A Assembleia da República, concebida como fórum de debate dos problemas do país e do povo, tem sido actualmente, cada vez mais, entorpecida por dois deputados nomeadamente: António Pedro Muchanga, deputado da Renamo, e Galiza Matos Júnior, da Frelimo. Estes dois senhores cercam-se, encurralam-se e forçam um suicídio na Casa do Povo.
Não percebo, sinceramente, qual é a importância, para o país, do confronto verbal que os dois deputados têm travado, visto que os problemas pessoais discutidos por eles, num espaço não apropriado, só interessam a eles.
O eleitorado que os escolheu não está interessado em saber se o Galiza cumpriu um mandato ostentando um certificado de habilitações literárias da 10ª classe, ou se o Muchanga era apaixonado por extraviar gado bovino. O eleitorado quer que os seus problemas sejam discutidos e haja soluções.
É assustador o tipo do comportamento das bancadas da Frelimo e Renamo naquela Casa, sobretudo porque após os discursos infames dos seus deputados indisciplinados ainda aplaudem. Esta acção mostra, inequivocamente, que as duas bancadas estão visivelmente satisfeitas com o confronto verbal carregado de ódio. Esta atitude é vergonhosa e inexplicável. Como é que alguém vai aplaudir dois irmãos que lutam?
A presidente da Assembleia da República não deveria permitir que estes deputados usassem da palavra para trocar acusações, insultos e ofensas na Magna Casa do povo. Ela deve impor ordem para travar esta onda de indisciplina partidária.
As duas bancadas, da Frelimo e da Renamo, não podem limitar-se a apoiar deputados dos seus partidos nesta insanidade mas devem aconselhar e sensibilizar os seus membros a não pautarem por aquele tipo de comportamento excêntrico, asqueroso e nojento que envergonha esse casal parlamentar frente ao eleitorado que o elegeu.
A Assembleia da República não goza de uma boa imagem e este confronto de ideias inúteis entre os dois deputados vem agudizar a imagem penosa desta casa. A bancada da Frelimo é famosa e reconhecida por cortejar sempre o Executivo, enquanto a oposição é viciada em reprovar os programas do mesmo Governo e na maioria das vezes não consegue explicar as razões para tal.
Interesses partidários na Assembleia da República são nitidamente discutidos, o que se transforma numa corda que suicida o povo.
A Comissão de Ética do Parlamento moçambicano não deve assistir impavidamente e glorificar estes confrontos, mas deve intervir para impedir que estes actos ridículos tenham lugar, pois em nada abonam a continuidade da casa do povo.
Por Euclides Da Flora