Exmo. Senhor Filipe Jacinto Nyusi, Presidente de Moçambique, cujo coração cabe a todos, saudações cordiais. Preocupado com a situação da tenção política e militar, que tem sido constante na região centro e norte do país, dirijo-me a Vossa Excelência.
Estou consciente de que os ataques protagonizados pelos supostos homens da Renamo e pelas Forças de Defesa de Segurança de Moçambique têm como causa primordial a inabilidade de conjugar o lucro material por parte daqueles que levam vantagem política e económica. Se houvesse uma capacidade de combinar o apetite pela vantagem material à melhoria da vida do povo, tenho certeza absoluta de que teríamos um Moçambique seguro e livre de conflitos militares.
Senhor Presidente da República de Moçambique, o que compromete uma convivência civilizada na sociedade não são as exigências feitas por cada partido político nem os fins por pretendidos. O problema da convivência em sociedade não se resume na eliminação dos fins de cada um, mas, sim, na capacidade de conjugar os apetites de cada um dentro duma lei universal de liberdade, em que todos possam compartilhar em comum. Neste sentido, exige-se um diálogo democrático, permanente e verdadeiro com o líder da Renamo e também com a sociedade civil de todo país.
Camarada Presidente! Quando a indignação é dirigida ao alvo errado, isto é, quando se pretende eliminar o suposto protagonista do conflito, em vez de eliminar o conflito, perde-se a oportunidade de estabelecer uma nova relação com o outro. Em grande parte dos casos, alimenta-se o ciclo vicioso de confrontos, originando a morte de pessoas inocentes, porque quando aquele que está na defensiva reage, torna-se um outro protagonista do conflito.
Camarada Presidente, o conflito, entretanto, nem sempre tem um alvo preciso ou um protagonista identificável. Há protagonistas de conflitos nos desvios de recursos públicos que deveriam desenvolver uma plena sociabilidade aos moçambicanos, uma sociabilidade fundada na segurança que nasce da liberdade e da igualdade de acesso aos bens naturais e culturais, que são um património de todos os moçambicanos e não apenas de alguns.
O conflito não é um conceito de justiça, de felicidade e nem de amizade. O conceito de justiça, de felicidade e de amizade promovem o acolhimento, buscam o convívio civilizado dentro duma sociedade; e não só, buscam o estar junto para compartilhar e aprender para criar, desafiar e construir um futuro nunca imaginado, mas sempre possível.
Senhor Presidente da Republica de Moçambique, é uma questão urgente garantir a cultura de paz no país, eliminando o ambiente bélico que se nota. As duas partes em confronto devem respeitar a vida e a dignidade de cada moçambicano, sem matar. Devem compartilhar os recursos (sem querer com isso dizer que a partilha deve se limitar às duas partes que me refiro), pese embora sejam escassos, e cultivar a generosidade a fim de terminar com a exclusão e injustiça no país. É preciso defender a liberdade política, a liberdade de expressão e a diversidade cultural, dando prioridade, sempre, à escuta e ao diálogo.
Assim, tenho a esperança de que Sua Excelência prestará a devida atenção aos problemas expostos nesta carta como forma de valorizar o poder que os moçambicanos colocaram em suas mãos. Tenho fé de que, aliado ao seu empenho e às suas competências, contribuirá no lançamento de novas sementes necessárias para transformar este Moçambique onde que vivemos e construir um outro Moçambique, onde reina a igualdade e justiça, como todos moçambicanos Sonham.
Por Rabim Chiria