O antigo director da Voz de América para os Serviços em Português, Gregory Pirio, disse, segunda-feira, em Maputo, que a cobertura dos assuntos ligados ao HIV/Sida pela imprensa moçambicana é de fraca qualidade, comparando com o resto dos países da região e do mundo.
Para Pirio, tal facto deve-se a estrutura do próprio jornalismo moçambicano, que se apresenta cómodo às informações avançadas pelas fontes de topo e de organizações internacionais como, por exemplo, a Agência norte-americana para o Desenvolvimento (USAID), a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre outras.
Neste contexto, segundo ele, há uma tendência de os jornalistas tomarem como fonte principal a informação oficial, em detrimento das fontes de base que são de pessoas vivendo com HIV/Sida e dos especialistas de saúde.
Pirio falava durante uma palestra promovida pela Universidade A Politécnica, subordinada ao tema “a Comunicação e o Papel de Jornalista no Desenvolvimento da Comunidade.
Um estudo realizado nos países da região e alguns de Ásia e América pela Universidade norte americana, ‘John Hoppins’ de que ele é consultor, Pirio constatou que a imprensa moçambicana é menos interventiva e mais passiva aos dados do governo e de organizações do que a imprensa dos países como Malawi, Tanzânia, São Tome, Angola, Indonésia, entre outros.
Para ultrapassar este problema, o antigo director da “Voz de América”, sugeriu a interacção entre a imprensa e a comunidade na comunicação global de saúde, dando mais voz às pessoas padecendo com esta pandemia.
“A conversa tem implicações noutros sectores para além da saúde, dar voz aos jovens, ouvi-los, interagir e difundir informações sobre eles garante um crescimento sustentável e evita pontualmente possíveis crises socio-políticas que acontecem no Norte de África e uma parte de Ásia”, advogou.
O estudo de comunicação e saúde global baseou-se em pesquisas, e workshops nas províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa, Sofala, entre outras.
Nesse estudo, Pirio critica algumas organizações porque estas, no seu entender, não desenvolvem projectos concretos de combate à sida e conducentes à mudança de comportamento, concentrando-se mais em produzir relatórios com dados que não condizem com a realidade.
“Nos seus relatórios dramatizam a situação real, de modo a angariar mais fundos, porque a sida, para estas organizações, é uma oportunidade de negócio, mais do que causa humanitária”, criticou.
Por seu turno, Augusto de Carvalho, docente universitário e primeiro correspondente da Voz de América em Moçambique, disse que o Governo e os parceiros investem mais dinheiro na área de HIV-SIDA que na agricultura, mas os resultados dos programas de combate não são animadores.