Na próxima terça-feira, cerca de 215 milhões de norte-americanos vão votar e escolher entre a continuidade de Barack Obama que já não carrega a mesma esperança do “Yes, we can”, de 2008, e Mitt Romney, o multimilionário cujo principal foco da sua campanha são os negócios e a moral familiar.
Esta eleição, do 44º Presidente norte-americano, tem cobertura especial do enviado d´ @Verdade aos Estados Unidos da América, e pode ser acompanhada todos os dias na aqui na verdade online ou em tempo real no twitter @DemocraciaMZ.
Há quatro anos, este jornal, que ainda ia na sua décima primeira edição, teve um dos seus primeiros desafios editoriais. O @Verdade tem de ser concluído à quarta- -feira à noite e, na altura, havia a possibilidade de os Estados Unidos da América elegerem o seu primeiro Presidente negro, ou pelo menos de ascendência africana, mas os resultados, na melhor das hipóteses, só seriam conhecidos durante a quinta-feira.
Não terminar no dia habitual significa atrasar não só a impressão mas também a distribuição do jornal, o que representaria a quebra do nosso compromisso com os nossos leitores que, às sextas-feiras e sábado aguardam “religiosamente” pelo seu exemplar.
Na altura, uma publicação norte-americana, a Revista Economist, – partindo do princípio de que a eleição presidencial norte-americana é do interesse do resto do mundo –, fez uma sondagem reproduzindo o modelo norte-americano de votação, redesenhando o mapa eleitoral e permitindo que os habitantes de todos os países do mundo votassem em quem gostariam de ver na presidência dos Estados Unidos: o candidato republicano John McCain ou o democrata Barak Obama.
O mundo elegeu Obama e, para nosso alívio, os norte-americanos também. @Verdade havia destacado na capa Obama. Hoje, Obama tenta reeleger-se com a vantagem de ter obra para mostrar, embora várias promessas tenham ficado na gaveta, mas enfrenta um determinado Mitt Romney que, segundo as imensas sondagens que vão sendo divulgadas, está a disputar cada um dos votos.
O candidato republicano chegou mesmo a ultrapassar o Presidente nos últimos dias, em algumas sondagens. Mas a crise económica, e o número cada vez maior de desempregados que acabam por ficar sem um tecto, e até a pedir esmola, ensombram o primeiro mandato de Obama.
Carl, um taxista negro de Boston, afirma mesmo que a eleição presidencial não lhe interessa “quando me ligam (das campanhas) eu desligo o telemóvel (…) ir votar não me põe comida na mesa”.
Mesmo os latinos, uma das maiores comunidades de emigrantes, parecem muito motivados a ir votar na terça-feira. “Só contam mentiras, quando chegam lá não fazem nada” afirma Javier, um cubano radicado em Atlanta há mais de duas décadas.
Furacão parou a campanha
Entretanto, a renhida disputa pelos votos teve de ser interrompida no passado domingo (28), pois um superfuracão fustigou vários Estados da costa leste dos Estados Unidos, depois de haver criado imensos danos materiais e vítimas humanas em Cuba e no Haiti.
Muitos Estados norte-americanos ficaram literalmente submersos, havendo milhares de desabrigados, centenas de estradas cortadas, aeroportos fechados, cerca de oito milhões de pessoas sem energia eléctrica, sendo que os danos materiais, em definitivo, estão ainda por calcular.
Mas mesmo sem saber ao certo quando várias estradas vão voltar a ficar transitáveis, quando o sistema de transporte público em algumas grandes cidades vai poder funcionar de novo, em que altura as populações vão regressar a casa, os dois candidatos estão a tentar transformar o furacão numa oportunidade para ganhar votos.
Falar em “oportunidade” quando se está perante um desastre natural que afecta milhares de pessoas soa sempre mal, mas é precisamente esse o pensamento nas campanhas políticas confrontadas com o furacão Sandy: uma vez que não são elas a definir a mensagem, nem são elas a conduzir a sua mediatização, interessa-lhes, acima de tudo, aproveitar a oportunidade para aprofundar o seu relacionamento com grupos fundamentais de eleitores que possam ter sido afectados pela intempérie, demonstrando no terreno as características de liderança em situação de crise que permitam convencer os indecisos.
E aqui o Presidente Barack Obama tem nesta crise (em teoria) uma melhor “oportunidade” para explorar os argumentos da sua campanha para a reeleição do que o seu adversário republicano Mitt Romney. Em momentos de crise, a tendência americana vai no sentido da recon-ciliação e da unificação em torno de um projecto comum.
Como que a antecipar a passagem do furação, Barack Obama votou antecipadamente, na passada quinta- -feira (25), na sua cidade, Chicago. Foi a primeira vez que um candidato a Presidente votou antes do dia de ir às urnas.
Eleição indirecta
Ao contrário de Moçambique, onde o Presidente é eleito por votação directa, nos Estados Unidos da América os votos são registados e contados e os vencedores anunciados. No entanto, o resultado da votação popular não é garantido, pois o Colégio Eleitoral ainda tem que dar o seu voto.
O Colégio Eleitoral é um mecanismo controverso existente nas eleições presidenciais norte-americanas. Foi criado pelos fundadores da Constituição dos Estados Unidos, surgindo como um acordo para o processo de eleição presidencial. Naquele tempo, alguns políticos acreditavam que o resultado baseado somente na votação popular seria muito imprudente, enquanto outros opunham-se a conceder ao Congresso o poder de escolha do Presidente.
Arranjou-se uma solução de compromisso: estabeleceu- -se um sistema que permitia aos votantes eleger eleitores, que por sua vez iriam então votar nos candidatos. Surgiu então o Colégio Eleitoral. Na maioria das eleições presidenciais, o candidato que vence a votação popular também recebe a maioria dos votos eleitorais, mas nem sempre foi assim. Porém, houve quatro Presidentes que ganharam as eleições porque, embora tivessem recebido menos votos populares que os seus oponentes, obtiveram mais votos eleitorais.
Na história recente, Al Gore foi um desses candidatos que venceu a votação popular e não assumiu a presidência. Em 2000 o democrata obteve 50.992.335 votos a nível nacional e George W. Bush quedou-se pelos 50.445.156 votos. Mas, com a vitória de Bush no Estado da Florida, este candidato obteve um total de 271 votos eleitorais, que derrotaram os 266 votos eleitorais de Gore.
Actualmente, um candidato que receba 270 dos 538 votos eleitorais ganha a eleição. Caso nenhum dos candidatos obtenha a maioria dos votos eleitorais, a decisão é levada ao Congresso em virtude da 12ª Emenda. Este órgão selecciona então o Presidente por maioria de votos. Apesar do empate, ou desvantagem, na sondagens, o Presidente está melhor colocado para conseguir os 270 votos do Colégio Eleitoral que garantem a vitória.
Entretanto, os candidatos estão a investir tudo o que podem na campanha, sendo esta a mais cara de sempre. Para além da “guerra” dos anúncios na televisão, Obama e Romney já têm advogados preparados para eventuais desafios legais relativamente aos procedimentos eleitorais. Ou, lembrando a famosa disputa de 2000, decidida apenas pela Suprema Corte dos Estados Unidos, para lidar com a disputa sobre o resultado da eleição.
*O jornal @Verdade está nos Estados Unidos da América a convite do Centro de Imprensa do Departamento do Estado.