Apesar dos tímidos sinais de retomada, a economia mundial não parece ter atingido seu limite e corre o risco de ser duramente fragilizada pelo aumento do desemprego e o estado de saúde incerto do sistema bancário, advertem diversos especialistas. Radiante por uma série de indicadores melhores que o previsto, a administração norte-americana falou nesta semana sbore o “início do fim da recessão”, enquanto a China mantém um crescimento vigoroso.
Tranquilizados, os mercados financeiros começaram a operar em alta. “Há sinais de desaceleração da recessão”, analisou um ex- responsável do FMI (Fundo Monetário Internacional), que pediu anonimato. O risco de um novo choque sistêmico comparável à falência do banco americano Lehman Brothers – epicentro da crise mundial – parece estar se afastando. “Os Estados estão utilizando todos os meios para evitar a falência de um estabelecimento financeiro”, afirmou Cinzia Alcidi, economista do Centre for European Policy Studies, em Bruxelas.
“Evitamos o desabamento do castelo de cartas das finanças mundiais”, resumiu Elie Cohen, economista no CNRS. Entretanto, a situação não deve gerar muito otimismo e o fim da recessão não será sinônimo de crescimento vigoroso, segundo especialistas. “A economia mundial vai estagnar a um nível baixo durante um longo período”, previu François Bourguignon, ex-vice-presidente do Banco Mundial. “A crise está controlada, mas seus efeitos continuam sendo ainda muito sérios”, destacou Elie Cohen, acrescentando que a economia mundial conhecerá em breve “sua hora da verdade”.
A disparada do desemprego será o maior teste. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) o planeta pode ter até 59 milhões de desempregados a mais este ano em relação a 2007, ou seja, um aumento de 31%, e o fim da recessão não deve inverter esta tendência. “Em uma economia que parou de cair, mas que aumenta vagarosamente, o desemprego continua aumentando”, disse François Bourguignon. Consequência: a renda das famílias pode sofrer e derrubar o consumo, um dos principais motores da economia. “O crescimento mundial não será mais alimentado artificialmente pelo endividamento das famílias americanas”, comentou Elie Cohen.
A capacidade dos bancos de sustentar a retomada da economia continua sendo um motivo de preocupação, principalmente na Europa, onde as empresas dependem estreitamente do crédito bancário para financiar seus investimentos. “Há um risco de perda em massa para o crescimento na Europa se não afastarmos as zonas de sombra dos bancos”, afirmou Nicolas Véron, do centro de estudos Bruegel, lembrando que os EUA já fizeram testes de resistência com os principais bancos do país. “É indispensável lançar uma luz (sobre os bancos) para que o investimento privado assuma o papel dos poderes públicos que atuaram em massa para sustentar a economia”, acrescentou Cinzia Alcidi.
Ao reconhecer a utilidade destes diferentes planos de retomada, diversos especialistas ficaram assustados com a degradação das finanças públicas dos Estados. Segundo o FMI, a dívida dos países industrializados pode chegar a 120% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em 2014, complicando seu financiamento nos mercados. A agência de classificação de risco Moody’s indicou que a degradação das contas públicas se tornou o aspecto central da crise.