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SELO: A Paz não é moleza (fácil): um olhar ao “NÃO” pela paz na Colômbia – Por Dércio Tsandzana

Este é o título que decidi dar ao presente texto que surge na esteira da passagem de mais um 4 de Outubro, dia consagrado para pela Paz. Pretendo antes de tudo, recordar um episódio que mexeu com meio mundo nos últimos dias, falo concretamente do “NÃO” dado pelo povo colombiano ao acordo de Paz assinado pelo actual Governo e pelas Forças Armadas e Revolucionárias da Colômbia (FARC).

O acordo surge depois de quatro anos de amplas negociações entre o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Lodoño. Contudo, esbarrou na opinião pública, depois que a opção por não ratificá-lo foi escolhida por 50,2% dos votos válidos. A diferença entre o “não” e o “sim” foi de menos de 60 mil votos, com uma taxa de abstenção que rondou 63%.

Mas, como é possível que um país recuse um acordo que colocaria fim a um conflito armado que se arrasta a mais de meio século e já custou as vidas de mais de 200 mil pessoas? Esse é o sentimento que tive quando soube do resultado deste referendo.

Obviamente que como país estamos longe de fazer um paralelismo nítido sobre a realidade do acordo Colombiano, porém, tratando-se de um conflito, sou da opinião que há algumas ilações que como nação podemos tirar e aprender deste caso.

Por um lado, qualquer que seja o conflito, se interferir na vida dos cidadãos os seus fazedores dificilmente terão o perdão dos afectados. Os conflitos podem ter várias razões, mas se os mesmos começam a perturbar o decurso normal da vida das pessoas e mudam drasticamente os sonhos de milhares de cidadãos, os seus fazedores podem ambos se perdoar pela assinatura de um acordo, mas pelo povo não terão um perdão fácil. Foi o que sucedeu na Colômbia, o povo não está contra a paz, mas provou em referendo que não perdoa e não acredita que as FARC possam se converter em cidadãos capazes de conviver de forma civil, sem cometer as atrocidades que outrora cometeram.

A memória de uma guerra é sempre dramática, o que a sociedade moçambicana vive nos dias que correm terá repercussões nefastas na vida de qualquer um no futuro, lembrando que é preciso os nossos políticos saibam que a dor e mágoa de uma guerra não se paga fácil.

Por outro, é no mínimo perplexo, mas a Paz também constrói-se pelo conflito, sendo necessário que haja cedências mútuas para se chegar a este porto. O acordo assinado em Colômbia nos mostra claramente um exemplo de que só de alma e coração limpos pode-se atingir um entendimento.

O movimento revolucionário poderá tornar-se em partido político, concorrer nas eleições presidenciais e legislativas de 2018 e tinham a garantia de 10 assentos no congresso até 2026. Essa é uma demonstração de cedência do Governo colombiano, mas ao mesmo tempo das FARC que aceitaram desse forma entregar as armas num claro jogo de interesses pelo bem comum. A Paz é exactamente um jogo onde os vencedores não são os jogadores, mas sim os telespectadores, desta feita o povo que clama pela Paz.

Esta foi uma tentativa de chamada de atenção em plena semana da Paz para os actores políticos que perpetuam o sofrimento do povo moçambicano, um povo que segundo o relatório do Banco revelado no domingo passado, 2 de Outubro, 60 ‰ da população vive na pobreza extrema e é o décimo país com maior número de pobres no mundo.

Por Dércio Tsandzana

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