“A qual destas personalidades internacionais você gostaria de dar uma sapatada?”, pergunta, na sua edição online, o conceituado jornal brasileiro ‘Folha de São Paulo’, a propósito do arremesso de um par de sapatos por parte de um jornalista iraquiano contra George Bush na última visita do presidente americano a Bagdad.
Clicando pode ver-se o resultado. Inesperadamente, Bush, apesar de bem colocado, não vai à frente. O primeiro lugar é ocupado por outra figura polémica: Hugo Chávez, o presidente venezuelano com tiques autocráticos que insiste num segundo referendo para se reeleger indefinidamente. O amigo e admirador de Fidel, lidera com 44% dos votos. Segue-se Bush com 35% e em terceiro, a grande distância, o ignominioso Robert Mugabe do nosso vizinho Zimbabwe. Depois vêem outras figuras da região, percebendo-se bem que o inquérito é feito por brasileiros, caracterizados por serem demasiado umbiguistas.
É óbvio que se o inquérito fosse aqui Mugabe teria, seguramente, uma votação superior ao de Chavez no ‘Folha de São Paulo. Eu não tenho pejo em afirmar que daria uma sapatada no líder zimbabweano e se a mesma fizesse ricochete na SADC melhor ainda. A sua passividade, ou melhor, o seu conluio – tanto é ladrão o que rouba como o que fica à porta – com o regime facínora de Harare, é inexplicável.
Este silêncio perturbador faz-se em nome de quê e de quem? Não é, seguramente, em nome da democracia, da liberdade, do respeito pelos direitos humanos, da imprensa livre ou da diversidade de opinião. Será em nome de um “camaradismo” internacionalista obsoleto, retrógrado, reaccionário? De um fascismo de Estado que mata o povo à fome, preocupando-se exclusivamente em alimentar a cúpula político-militar?
Não foi para instalar um regime como este que os países da região formaram a Linha da Frente, em meados dos anos ‘70. À fundação desta organização presidiram egrégios desígnios, como a eliminação do regime racista de Ian Smith na então Rodésia, do apartheid na África do Sul ou a independência da Namíbia. Proponho que se forme outra Linha da Frente para derrubar Mugabe. Não é difícil se houver o mínimo de vontade política para o fazer. O objectivo é tão nobre como o que presidiu à fundação da primeira organização.
A nível interno, a minha sapatada iria direitinha para a PRM, essa instituição que há muito trocou a protecção ao cidadão pela protecção dos criminosos. E, tal como no bowling, quando mais pinos derrubasse melhor. Aqui, ao contrário do ditado, só se ganhavam os que caíssem no chão. O extremo do inqualificável aconteceu cinco dias antes do Natal, quando dois jovens resolveram não parar num auto-stop. Triste ideia a deles. Os dois agentes foram no seu encalço e quando já se encontravam junto do carro fugitivo resolveram descarregar toda a metralha matando o condutor e ferindo gravemente o acompanhante. Acto brutal, hediondo e, sobretudo, cobarde porque ao dispararem os agentes sabiam que o outro lado não representava perigo algum.
Duvido muito que se do outro lado estivesse uma dupla armada, ou seja, em pé de igualdade com os agentes para abrir fogo, estes a tivessem perseguido. Esta reacção das forças policiais fazme lembrar a cobardia do homem que bate na mulher indefesa ou o adulto que maltrata a criança. Por estes dias sucederam-se vários assaltos a residências, a casas comerciais e a restaurantes. Num dos restaurantes uma das empregadas foi, inclusivamente, violada e o patrão baleado. Ninguém (polícia) viu nem ouviu nada.
No trânsito, revelam-se autênticos garimpeiros, conseguindo estar sempre à hora certa, para eles entenda-se e, por oposição, errada para o automobilista, e no lugar certo, ou seja cruzamentos de maior movimento onde conseguem surpreender os mais incautos, sobretudo os estrangeiros. Eu, felizmente, já lhes conheço as manhas. Mas, a aprendizagem, custou-me uns belos meticais. A abordagem no auto-stop é sempre efectuada de uma forma sonsa, dissimulada, em nome de uma segurança que sentimos ser completamente hipócrita.
Falo por mim: nunca senti qualquer segurança diante de um polícia. Antes pelo contrário. Diante deles só sinto extorsão, falsidade, abuso de autoridade. Por mim, dispensava a polícia, esta polícia, leia-se. Esta polícia que solta perigosos cadastrados, esta polícia que mata inocentes, esta polícia que extorque os automobilistas, esta polícia que foge dos ladrões e que persegue habilmente o cidadão comum.
Talvez seja por isso que muitos preferem exercer a justiça pelas próprias mãos.
PS: @ VERDADE voltará à rua na sexta-feira, dia 9 de Janeiro, renovada graficamente. Passará a partir de então a sair no último dia útil da semana. Deste modo, o leitor poderá digerir melhor a leitura durante o fim-de-semana. Até lá desejo-vos um Bom Ano Novo.