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SELO: O que esperar de Donald Trump em relação à África? – Por Dúlcio Mazive e Raúl Barata

Nos dias passados assistiu-se da parte do recente presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), um discurso mais agudizado sobre as pretensões americanas em relação à política mundial e ao papel dos EUA na mesma. A maior potência económica e política do mundo, os EUA, acabam de perder o estatuto da maior potência económica para China, um país que ano após ano tem aumentado o seu poder e influência no mundo. A saída dos EUA do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas abre espaços para a China aliada aos países europeus passar na linha da frente no que concerne as decisões a nível mundial sobre o uso de energias renováveis e combustíveis fósseis.

Com a ascensão de um presidente da ala mais conservadora e, quiçá, radical do partido republicano, há uma intenção por parte da nova administração americana de recuar naquilo que são as intenções político-económicas de domínio e controlo do mundo por parte da América. Quando nos referimos em recuar, falamos do facto de parecer claro para o presidente americano que o maior investimento que o mesmo pode fazer é na América e nos americanos, um pouco a imagem do que eram os EUA no período anterior a Iª Guerra Mundial, abdicando ou pelo menos partilhando o poder de igual forma e responsabilidade entre todas as grandes potências mundiais, entre as quais a China, Rússia, UE e Reino Unido.

A leitura que se faz dos discursos do presidente Donald Trump nos encontros com a China, Liga Árabe e a NATO é que enquanto para uns exige maior cooperação e partilha de responsabilidades, para outros pede uma acção mais firme no combate ao extremismo islamita e o reviver de antigas relações.

Habituados que estamos de um país que tomava a iniciativa e que os restantes deveriam seguir, a nova forma de estar na política americana é no mínimo de causar alguma estranheza, pois parece-nos um país que acredita que se encontra na actual situação pura e simplesmente porque os outros não tem cumprido aquilo que lhes é cabido ou porque os acordos feitos, foram mal assinados e são prejudiciais para a económica americana, esquecendo-se em parte que algumas das responsabilidades ou a maior parte da responsabilidade deve ser imputada única e exclusivamente a própria América e as suas pretensões de domínio global. Por outro lado, Trump acredita também que os EUA dão tanto ao mundo através de apoios financeiros e económicos aos países parceiros e aliados deixando de se concentrar na economia interna, dai a sua insistência na ideia “America First”, onde só os lucros para a nação americana importam.

Visto que percebido está sobre qual o papel que este país quer que os outros actores mundiais tenham futuramente na política internacional, pelo menos com os países asiáticos e europeus, nomeadamente a China, Coreia do Sul, a sua congénere do Norte e a NATO, urge indagar, e sobre a África? Que papel esta administração e este presidente esperam que África possa assumir? Ou pelo menos, qual é a visão da governação Trump com relação ao continente africano?

Tendo em conta que os EUA são o maior investidor e um dos maiores parceiros que África já teve, é legítimo reflectir sobre esta questão. É também normal e obviamente legítimo colocar este questionamento às lideranças africanas sobre o que estes esperam das decisões do presidente americano.

Apesar de os países africanos registarem tímidos avanços nas suas democracias desde 1990 e outros até então serem considerados Estados falhados, parece-nos claro que continuar a investir na consolidação das democracias africanas é um investimento sem retorno, e os americanos já não se vêem na posição de continuar a investir no escuro e na incerteza, principalmente com a nova governação. Aliado a isto está também a questão do aumento da corrupção nos países africanos, o que tem influenciado nas previsões negativas sobre o desenvolvimento do continente.

Dado este cenário, pode-se esperar decisões extremas por parte de Donald Trump sobre um continente que na visão de um republicano conservador merece a mínima atenção quando a questão é influência política e económica mundial. O presidente americano declarou na sua campanha eleitoral no ano passado que a América gastava milhões de dólares apoiando vários projectos a nível mundial e que esta situação devia mudar. Por um lado, podemos esperar que a administração Trump diminua os seus investimentos em áreas-chave como educação, saúde, direito humanos e cidadania que sempre foram consideradas fortes apostas para o crescimento e futuro desenvolvimento de África. Por outro lado, a possível retirada de certos investimentos em África por parte dos EUA, coloca o maior parceiro comercial de África, a China, em considerável vantagem, situação que os Estados Unidos não vão querer fazer parte.

O que esperar de Donald Trump em relação à África, urge perceber isso. A aparente visão de Trump de uma relação de jogo de soma zero entre os estados-nações mundiais dá-nos uma ideia superficial do que ele pretende. No entanto, a imprevisibilidade deste líder mundial coloca-nos na incerteza sobre que rumos a sua administração irá tomar com relação aos países do continente africano.

Por Dúlcio Mazive e Raúl Barata

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