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Construção de pontes na EN1: um mal que veio para o bem

Com a construção das pontes aéreas nos bairros 25 de Junho e Benfica, ao longo da avenida de Moçambique, tornou-se literalmente impossível circular por aquela via. Como alternativa, os automobilistas recorrem à avenida Julius Nyerere, que é, por natureza, um caos.

O problema gera desagrado em muitos automobilistas, passageiros e, por vezes, peões. Os primeiros (automobilistas) vêem-se, muitas vezes, na obrigação de parquear as suas viaturas até que a situação fique resolvida.

Diga-se que “vale a pena ter pouco do que nada”, afinal, com esta situação, Lourenço Macamo, motorista dum veículo semicolectivo de passageiros que faz a rota Museu – Magoanine via Hulene, vê-se num cenário crítico em que das duas saídas que lhe restam (desistir ou continuar com a actividade), nenhuma delas se afigura melhor que a outra.

Se abandonar a actividade não é a solução que se pode avançar, o mesmo se pode dizer quando percebemos que depois de longas horas a fio no congestionamento de Hulene, a esperança é conseguir pouco menos de quinhentos meticais para levar ao “patrão” como “receita do dia”.

Mas não é para menos: os automobilistas chegam a ficar mais de uma hora na fila para poder atravessar os semáforos de Hulene. Vezes há em que a fila começa na praça da Juventude.

Pior do que isso é ter que correr o risco de, ao chegar ao trabalho, “dar de caras” com um processo disciplinar, instaurado pelo patronato, simplesmente porque o (im)previsível congestionamento da avenida de Moçambique faz com que Rachid Cumbana chegue, quase sempre, duas horas atrasado ao seu local de trabalho.

“Às vezes saio de casa às 6 horas para entrar às 8 horas e só consigo chegar às 9:30, porque do cruzamento de Mahlazine até o cruzamento entre a Avenida de Moçambique e a Rua São Paulo, no Choupal, há congestionamento. Só quem vive na zona norte da cidade de Maputo pode confirmar o que estou a dizer”, diz Cumbana.

Episódios deste género vêm acontecendo há muito tempo, mas os mesmos tornaram-se frequentes (entenda-se normais) com a edificação das pontes aéreas nas zonas do Benfica e Choupal, como corolário da reabilitação e ampliação da Estrada Nacional Número Um (EN1).

Antecedentes

Dado o fluxo de pessoas que diariamente atravessam a Avenida de Moçambique, os governos central e municipal acharam melhor colocar pontes aéreas nos pontos considerados críticos, nomeadamente Benfica e Choupal, à semelhança do que foi feito na Estrada Nacional Número Quatro (EN4) e defronte do Cemitério de Lhanguene.

Até finais do ano passado, o projecto já tinha começado a ganhar rosto. O material já tinha sido colocado no terreno e os primeiros pilares já surgiam. Até aí não havia nenhuma objecção.

O descontentamento surge quando, no dia 9 de Janeiro, a construtora CMC África Austral (responsável pelo lote 6 da construção da EN1 no troço compreendido entre a zona da Missão Roque e Jardim) decidiu bloquear parcialmente uma das faixas do sentido Sul – Norte.

O bloqueio da referida faixa visa(va) a colocação de tabuleiros que suportam a plataforma superior da ponte, ou seja, o elo que ligará os dois extremos da ponte. Aquando do início das obras, um dos engenheiros responsáveis assegurou que a sua empresa (CMC-África Austral) tinha um plano de gestão do trânsito durante os dias em que este estaria condicionado. Contudo, nada do que foi prometido está a ser feito.

“A polícia nada faz”

O desespero em que os automobilistas se encontram leva-os a afirmar que a polícia nada faz para melhorar a circulação automóvel naquela que é uma das mais importantes vias de acesso ao centro da cidade.

Narciso Lucas * arrisca-se a dizer que a polícia não tem feito nada mais do que assistir ao deslize “camaleonino” do trânsito, esperando sempre por alguma oportunidade para “assaltar” o bolso do “chapeiro”.

“Normalmente, a polícia fica na faixa central da avenida a assistir aos carros imóveis. Não se dão ao trabalho de orientar a entrada e saída de carros, principalmente nos entroncamentos. A sua atenção está sempre virada para pequenas infracções dos “chapeiros” para cobrar dinheiro, ilicitamente”, queixou-se Lucas.

Muitos dos automobilistas que usam a EN1 já previam o caos que a construção das pontes iria criar, embora não fizesse ideia da dimensão que o mesmo tomaria. E mais ainda, por se tratar de uma situação antes prevista por todos, automobilistas e agentes da Polícia de Trânsito (PT), os primeiros esperavam que uma equipa mais flexível e eficaz fosse criada para pôr cobro à situação.

“Os agentes da PT que têm estado nos dois pontos, nomeadamente Choupal e Benfica, não se mexem. Não têm agido no momento em que o povo mais precisa deles, daí as enormes filas”, desabafou Narciso Lucas.

Ele é da opinião de que a actuação da PT não devia esta concentrada apenas nos pontos onde decorrem as obras, porque naqueles locais basta um agente para orientar os automobilistas dado que a circulação destes ficou limitada a uma faixa em cada sentido.

Maus condutores

Para além da polícia, que age de forma indiferente perante o caos instalado, o congestionamento nas avenidas de Moçambique e Julius Nyerere intensifica-se devido à condução irresponsável e desregrada de alguns transportadores de semicolectivos de passageiros e não só.

Segundo um agente da polícia de trânsito abordado pelo @Verdade no cruzamento entre a avenida Julius Nyerere e a rua da Beira, (Hulene – Expresso), o que torna o congestionamento insustentável, pelo menos naquela via, é a forma como os condutores se fazem à estrada. Para além disso, o referido agente defende que a estrada é pequena para o fluxo de veículos automóveis que circulam na cidade.

“É preciso reconhecer que esta estrada é demasiado estreita, mas a situação torna-se pior com os condutores que não respeitam as normas de trânsito. Estes fazem ultrapassagens irregulares, galgam passeios e, quando chegam ao semáforo, todos querem passar em simultâneo. São estas situações que fazem com que tenhamos, a uma determinada hora, principalmente nas horas de ponta, um trânsito estático”, justificou-se.

Questionado sobre a ineficácia de alguns agentes na gestão de situações similares, este admitiu haver fragilidades no seio da corporação.

“O cenário a que se assiste é novo e muitos dos agentes que temos na corporação não têm experiência na gestão deste tipo de congestionamentos. É preciso assumir que muitas vezes ficamos desesperados, sem saber por onde começar o monitoramento da situação porque a nossa preparação (como polícia de trânsito) não previa casos deste género”.

Numa resposta evasiva, o nosso interlocutor voltou a apontar os “chapeiros”, principalmente os das viaturas de 15 lugares, como sendo os responsáveis pela deficiente circulação do trânsito na capital do país.

“Os transportadores semi-colectivos, na tentativa de fazer as ´receitas` estipuladas pelo patronato, arriscam-se em aventuras gratuitas. Andam à alta velocidade em lugares não recomendados. A intenção é estar sempre à frente e, por causa disso, tornam difícil a circulação das outras viaturas, para além dos acidentes que causam”, concluiu.

Semáforos e paragens mal posicionados

Para muitos, os semáforos constituem-se como uma segunda barreira, depois do congestionamento. A título de exemplo, apontam para os semáforos do Choupal que, segundo eles, não estão sincronizados e estão a poucos metros das paragens.

“É complicado ter uma paragem a escassos metros do semáforo. O mais grave é que estas paragens estão localizadas ao virar da esquina. Veja o que acontece no Benfica, há chapas que param no meio da estrada para levar passageiros porque as pessoas responsáveis pelo sector de transportes decidiram colocar uma paragem naquele local ”, lamentou um dos automobilistas interpelados pelo @Verdade.

Ao longo da “espinha dorsal” da capital do país (EN1), tanto no cruzamento entre a avenida de Moçambique e a rua São Paulo, no bairro 25 de Junho, bem como no cruzamento entre avenidas de Moçambique e 4 de Outubro, no Benfica, o cenário é semelhante ao acima descrito: as paragens estão ao virar da esquina.

O mesmo “espectáculo” é notório na esquina entre a avenida Julius Nyerere e a rua da Beira, que, para além das paragens dispostas em ambos os sentidos, uma moldura humana assalta o lugar com algumas bancas donde provém o pão de cada dia. São estes e mais factores acima descritos que fazem de Maputo uma cidade em que o trânsito simplesmente pára.

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