No caminho para casa, de iPod nos ouvidos, deixava que o vento me levasse o cansaço.
Que bom!!!, pensei. Sem nada para fazer, posso fazer o que quiser!!!
Pause no iPod, um telefonema depois e já tinha programa: iria ao teatro com o Manel.
Continuava a caminhada, quando dei por mim a andar mais devagar.
Falta-me alguma coisa…, pensei.
Foi então que a senti aparecer. Bem ao lado do meu ouvido e a abanar como se estivesse pendurada no vento, ali estava ela: a minha folha de pendentes.
Eu sabia!!! Tinhas que ser tu…O que foi agora?
A coluna dos “A Fazer”, sem qualquer ?, à frente ou risco em cima, reclamava tratamento.
– Nãoooo! Hoje não!, pedinchei à minha folha de … (devia dar-lhe um nome… Amélia!!! Não, Amélia não. Essa é a planta lá de casa…Vivian!!!), pedinchei eu a Miss Vivian.
Mas, implacável, Miss Vivian torturava-me com o peso de um assunto inacabado: “Hoje uma pena às costas, amanhã um baú aos ombros!!!”
– CREDO, Vivian!!! Já tenho quilos que me cheguem!!!…Aiiii, se não fosse o prazer de te riscar uma linha para poder passar à próxima…, pensei.
Será que há quem consiga viver bem com a sua Vivian? Será que, um dia, conseguirei acabar de vez com Miss Vivian???
A minha mãe sempre me disse que “uma casa nunca está pronta”! Mas, se a minha vida nunca estará arrumada, para quê ter esta mania das limpezas?
Porque me obriga Miss Vivian a arquivar assuntos, pessoas e episódios, fechá-los em gavetas e ainda a etiquetá-los depois???
Foi então que me apercebi de que era eu quem queria arrumar alguma coisa…
– Teresa, há que acabar com o plano de assassinato de Miss Vivian: vais ter de aprender a lidar com ela!
Nesse momento, ouviram-se as Pancadas de Molière, dobrei Miss Vivian em quatro, guardei-a na carteira e assisti à peça com um dos meus pendentes favoritos.