“Parece-me que nos falta a coragem para dizermos a quem de direito que daqui para a frente nos faltam as baterias para resolveremos os problemas dos quais não temos as hipóteses. Neste caso, somente duas pessoas têm as soluções, nomeadamente o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama”, foi assim que o Padre Filipe Couto manifestou mais um desabafo dos medidores nacionais em relação ao fracasso do diálogo político, que se arrasta há mais de dois anos sem nenhum sinal promissor.
O sacerdote disse que os mediadores, ora agastados com o facto de o Governo e a Renamo serem intransigentes nas suas posições, sugerem a realização de um encontro urgente, ao alto nível, entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, pois, ao que tudo indica, só eles podem desencalhar o diálogo.
“O problema está no Centro de Conferências Joaquim Chissano”, afirmou o Padre Couto que acrescentou que os pomos de desinteligência devem transitar para o Comandante em Chefe das Forças Armadas e para o líder do antigo movimento beligerante em Moçambique, ou, então, para o Parlamento como forma de se “evitar que estejamos aqui só a tomar café”.
Nesta sexta-feira (15), esgotam, sem nenhum avanço assinalável, os 60 dias prorrogados no meio de contradições para que a equipa de Cessação das Hostilidades Militares concluísse o trabalho que não tinha sido feito durante os primeiros 135.
A este respeito, José Pacheco adiantou que todo o dinheiro gasto na tentativa de restabelecer a paz em Moçambique está perdido e constatou-se que “o país não pode continuar a financiar a ociosidade. Mas vamos tomar as decisões assim que terminar a missão (…)”.
A verdade, todavia, é que o segundo prazo termina e o país continua sob o espectro de guerra e o clima de tensão não passa de uma vida no fio da navalha. Os discursos de incitação ao ódio e à intolerância política manifestam-se até no Parlamento, onde em vez de se bater ideias que possam conduzir o país para a estabilidade, os deputados fazem a apologia ao belicismo e aos vitupérios.
Aliás, na última quarta-feira (06), aquando do informe anual da Procuradora-Geral da República sobre a justiça, António Muchanga, porta-voz da Renamo, disse, à boca cheia, perante a guardiã da legalidade, que o seu partido possui armas cuja diferença com as da Frelimo é que desta formação política é que matam (…).
Em relação ao fiasco das negociações entre o regime o partido liderado por Afonso Dhlakama, Pacheco reconheceu que o Governo trouxe pessoas ao país por 135 dias para se acomodarem em hotéis sem cumprir os objectivos que tinham sido indicados. E perguntou: “É isso que queremos continuar a fazer? Continuar a gastar o dinheiro dos impostos dos moçambicanos para pagar a ociosidade a pretexto da implementação dos acordos de paz?”
Os intermediários das conversões entre o Governo e a Renamo, que durante mais de dois anos se mantiveram calados na esperança, talvez, de um dia as partes chegarem a um consenso, defendem, ora, que os encontros se tornaram improdutivos e cansativos de tal sorte que o próprio Padre Couto afirma que há gente que se faz ao Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano só para tomar café.
Segundo o sacerdote, que falava em representação dos demais mediadores, a despartidarização do Aparelho do Estado, um dos assuntos que está origem dos sucessivos impasses no diálogo político, devia ser debatido pela Assembleia da República (AR).
Depois de meses a fios a discutir-se em torno da necessidade de se retirar a influência ou o domínio partidário da Frelimo nas instituições do Estado, Filipe Couto considerou que este não é assunto a ser monopolizado pela Renamo nem pela Frelimo, e tão-pouco entre o Governo e o antigo movimento beligerante em Moçambique. Trata-se de um assunto que deve incluir todos os partidos na “Casa do Povo”.
Em torno dos desacordos que prevalecem entre o Governo e a Renamo, o Padre Couto disse que ele e os outros mediadores julgam que, tendo em conta que no país ainda há pessoas que vivem momentos críticos mesmo depois do fim da guerra, as partes deviam discutir a questão económica, sobretudo porque nas zonas afectadas pelo último conflito armado, tais como Vunduzi, Kanda, Nhakuku, Tazaranda, Nhambira, Mucodza, Nhataca, Tambararra, Morombodzi e o posto administrativo de Kanda-Nhamadzi, onde as Forças de Defesa e Segurança e os homens armados da “Perdiz” intensificaram os ataques, “há pessoas que estão a passar fome”.
Num outro desenvolvimento, Filipe Couto voltou a frisar que os mediadores estão a favor da extinção da Equipa de Observação da Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM) porque não conseguiu fazer com que as partes alcançassem o consenso que conduziria à paz.
Saimone Macuiana, chefe da delegação da Renamo, fingiu que as coisas andam bem no país e disse que para o seu partido o mais importante é que o pacto do fim da tensão política seja cumprido em nome da paz da estabilidade do povo e todos nós.