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SELO: 75 anos da Arquidiocese de Maputo: A grandeza de uma celebração – Por: Orlando A. Chirrinze

O Estádio da Machava continua a ser um palco de grandes eventos nacionais de várias dimensões: desportivos, políticos, culturais e, até religiosos. Faz menos de três luas que o local se revestiu de gala para receber proeminentes figuras de todas as esferas sociais, entre nacionais e estrangeiras, para testemunhar a passagem de quatro décadas sobre o rugido do “leão de Gaza”, naquela madrugada eufórica, fria e de chuvisco, anunciando a “independência total e completa de Moçambique…”.

No domingo passado, 06 de Setembro, coube a Dom Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo e anfitrião das celebrações, subir ao pódio, qual estadista, tal como fizera o Presidente da República, Filipe Nyusi, nesse passado ainda fresquinho na nossa memória. A diversidade das figuras presentes, a enorme moldura humana (apesar do frio e dos chuviscos, tal como na aludida madrugada de há 40 anos), bem como o papel da imprensa televisiva na transmissão em directo, tornaram-no num evento de dimensão nacional. A organização estava impecável. O desfile do grupo coral em nada ficou atrás dos desfiles militares em cerimónias oficiais.

A ovação a Joaquim Chissano, numa altura em que todos clamamos pela paz (acontecera o mesmo a 25 de Junho pretérito), só demonstra o carisma que o “Obreiro da Paz” granjeia no seio do maravilhoso povo moçambicano.

Aliás, pela paz e concórdia entre os moçambicanos Dom Chimoio ocupou largos espaços da sua homilia. Como que a remendar o facto de as leituras terem sido lidas em apenas dois idiomas, com cânticos a seguirem o mesmo diapasão, eis que chega o momento da oração dos fiéis, uma verdade confirmação da “nacionalização” do evento, através da exibição da riqueza linguística que caracteriza a nossa sociedade.

Com efeito, vários idiomas nacionais foram invocados, ou não fossem as orações manifestações de desejos dos “homens crentes”, moçambicanos neste caso, ao Divino. Outro momento marcante foi o do ofertório. Viu-se de tudo um pouco, desde vassouras e detergentes (o Primeiro-Ministro deve ter ficado satisfeito, ele que há meses lançou a campanha nacional de promoção de higiene e saneamento do meio), passando por produtos alimentares e artigos de artesanato, à oferta de animais, sendo de destacar as galinhas, os cabritos e o assustado, teimoso e irreverente boi.

Os discursos fizeram jus à ocasião. Houve manifestação de reconhecimento do papel da Igreja Católica na formação dos cristãos de todas as igrejas e seitas religiosas de Moçambique e do mundo; um jovem autarca que recentemente esteve “cara a cara” com o Sumo Pontífice mostrou os seus dotes ao aliar passagens do texto bíblico ao discurso político a que está habituado a proferir, etc. Por fim, apesar de não só de pão viver o Homem, mas considerando que a Fé dos presentes é inquestionável, veio o anúncio dos manjares.

Aliás, Jesus alimentou uma multidão de cinco mil pessoas. Porque não haveria o seu “discípulo” de lhe seguir o exemplo?! Foi um evento à altura do jubileu da “casa capital” da Igreja Católica em Moçambique e confirmou-se a grandeza desta no contexto religioso moçambicano. Os seus rituais, que duram desde os tempos em que a missa era celebrada em latim (língua mãe de muitas das línguas que falamos actualmente, incluindo a de Camões que assumimos como nossa), foram mantidos e mostrados publicamente.

Os desfiles das diversas “especialidades” dos clérigos faziam lembrar uma cerimónia de graduação (ou de atribuição de Honoris Causa, como vimos recentemente), ou ainda um desfile dos magistrados. Não houve milagres nem promessas de prosperidade empresarial e sucesso no amor, porque essa não é a filosofia da Igreja de Roma. O resto foi o que todos vimos.

Por: Orlando A. Chirrinze

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