O presidente cubano, Raúl Castro, procura consolidar seu poder nomeando seus homens para cargos importantes na sua primeira remodelação ministerial, um ano depois de suceder a seu irmão Fidel Castro, que aprovou esta terça-feira o afastamento de dois dirigentes do governo que tiveram, segundo ele, uma “conduta indigna”.
Várias mudanças foram anunciadas na segunda-feira no governo cubano, que viu, segundo analistas, a chegada de fiéis a Raúl Castro, 77 anos, e a saída de personalidades consideradas próximas a Fidel, como o chanceler Felipe Perez Roque. Fidel Castro, 82 anos, denunciou em um comentário publicado hoje no site cubadebate.cu as informações mencionando “uma substituição dos homens de Fidel pelos homens de Raúl”.
O ‘Comandante’ explicou no seu comentário que nomeara os dirigentes afastados “após uma proposta neste sentido emitida por outros camaradas da diretoria do Partido” e que “as duas pessoas mais mencionadas” na imprensa não foram demitidas por “falta de valor pessoal”, mas por terem alimentado “ambições que as levaram a desempenhar um papel indigno”.
“O inimigo estrangeiro estava cheio de ilusões com eles”, declarou, referindo-se implicitamente a Perez Roque e ao vice-presidente Carlos Lage, idealizador das mudanças econômicas dos anos 90. “Fui consultado sobre a designação dos novos ministros, apesar de ter desistido há algum tempo das prerrogativas do poder”, escreveu Fidel Castro.
Com a fusão de ministérios e a saída de ministros, os setores da economia e das finanças foram os mais afetados por esta remodelação, anunciada segunda-feira com o objetivo de “agilizar” um aparelho de Estado muito burocrático e que pode abrir o caminho para as “mudanças estruturais” prometidas pelo general Raúl Castro desde sua chegada ao poder para reerguer uma economia no fundo do poço.
No dia da sua nomeação oficial no comando do Estado, em 24 de fevereiro de 2008, Raúl Castro garantiu que consultaria seu irmão, o fundador do regime comunista cubano, sobre todas as decisões importantes. Contudo, desde dezembro Raúl Castro parece estar a querer impor o seu estilo, abrindo a diplomacia de seu país – sob embargo americano há 47 anos – e estendendo uma mão tímida ao novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Já Fidel Castro anunciou que adotaria um estilo mais discreto e reduziria o número de suas “reflexões” (mais de 150 desde março de 2007) para não “perturbar” os dirigentes cubanos “em suas decisões”. Na opinião de um diplomata estrangeiro, “Raúl Castro está a querer consolidar o seu poder” dentro de instituições “divididas entre pragmáticos favoráveis a mudanças e a uma abertura econômica e diplomática, e conservadores como Fidel, que consideram que o sistema não deve mudar”.
“Não se trata do início das mudanças econômicas, mas da afirmação do estilo de Raúl, que se separa definitivamente dos radicais do governo”, explicou, por sua vez, Eugenio Yanez, um ex-militar cubano exilado nos Estados Unidos.
Com exceção da redistribuição das terras do estado a particulares e da supressão do teto salarial, as mudanças prometidas por Raúl Castro não avançaram, justamente por causa da oposição da ala radical do Partido.