Leio no Jornal de Notícias online de Portugal que a Renamo, na voz do seu líder, Afonso Dhlakama, garante que “nunca vai haver mais guerra, mas não está nada satisfeito com a situação e é preciso que sejam resolvidos rapidamente os problemas pendentes” que dizem respeito à composição dos órgãos eleitorais. Enfim…
Se Dhlakama estiver a falar a sério, não me restam mais dúvidas de que a Renamo será sempre a Renamo: um partido indisciplinado, incompetente e sem programa claro! Acima de tudo, um partido desatento. Pois se a Renamo tivesse tirado alguma lição destes quase 20 anos de democracia em Moçambique, então, a esta altura, já saberia que democraticamente, através de eleições, não iria bater a Frelimo. Jamais! Não conseguiria bater um partido que capturou o Estado e que se confunde com o mesmo.
Não jogando o jogo desse partido – que é o “Jogo Democrático para a Comunidade Internacional Ver”. Primeiro, porque a Frelimo vive sabotando a Renamo e com planos de reduzir “a oposição à insignificância”, de modo que desapareça nos próximos anos. Segundo, porque a Renamo não tem dinheiro que lhe permita construir uma estrutura funcional para bater a Frelimo.
E também não é “aliciante” financeiramente quanto a Frelimo, que controla os negócios do Estado e, deste modo, tem o poder de decisão sobre o “destino económico” dos moçambicanos. Ou seja, a Renamo não tem dinheiro nem tem um meio de intimidar economicamente os moçambicanos para que lhe sejam fiéis.
Terceiro, porque a Frelimo ainda é um partido armado – armado via Estado. A Frelimo controla o Exército, a Polícia e o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE). E, através destas forças, controla aos moçambicanos. E a Renamo, a quem controla?
E, quarto, porque, com a sociedade civil moçambicana, está claro que não pode contar. Sociedade civil mais estática e/ou medrosa e/ou complacente e/ou facilmente corruptível como a moçambicana não existe.
Aliás, a sociedade civil moçambicana sempre marginalizou a Renamo e todos os outros grupos/movimentos que se atreveram a criar algum tipo de insubordinação ao Governo da Frelimo. Sem ignorar que foram os moçambicanos que deram maioria qualificada ao partido Frelimo no Parlamento moçambicano.
Portanto, não será mudando a composição dos órgãos eleitorais que vão fazer frente à Frelimo com possibilidades de sucesso nas eleições. A Renamo só tem a si mesma para desbancar ou equilibrar a Frelimo no poder. Sendo mais claro: a Renamo só tem as armas para ou tomar ou forçar alguma coisa neste país.
E mais: na tal matéria do Jornal de Notícias, Dhlakama é citado como tendo referido várias vezes as diferenças entre o sul e o norte, sugerindo que a Frelimo pretende destruir o norte nos próximos 20 anos. E eu questiono: com tudo isto, a Renamo e Dhlakama só estão a bater-se pela composição dos órgãos eleitorais?!
É que, chegados à situação actual de conflito iminente, ainda que não tenha possibilidades de vencer militarmente a Frelimo, se ambiciona subir ao poder um dia ou, pelo menos, fazer cair a Frelimo, a Renamo não pode vacilar agora.
De qualquer das maneiras, a Renamo é um partido liquidado, não vai ganhar as eleições neste país – não com esta geração de dirigentes, e, para piorar, quando esta geração desaparecer, vai desaparecer o partido também –, por isso, penso que não tem nada a perder. Podem escolher entre ou morrer tentando derrubar a Frelimo ou viver como perdedores.
Entretanto, como temo que este partido seja de perdedores natos, certamente chegarão a mais um acordo com a Frelimo que, posteriormente, não será cumprido. E esta terá sido mais uma oportunidade de efectivamente se efectuar e/ou forçar mudanças neste país desperdiçada…