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Samora Machel foi um “líder único, daqueles que só aparecem um em cada século”, afirma Jorge Rebelo

Samora Machel foi um “líder único

“Samora odiava os bajuladores que hoje predominam no sistema político. São esses que estragam o país, na ânsia de granjearem simpatia dos chefes. Isso revela falta de verticalidade. São os mesmos (bajuladores) que aparecem como donos ou dirigentes de empresas”.

O antigo ministro de Informação e secretário do Trabalho Ideológico da Frelimo, Jorge Rebelo, pode ser considerado uma daquelas figuras que não se identifica com o actual rumo que o país está a tomar e com o comportamento de alguns, se não a maioria, dirigentes deste país que, durante o período pós- -independência e sob a liderança de Samora Machel, se diziam representantes do povo, para o qual prometeram trabalhar e servir.

Na sua explanação, Rebelo chegou a dizer que Samora Machel foi um “líder único, daqueles que só aparecem um em cada século” e que igual a ele só existe(iu) um: Nelson Mandela. A sua posição de firmeza e competência na luta contra a corrupção fizeram dele um homem implacável e que exigia que as pessoas fossem idóneas.

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Porém, os valores que ele defendia, segundo Rebelo, foram perdidos. “Após a independência, verificámos que alguns dirigentes começaram a construir casas, o que levou Samora a questionar a proveniência do dinheiro. Os que não justificaram viram as suas casas demolidas ou revertidas a favor do Estado”.

A nível pessoal, Rebelo diz que as acções de Samora prejudicaram-no. “Ele obrigou-nos, a mim e aos meus companheiros, a fazer um juramento de honestidade, no qual tínhamos de nos comprometer a não nos submetermos a actos de corrupção”.

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“Após a sua morte, houve oportunidades. Apareceram empresários que me propuseram parcerias, prometeram salários acima da média. Senti-me tentado, é verdade, mas sempre que estivesse para ceder, aparecia a imagem dele (Samora) dizendo: Rebelo, o que estás para fazer? Eu podia aceitar, tinha poder, era ministro. Mas não o fiz”, revela.

Outros, porém, não resistiram, daí que hoje, de acordo com Rebelo, vemos muitos dirigentes e antigos combatentes a envolverem- -se em esquemas de corrupção, com ganância de enriquecer sem olhar a meios. “O exemplo disso são as multinacionais que exploram os nossos recursos, levam-nos para os seus países e deixam buracos. Não pensem que isso é feito de uma forma gratuita, há dirigentes que recebem dinheiro em nome do(s) (interesses) povo. O espírito de trabalhar com e para o povo há muito que deixou de existir”.

Ano Samora Machel

“Quando o Governo declarou 2011 como Ano Samora Machel fique esperançado e pensei que, a partir daquele momento, passaríamos a seguir os seus ensinamentos”, foram estas as palavras de Jorge Rebelo quando questionado sobre as directrizes que levaram o Governo a declarar o ano 2011 como Ano Samora Machel.

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No seu entender, os métodos e as políticas do Governo, que deviam ser em benefício do povo, têm estado a falhar. “Samora dizia que temos de estar em contacto com o povo e ele fazia. Hoje, só vemos o Presidente em presidências abertas. E os outros, o que fazem? Só faz sentido declarar Ano Samora Machel ou outra forma de o homenagear se seguirmos a sua orientação”.

“Samora era amado pelo povo porque era coerente”

Em relação ao actual sistema de governação, Rebelo é de opinião de que os dirigentes deviam trabalhar para o povo e não para eles. “Mesmo havendo incompatibilidades, eles acumulam cargos, uns são donos de (grandes) empresas. Com Samora era diferente, a Frelimo existia e trabalhava para o povo”.

É por isso que hoje, na sua opinião, o povo se revolta porque não vê o trabalho dos actuais dirigentes do país. “Fico confuso quando abro o jornal e o Governo diz que houve muitas e grandes realizações enquanto há um descontentamento considerável no seio do povo. O povo diz que houve realizações mas continua sem ter o que comer, o que vestir. Quando um pai manda o filho à escola é na certeza de que, depois de concluir, duas coisas podem acontecer: ou ele não saberá ler nem escrever ou não terá emprego”.

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Governação

O antigo ministro de Informação diz que a actual governação não privilegia o diálogo com o povo, e muitas vezes toma decisões sem o auscultar. “As pessoas querem sentir-se parte da governação. Samora chamava todos os sectores da sociedade para participar na tomada de decisões sobre a vida do país. Hoje, as decisões são tomadas no/pelo topo e impostas à base (que é o povo). A isso chama-se exclusão”.

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