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Recuo de Berlusconi garante sobrevivência do governo italiano

O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, obteve o voto de confiança do Parlamento, esta quarta-feira (2), depois de Silvio Berlusconi, enfrentando uma revolta no seu próprio partido, ter voltado atrás na sua ameaça de derrubar o governo.

À medida que dezenas de senadores de centro-direita preparavam-se para desafiar o seu líder e magnata da mídia e salvar a coligação de esquerda e direita liderada por Letta, Berlusconi recuou abruptamente e disse que também apoiaria o primeiro-ministro de centro-esquerda, poucos dias depois de desencadear a crise retirando os seus ministros do gabinete de Letta.

Depois de um debate no Senado, acalorado em alguns momentos e no qual recebeu repetidas acusações de semear o caos na tentativa de deter a sua expulsão iminente do parlamento na esteira de uma pena por evasão fiscal, Berlusconi disse: “Decidimos, não sem alguma luta interna, apoiar o governo”. O mercado financeiro reagiu positivamente.

As acções da Bolsa de Milão subiram quase 2 por cento e os ganhos nos títulos de dez anos do governo caíram para 4,34 por cento, patamar mais baixo do dia. Mas a solução da crise, sete meses depois dumas eleições inconclusivas, deixa grandes pontos de interrogação a respeito da habilidade de Letta de lidar com problemas profundos na economia da Itália que atormentam o seu parceiro no euro.

A declaração de apoio tardia de Berlusconi causou um sorriso de espanto no primeiro-ministro, que àquela altura parecia certa da vitória com o apoio de rebeldes da centro-direita. Berlusconi escondeu o rosto com as mãos depois de falar. No que pode ser um dos seus últimos actos no Senado antes dos procedimentos para a sua remoção começarem, na sexta-feira.

O bilionário de 77 anos depositou o seu voto junto com os 235 outros para manter Letta no cargo. Mais tarde, quando saía, ele foi assediado por observadores. Letta, apoiado por seu próprio Partido Democrata (PD) e por Berlusconi e seu Povo da Liberdade (PDL), só teve a oposição de outros partidos, que amealharam 70 votos contra ele.

O primeiro-ministro, que assumiu em Abril depois de um pleito sem maioria clara em Fevereiro, disse que irá seguir adiante com um programa de medidas fiscais para manter as depauperadas finanças públicas italianas sob controle e reformas para controlar a pior recessão em 60 anos.

Ele também comprometeu-se com uma reforma da amplamente criticada lei eleitoral, que dá às duas casas do Parlamento poderes iguais e torna difícil para qualquer partido obter uma maioria funcional.

Entretanto, a natureza surpreendente da vitória deixa uma série de perguntas sem resposta a respeito da estabilidade do governo e do futuro do movimento político de centro-direita na Itália, que chegou perto da implosão à medida que a votação se aproximava. Tendo começado como voto de confiança em Letta, o dia tornou-se um teste para Berlusconi, cujo controle outrora inquestionável sobre a ala conservadora do espectro político enfrentou a sua maior ameaça desde que entrou na política duas décadas atrás.

A sua declaração a favor de Letta coroou um dia que oscilou entre o drama de alta voltagem e o que um político centrista chamou de farsa, uma vez que uma rebelião partidária inédita persuadiu o três vezes ex-primeiro-ministro de que não fazia sentido continuar a resistir.

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