhola, e na tese da psicologia do desporto segundo a qual o vermelho transmite força, confiança, equilíbrio e agressividade.

Trouxemos alguns exemplos, de entre muitos no mundo desportivo para mostrar a atenção e o cuidado que os países prestam na hora de atribuir um nome a selecção, a preocupação e a prioridade em determinados momentos de crise ou mesmo bons para motivar ainda mais as suas equipas e mesmo para levantar o seu moral. Igualmente, presta-se atenção especial aos equipamentos, podendo ser usadas determinadas cores sob o pretexto de atribuir sorte ou mais motivação aos jogadores ou serem fonte de azar, motivos para mudar visando renascer a crença nos jogadores e arrastar mais apoios dos seus adeptos.

A oportunidade de discutir sobre os nomes das nossas selecções

Moçambique não tem uma história sobre os nomes das suas selecções. A selecção nacional de futebol é apelidada de “Mambas”, uma das cobras mais venenosas do mundo, abundante em África e que também se encontra nas florestas moçambicanas. Provavelmente foi pensando na velocidade, agilidade, agressividade e no veneno letal desta cobra que se apelidou assim a nossa selecção, como forma de apoiá-la, motivá-la e fazer acreditar os moçambicanos na força da equipa de todos nós e intimidar os seus adversários. Aliás, refira-se que grande parte das selecções africanas tem nomes de animais. Infelizmente, como os resultados positivos não são regulares, é mais frequente entre os adeptos chamarem os “Mambas”, de forma pejorativa, por “Minhocas”.

A selecção nacional de basquetebol feminina, bem recentemente, tentou- se apelidar de “samurais” como uma forma de motivá-la, primeiro no Afrobasquete realizado em Maputo em 2013, e mais tarde para a sua primeira participação, em 2014, num Campeonato Mundial da modalidade. Os critérios para tal não foram claros, aliás de forma oficial e popular não é assim apelidada, não possuindo, deste modo, nenhum apelido que se conheça.

Cada vez que a selecção nacional perde, corremos a criticar o treinador, a organização e os jogadores mas nunca pensamos em buscar novas formas de motivar e levantar o moral de ambos. Talvez seja altura de pensarmos e reflectirmos com vista a trocarmos o nome da nossa selecção e dar nomes às nossas selecções em todas as modalidades, como uma nova forma de motivar, fazer sonhar e acreditar a ambos (jogadores, treinadores, organização e adeptos).

É que se até o cidadão comum acredita que determinados objectos, práticas, hábitos são susceptíveis de dar azar e troca, ou mesmo muda a sua imagem, da sua empresa, pinta a sua casa e outros exemplos que mostram que bastam algumas pequenas mudanças, novos slogans e novas crenças para se ter sucesso, porque não podemos experimentar um novo pensar nas nossas selecções?

No caso da selecção nacional de futebol, os “Mambas”, olhando na perspectiva de patriota, adepto e amante de futebol, à partida não nos ocorre nem nos passa pela cabeça a ideia de mudar de nome. A questão que se coloca é se é mesmo por uma questão de identidade ou estamos tão habituados ao nome que resistimos à ideia de pensar em trocar de nome.

Porém, quando olhamos para novas formas de motivação, meios inovadores de dar uma nova dinâmica à selecção, experiências de outros países e mesmo em termos de significado do nome versus resultados, necessidade de mudanças no nosso desporto, somos tentados e bem animados a convidar à discussão sobre os nomes das nossas selecções e dos nossos “Mambas”.

Talvez seja este o momento para que se proponha que o povo moçambicano vote e escolha os nomes que queremos para as nossas selecções, e assim podemos dar um novo alento às próximas campanhas desportivas.

Opinião de Pedro Júnior

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