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Ras Tony maltratado no Coconuts

Ras Tony maltratado no Coconuts
Se o Festival de Reggae havido na semana passada no Coconuts foi pouco concorrido, então esse castigo irá também para Ras Tony e todos os seus companheiros. É muita pena que isso tenha acontecido porque, na nossa opinião, todos aqueles que se fizeram ao palco para, através da sua báscula intelectual despejar para os nossos sentimentos o Reggae, não vão merecer esse desamparo.
O Coconuts esteve quase vazio e, antes de começar o espectáculo, ficámos com medo de que o mesmo não fosse acontecer, ou, se se realizasse, estaria com pouco sal. Mas enganámo-nos. Enganámo-nos pois todos aqueles que tinham como tarefa oferecer-nos aquela música de Deus, arregaçaram as mangas, pegaram no martelo e escopro e cumpriram a sua missão. Como se o Coconuts estivesse a rebentar pelas costuras.
Era uma noite amena e o espectáculo estava marcado para as 22.00 horas.
 
Porém, começou muito mais tarde e, as poucas pessoas que foram reconfortar os fazedores do Reggae, esperavam pacientemente pelo momento. E esse momento chegou começando logo com um turbilhão. Foram os Haitrim World Sound and Power que deram o mote. Eles é que acenderam o rastilho de uma dinamite que começava neles próprios. Porque a entrada quente daqueles jovens era mais do que incendiária, corroborando, desse modo, as palavras de Ras Tony quando nos dizia – em conferência de imprensa – que o Coconuts iria pegar fogo. Na verdade, o Coconuts pegou fogo.
 
Os Haitrim World Sound and Power presentearam-nos com um Reggae maleável e forte, que nos punha a oscilar entre o próprio Reggae e ritmos africanos, transformando tudo aquilo numa festa que desprezava o número reduzido do público presente. Aquele grupo – como viria a acontecer mais tarde com Trevor Hall e Ras Tony – mostrou-se superior ao vazio e respeitou os que lá estiveram, porque o público merecia isso. Foi uma prestação de bom nível, ficando claro que estamos em presença de uma banda profissional e responsável e com imensas capacidades de planar por alturas ainda mais distantes.
Jamaica em Maputo
Trevor Hall já não terá a capacidade de voltar para Jamaica. Ele vive em África há cerca de oito anos. Está estabelecido em Harare onde constituiu família. E de onde parte -sempre que as oportunidades se estenderem a seus pés – para vários lugares, como agora que está em Maputo.
Todos que foram ao Coconuts já conheciam Trevor, porque não é a primeira vez que ele vem cá. Conhecem-no pela presença física e pelos discos. Então a expectativa só podia ter justificação plausível. Trevor Hall também sabia que era esperado, porque sabiam quem ele era. Será uma forma de prestar tributo aos fãs que nunca lhe tocaram, mas que lhe tocam sempre.
 
Trevor é uma pessoa fugidia quando está fora dos palcos. Já disse várias vezes – como um verdadeiro rastafari – que gostaria de morrer limpo, particularmente sem que jorre sangue por sua causa. Nem dos animais. Ele é vegetariano. Humilde. Honesto. Mas no palco já não será aquele Trevor que parece ter medo de alguma coisa. No estrado veste a pele de um verdadeiro artista que sabe o que está ali a fazer. Ele tornou-se empolgante e pegou no coração de todos.
 
Já não pode ser verdade que Trevor Hall toca Reggae puro. Também já não há nada puro em nenhuma parte do mundo. Trevor apresentou-nos um Reggae inteligente, já com algum cheiro de África. Ele teve um desempenho extraordinário. Aquele Trevor Hall aparentemente tímido desapareceu. Trazia uma jangada dentro da qual meteu toda a gente. Que foi com ele sem regatear. O jamaicano continuou com uma festa que já tinha sido iniciada pelos Hatrim World Sound and Power. E conseguiu-o muito bem, parecendo que o Coconuts estava a rebentar pelas costuras.
Ras Tony e Maputo Land
Já era madrugada quando Ras Tony e Maputo Land subiram ao palco. Ninguém estava cansado porque o Reggae destilado era de boa qualidade. O público também, apesar de pouco, era de boa qualidade. Era gente que foi para ali porque gosta desta forma de expressão dos rastafari. E aqueles que tinham o dever de amassajar as almas presentes, estiveram à altura de o fazer.
 
Ras Tony usou a ocasião de “Duas Mentes” para promover o seu Summer Hallyday, acompanhado por um naipe de artistas competentes. Este músico, à semelhança dos seus antecessores – Hatrim World Sound na Power e Trevor Hall – em cada música metia mais acha na fogueira. Incendiando ainda mais um local que já estava aceso desde o início. Ras Tony movimentava-se no palco como um verdadeiro Reggaeman, debaixo de uma instrumentação estudada e trabalhada. A actuação era uma verdadeira homenagem ao Reggae. Num festival que ficará na memória – durante muito tempo – daqueles que lá estiveram.
 
A actuação de Ras Tony fez-nos também lembrar as suas palavras quando nos dizia: “Chamaram-me para denegrir a minha imagem. Também eu cometi um erro ao concorrer para o MMA, porque os rastas não competem. Estou há mais de 20 anos nestas lides e nunca tinha concorrido. Agora fui, denegriram-me e retiraram-me o mérito, mas é uma lição que devo aprender para o futuro”. Lembre-se que Ras Tony era um dos nomeados do MMA e perdeu a favor de Azagaia.
 
Ras Tony diz ainda que não tem nada contra o vencedor do MMA na categoria de Reggae, “mas se tu fores a pedir ao Azagaia para te falar do Reggae, duvido que ele te diga algo de substancial. Ele tem o seu estilo que acho que deve ser respeitado”. Entretanto, o músico sente-se lisonjeado por ter entregue o prémio de “Canção mais popular” a Liza James. “Ela merece”, rematou Ras Tony.
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